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Contos-->O HOMEM QUE ODIAVA CÃES -- 04/07/2004 - 20:25 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O HOMEM QUE ODIAVA CÃES
J.B.Xavier

Uma das mais antigas lembranças que tenho de minha infância são as imagens do senhor Petrus, que guardo na memória.

Ele é um alemão muito alto e forte, que veio para meu país após ter lutado na Segunda Grande Guerra. Ele mora numa modesta casa onde há um grande quintal de terra batida. Esticado na parede, logo acima de uma das poltronas, na pequena sala, há o couro de um estranho tipo de cão. Eu nunca vira um cão com aquele tipo de pelo. É um pelo muito estranho. E o bicho tinha três olhos, que sempre me assustaram por pensar no monstro que deveria ter sido quando vivo.

O senhor Petrus se ferira seriamente em combate, na perna, motivo pelo qual mancava, necessitando de uma bengala para se locomover. Ele dizia que o ferimento fora muito sério, e que quase perdera o pé esquerdo, porque sua perna fora quase cortada logo acima do tornozelo. Também seu braço esquerdo fora ferido, por isso ele sempre andava com camisas de mangas compridas, e nos dizia que o ferimento no braço fora feito por uma bala de fuzil, que o transpassara.

Ficávamos todos assustados, olhando para a grossa meia que ele usava constantemente no pé ferido. Nunca nenhum de nós pediu para ver esse ferimento, porque percebíamos que esse assunto era tabu para ele. Mesmo sendo crianças, compreendíamos que o ferimento deveria lhe trazer muitas e dolorosas lembranças.

Umas das coisas que eu mais gostava nele, era o canil que ele mantinha no fundo do seu quintal, onde criava cães de todas as raças, dedicando a todos um afeto comovente.

De vez em quando ele deixava que nós, a petizada da rua onde morava, os alimentássemos e nos divertíssemos com alguns deles.

Na verdade o canil era uma espécie de asilo para cães, porque todos os animais eram velhos. Muitos deles já haviam pertencido a circos, que os doavam a quem os aceitassem, tão logo estivessem velhos demais para trabalhar. Por essa razão, os cães do senhor Petrus sabiam fazer vários truques, o que nos deixava alucinados para brincar com eles.

A rotina da vida do “alemão” era visitar todos os circos que podia, porque sabia que se não adotasse os cães, eles seriam sacrificados.

Nem preciso lhes dizer que de toda a meninada, eu era o que mais admirava o “alemão”. Sempre que os adultos de minha casa me mandavam ao armazém, eu passava na casa dele para perguntar se precisava de algumas compras, porque eu sabia da grande dificuldade que ele tinha para caminhar. Por conta dessa minha gentileza, ele me deixava brincar com seus cães mais tempo do que os outros meninos.

Mas creio que o que mais ficou gravado na memória da criançada, foram as histórias que ele contava.

Eram histórias de heroísmos caninos, de grandes feitos, e, às vezes, ele nos mostrava as fotos dos animais cujos números circenses haviam sido fotografados.

Mas, havia uma história, em especial, que não cansávamos de ouvir. Era a história do homem que odiava cães.

Foi para ouvi-la ainda uma vez, e para que meu filho de oito anos a ouvisse também, que me dirigi à casa do senhor Petrus, depois de muitos anos morando em outro Estado do país.

— Você nunca cansa de ouvir essa história? – perguntou-me ele, depois de me abraçar emocionadamente pela minha repentina visita.

— Ah! Conta de novo, vovô! – papai sempre diz que esta é a historia mais bonita que ele já ouviu...

E era verdade. Por um momento vi-me como um garotinho também, diante daquele simpático velhinho alemão que tornara mágica a minha infância.

Embora a idade já fosse bastante avançada, o senhor Petrus ainda trazia nos olhos o brilho da energia. Seu coração derreteu quando ouviu meu filho pedir, quase implorando.

Ele então nos levou ao seu canil, onde meu filho esbaldou-se com os velhos cães que ele tanto amava.
Depois, sentou-se num banco de madeira que havia sob a antiga pitangueira ao lado do canil, e tomando meu filho no colo, disse:

— Havia um homem...Um soldado, na verdade, que lutou comigo na Segunda Guerra Mundial. Ele era um dos homens mais valentes que eu já conheci. Era um sujeito grandalhão e muito forte, que já havia salvo a vida de muitos de nós e arriscado sua vida muitas vezes. Mas, maior ainda que sua valentia era o seu coração. Ele era uma pessoa muito educada e que fazia amigos rapidamente. Sempre nos dizia que detestava ter que lutar numa guerra e ferir pessoas.

Mesmo assim, apesar de sua grande gentileza, esse homem tinha um defeito: Ele odiava cães! E os odiava do mais fundo do seu coração...

— Como pode alguém odiar cães? – perguntou meu filho.

— Bom, era a pergunta que todos nós fazíamos uns aos outros, mas nunca tivemos coragem de perguntar a ele. Então corriam muitos boatos sobre esse seu ódio. Uns diziam que lobos haviam matado alguém da sua família, numa nevasca onde os bichos vagavam famintos pelas estepes geladas. Outros diziam que seu filho morreu de tristeza após a morte do seu cachorro de estimação, e outros ainda diziam que ele não se conformava de ver gente trocando o amor às pessoas pelo amor aos cães.

— Mas os cães são mesmo melhores do que as pessoas!

— Não diga nunca mais essa tolice! – respondeu o senhor Petrus. Nunca deixe de amar muito as pessoas, não importa o quanto você ame os cães ou qualquer outro animal. Tudo o que vive merece ser amado, mas as pessoas vêm em primeiro lugar. Nunca esqueça disso!

Esta lição eu carreguei para o resto da vida. Ela ficou em minha mente, e bem que eu gostaria de fazer certas pessoas entenderem isso, especialmente aquelas que tratam cães como crianças e crianças como cães.

— Certo dia - continuou o senhor Petrus – eu o vi atirar em dois cãezinhos que estavam fugindo do tiroteio que travávamos para invadir uma vila no interior da França. Ele os fuzilou sem piedade, diante de nossos olhos espantados. Não havia nenhuma razão para matar os animais. Ninguém de nós disse alguma coisa, porque o respeitávamos muito e vários de nós devíamos a ele a própria vida.

— Ele era um homem cruel – disse meu garotinho – e Deus não gosta de homens cruéis...

— Mas Deus ama as pessoas – respondeu o senhor Petrus – e quando se ama pessoas, somos capazes de lhes dar outra chance. Foi o que Deus fez com esse homem cruel.

— O que Deus fez?

— Bom, deve ter sido Deus, porque quem mais amaria alguém tão cruel a ponto de lhe dar uma nova chance de ser feliz? Certo dia em que a neve caía em grande quantidade, estávamos todos muito cansados de tanto caminhar. A guerra já estava perdida, e estávamos sendo perseguidos pelos ingleses, que nos seguiam há dias, e já se encontravam logo atrás de nós, com cães ferozes que nos farejavam e não nos deixavam descansar um só instante.

Precisávamos continuar avançando, mas, de tanto caminhar em marcha forçada durante vários dias, muitos já não conseguiam ir adiante e caíam na neve, vencidos pelo cansaço.

Seguindo as ordens de nosso comandante, nós os deixávamos para trás, pois quase não tínhamos forças sequer para continuar andando. Seus corpos eram rapidamente soterrados pela nevasca, e desapareciam em pouco tempo. .

O homem que odiava cães era o único que se mantinha ao lado do comandante, às vezes ajudando-o a caminhar, pois também ele começava a dar sinais de fraqueza. Rezávamos baixinho para que Deus nos tirasse daquela agonia e não deixasse nosso comandante morrer, porque sem ele, ficaríamos completamente desorientados.

Como o mais forte dentre todos nós, o homem que odiava cães era também o único que ainda tinha alguma energia, e nos animava com sinais de “positivo” porque somente a linguagem dos sinais nos era permitida, para evitar fazer barulho que pudesse revelar aos ingleses onde nos encontrávamos.

Então, em meio à nevasca que gelava nossos corpos, vimos surgir à nossa frente um grande rio, onde a água corria rápida por debaixo de uma fina camada de gelo.

O comandante então nos deu a ordem para que procurássemos um vau. Ele nos disse que nossa única chance era atravessarmos o rio. Ele apontou para uma grande floresta, na outra margem. “Se conseguirmos chegar a ela” – disse ele – “estaremos salvos”.

— O que é “vau”? – perguntou meu garotinho.

— Vau é um trecho de um rio onde se pode atravessar caminhando.

— E vocês conseguiram atravessar?

— Tentamos, meu pequeno, tentamos. Mas encontramos apenas um “vau de cauda” ou seja, um lugar onde tínhamos que atravessar com água pela cintura. Estávamos tão fracos que a água gelada matava quase na hora os que entravam nela, e antes que chagassem ao meio, eram carregados pela correnteza e seguiam boiando até que seus corpos desaparecessem nas brumas esbranquiçadas que subiam das águas, em forma de vapor. No entanto, não tínhamos outra escolha. Ou tentávamos chegar à outra margem, ou seríamos despedaçados pelos cães dos ingleses.

Quando chegou a minha vez, parei, porque sabia que aquelas águas significavam a morte. Mas preferíamos morrer a nos entregarmos aos ingleses, por isso, todos do meu pelotão, inclusive o comandante, tentaram atravessar e foram arrastados pela correnteza, até que na margem só restassem eu e o homem que odiava cães.

“Vamos tentar mais acima” – disse ele – “talvez haja um vau mais raso.”

Dizendo isso, ele me arrastou pela gola do casaco, porque eu já não tinha mais forças, e estava chocado com a morte dos meus amigos.

Não encontramos o vau que procurávamos, e percebi que o homem que odiava cães também estava cansado.

Subimos uma pequena elevação, e quando chegamos ao topo, algo terrível aconteceu. Silenciosamente um lobo solitário que devia estar caçando pelas redondezas, saltou no ar com os dentes afiados prontos para se fecharem na garganta de meu amigo.

. Ele protegeu-se com o braço, e enquanto os dentes o despedaçavam do pulso ao cotovelo, ele sacou sua faca e cravou-a no peito do bicho, matando-o instantaneamente. Não sei de onde ele tirou energia para fazer isso, talvez do ódio que sentia pelos cães.

— Ele matou o lobo? – perguntou meu garoto com os olhos arregalados. Quanto a mim, eu estava um pouco ansioso, porque sabia o que viria a seguir.

— Sim, ele o matou com uma só facada. Mas seu braço ficou muito, muito ferido. Sem ligar para o feio ferimento, ele cortou pedaços do couro do bicho e esfregou seu pelo em nós dois, para que ficássemos com o mesmo cheiro dele. Em seguida enterrou os restos do animal da neve e ajudou-me a me levantar.

Caminhamos alguns passos e, já sem forças, tropeçamos, caindo e rolando encosta abaixo até batermos contra uma pedra e cairmos dentro de um buraco.

Quase perdendo os sentidos, percebi que este lugar não estava tão gelado, e havia muita palha no seu interior. Então vi alguns filhotinhos de lobo ganindo no fundo do buraco, enquanto dois olhos brilhantes nos observavam ronsnando ameaçadoramente. Horrorizado, vi que tínhamos caído numa toca, provavelmente a toca do lobo que meu amigo havia matado. Aqueles olhos de fogo, brilhando na escuridão, deveriam ser da loba que tinha ficado na toca com os filhotes. Compreendi que havia chegado o nosso fim.

“Não se mova!” - Disse ele empunhando a faca. Eu estava quase congelando, por isso nem poderia me mover. Pela fraca luz que vinha da abertura da toca, vi que o ferimento do braço de meu amigo estava muito feio. Felizmente o sangue tinha congelado bem depressa e evitado uma hemorragia.

A loba veio até nós em silêncio, onde se pôs a nos cheirar, com os dentes brancos e afiados à mostra. Então o homem que odiava cães encostou-se na parede do buraco e tombou vagarosamente para o lado. Todo o esforço que havia feito o tinha vencido finalmente. Ele desmaiou.

Meu garotinho parecia hipnotizado pela história, tal como eu ficava em meus tempos de criança.

Fiquei apavorado quando vi a loba farejar seu corpo e ganir baixinho – continuou o senhor Petrus - decerto por reconhecer o cheiro de seu companheiro. Depois ela veio até mim e fez o mesmo. Em seguida afastou-se e foi até os filhotes, onde se deitou de lado, enquanto os bichinhos começaram a mamar nervosamente.

Não sei quanto tempo fiquei assim, fazendo força para não desmaiar ou dormir. Sei que mais tarde vi um grande alarido passar à distância. Eram os ingleses que nos perseguiam. Passaram e foram embora. Depois eu só conseguia ouvir o silêncio e ver o céu pela pequena abertura no alto do buraco.

A noite chegou e o dia amanheceu. Fiquei surpreso por ainda estar vivo. O pouco de calor que havia na toca deve ter evitado que morrêssemos congelados. Olhei para o homem que odiava cães. Ele ainda respirava. Fiquei muito alegre por vê-lo também vivo.

Então, quando vi a loba sair para caçar, porque compreendeu que seu companheiro não retornaria, Levantei e saí do buraco. A neve tinha parado de cair. Puxei meu amigo para fora e tentei arrastá-lo para um amontoado de galhos que havia num ponto distante, mais abaixo, próximo ao rio. Se eu conseguisse chegar até lá atearia fogo aos galhos e poderíamos nos aquecer para valer.

Mas compreendi que eu nunca conseguiria levá-lo àquele ponto. Tentei puxá-lo de todas as maneiras, mas não consegui. Eu estava fraco demais para isso.

De repente, olhei para o lado, e vi a loba, me olhando, completamente imóvel. Era um animal magro, que tentava atravessar o inverno comendo quase nada. Apesar de saber do perigo que eu corria, tive pena do bicho.

Então o homem que odiava cães acordou. Ainda muito fraco, procurou pela faca, ao ver a loba parada perto de nós dois.

“Ele vai nos matar” – disse, após ver que perdera a faca. Num grande esforço, ele tentou sentar-se, mas não conseguiu. Então resolvi agir. Retirei de minha mochila a minha ração de carne seca e dei ao animal. Sem fome ela talvez não nos atacasse. Imediatamente ela apanhou a carne e a levou para a toca. Seus filhotes vinham em primeiro lugar, como para qualquer mãe. Depois de me livrar da loba, tentei arrastar meu amigo rampa abaixo, mas não consegui. Compreendi que ele morreria se fosse deixado ali.

Então a loba retornou. Rodeou-nos por alguns momentos nos quais resolvi ignorá-la e continuei tentando puxar meu amigo pelas pernas. Ele ralhava comigo e me dizia que o deixasse ali e salvasse minha vida. Sem lhe dar ouvidos, eu continuava tentando puxá-lo.

A loba então agarrou meu amigo pelo tornozelo. Ele sequer sentiu dor, porque seus pés estavam quase congelados. Também não tentou se livrar do animal, ou porque não tinha forças para isso, ou porque desistira finalmente de viver.

Mas para minha surpresa, ela não estava tentando devorá-lo, mas apenas tentando puxá-lo em direção à rampa que levava aos galhos lá embaixo. Animei-me e comecei a puxar também, de maneira que conseguimos levar meu amigo até o ponto que eu desejava.

Então ateei fogo aos galhos, e o calor foi aos poucos nos aquecendo e nos devolvendo as forças. Quando eu já me sentia suficientemente forte, fui até ao local onde meu amigo enterrara o lobo. Era carne, e, àquela altura qualquer carne era bem vinda. O homem que odiava cães tentou ir comigo, mas só então vimos os estragos que os dentes da loba haviam feito em sua perna e braço. Aqueles ferimentos exigiam cuidados imediatos, ou gangrenariam e poderiam matá-lo.

Depois de assar a carne na fogueira, começamos a pensar numa maneira de sairmos dali. Durante todo o dia , a loba ia e vinha entre nós e a toca, levando para os seus filhotes os restos de comida que eu lhe dava. Acho que nos tornamos amigos. Acho também que até o homem que odiava cães tornou-se seu amigo, pois não a ameaçava mais, nem lhe dirigia olhares de ódio. Talvez tenha compreendido que ela lhe salvara a vida.

Numa dessas vezes, a loba foi até onde meu amigo estava recostado e começou a lamber-lhe o rosto, talvez por ter sentido mais forte nele o cheiro de seu companheiro.

Neste momento ouvimos um tiro e o animal caiu morto instantaneamente, com a cabeça perfurada. Eram soldados ingleses que nos haviam encontrado e pensaram que a loba nos estava atacando.

— A loba morreu? – perguntou meu garoto...Mas ela não devia morrer...Ela era boazinha, não era?

— Era - disse o senhor Petrus - mas os ingleses não tinham como saber...

— E depois, o que aconteceu?

— Bom, fomos salvos. Depois da guerra cada um de nós seguiu sua vida, eu vim morar aqui e conheci vocês!

— E o homem que odiava cães? Ele continuou odiando eles, mesmo tendo sido salvo por uma loba?

— Bom...Durante o tempo em que ficamos juntos no campo de prisioneiros, ele transformou-se no maior amigo dos cães que eu já conheci.

O velhinho apertou meu filho num abraço e completou:

— Aqui termina a história do homem que odiava cães.

Deixamos meu filho brincando com os cães e, satisfeito por ter ouvido mais uma vez essa incrível história, fui com ele até a sala, onde me serviu um café feito na hora. Sentei-me na poltrona defronte aquela que tinha sobre si, na parede, a pele esticada do cachorro estranho cuja raça eu nunca identificara. Decidi então fazer ao velhinho uma pergunta que nasceu em minha adolescência. Dessas perguntas que vêm com a quebra da magia infantil que a idade adulta quase sempre traz.

— Senhor Petrus, essa história do homem que odiava cães aconteceu de verdade?

O velhinho bebericou seu café e respondeu:

— Depende da fé de cada um, garoto...

Ao levar a xícara à boca, porém ele expôs o braço ferido, onde pude finalmente ver suas cicatrizes. Vi marcas de dentes, como a mordida de um tubarão, indo quase do cotovelo ao pulso. Fiquei chocado com a gravidade do ferimento, e só então percebi que ele usava chinelas e estava sem meias. Certamente porque não esperava visitas. Pude ver as mesmas marcas de dentes em seu tornozelo retorcido e escurecido, como se tivesse sido queimado. Fiquei a olhá-lo fixamente, procurando compreender o que marcas de dentes faziam nos lugares onde deveria haver marcas de ferimentos por projéteis.

Recostei-me na poltrona e fiquei de frente para a pele esticada na parede. Então uma luz tornou claro todos os meus pensamentos. Como eu poderia ter reconhecido o animal da parede? Nunca poderia! Aquilo não era uma pele de um cão estranho com três olhos, era uma pele de lobo – ou melhor, de loba! – com um furo de tiro de fuzil na cabeça!

Abracei o senhor Petrus e chorei copiosamente

* * *




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