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Cartas-->No usinadeletras também se aprende -- 30/06/2001 - 22:06 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje a minha caixa de e-mails estava recheada. Já levo quase três horas elaborando respostas. São normalmente longos e-mails, correspondência literária, a demandar respostas também literárias.

O site literário usinadeletras , além de me oferecer a oportunidade de ter leitores, e também não-leitores naturalmente, me abriu as portas para um mundo que eu desconhecia. Um mundo hoje para mim bem mais vasto do que imaginava, e que se realiza apenas com palavras, numa complicada construção que a cada dia vê o seu projeto renovado, uma torre de babel que quer, se possível, tudo, as alturas mais elevadas, o impensável, sonhos improváveis de quem vive ilhado, cercado de letras por todos os lados, num país praticamente analfabeto.

Uma leitora me perguntava, ainda ontem, como tenho tempo para escrever tanto, admirada certamente com a ponta do iceberg, que é o que aparece publicado no usina . Ela não sabe dos arquivos à espera de revisão, das obras traduzidas que ainda não encontraram editora, inúmeras. Devo ser, talvez, o tradutor que mais retém a sua produção, e por mais tempo. "Teoria da Vanguarda", de Peter Bürger, minha dissertação de mestrado, já está mofando na biblioteca do IEL/UNICAMP e na da FCL/Araraquara desde 1989. Jà não tem era. É do século passado.

O usinadeletras também está me oferecendo a oportunidade de tornar públicos alguns desses meus crimes translatícios. Hoje mesmo, ao digitar o nome de Robert Walser num site de busca, juntamente com algumas poucas traduções espanholas, de fragmentos de obras, ao lado de sites informativos em alemão e uma que outra publicação francesa, fui dar comigo mesmo, com a minha página no usina . Não esperava. Foi um susto. Já me aconteceu uma vez, ao procurar por Peter Handke.

Mas a gente como que se habitua a viver no ineditismo, a não ver o nome e o trabalho mencionado. A vida intelectual, entre nós, sempre foi uma vida vivida às escuras, ou, para falar um português bem claro, fodida e muito mal paga. Deve haver exceções. Mas nem tantas, acredito. E mesmo algumas que conheço, vivem mais de brisa, bazófia, empáfia, brilho fátuo, do que de recompensa à altura do esforço que uma vida intelectual normalmente demanda. E há os dublês, é claro. Há quem faça muito bem o papel de intelectual. E esses, com absoluta certeza, são muito bem pagos. Mas esse é um papo para outra ocasião.

Estou falando das oportunidades que o site literário usinadeletras vem me proporcionando. Como o de ter passado a trocar idéias, por escrito, com muitos pares, com pessoas que fazem o que faço, e que se valorizam fazendo o que fazem, e que, por isso mesmo, também sabem valorizar o trabalho de todos quantos fazem o que fazem. E vão surgindo as idéias comuns, as possíveis parcerias, as trocas de informações fundantes, a reciprocidade crítica que só nos faz engrandecer.

Mas todo esse arrazoado me vem de novo à cabeça, me sai pelos dedos, porque acabo de receber um e-mail de um amigo de muito tempo antes, um colega dos tempos da minha graduação em Assis, o Sérgio Pizzoli, com quem, além de estudar na mesma classe, eu dividi o palco muitas vezes. E a vida. Juntos já fizemos teatro como atores e como diretores, eu compondo a trilha sonora. Juntos criamos um show de variedades, MARGINÁLIA, que marcou época na faculdade em Assis e na região. Juntos vivemos muitas façanhas inesquecíveis.

Pois o e-mail dele como que me adivinha hoje, aqui, "usineiro", empregando o ócio que a carreira universitária me proporciona, como nunca o havia feito antes, com tal intensidade, na leitura e na produção febril de textos literários. Terá razão a leitora que me pergunta onde arranjo tempo para tudo isso. Respondo que para isso sou pago. E com dinheiro público. Digo que o usina me proporciona, entre tantas outras coisas, a oportunidade de verdadeiramente socializar a minha produção intelectual, bancada pelo dinheiro do contribuinte, da choldra, como diria o jornalista Elio Gaspari.

Mas, é claro, estou falando entre pares. Não pretenderia ser interpretado à altura por todos. E nem seria justo, não o faço, cobrar elevação e generosidade. Cada qual vive o seu momento. E responderá por ele. Porque também recebo uma razoável quantidade de e-mails de procedência e intenções duvidosas. Tenho aprendido a não deixar que ocupem espaço no meu espírito. Contorno-os. Tempo e espaço me são hoje, mais do que nunca, preciosos. De há muito me decidi fazer deles o melhor uso que me for dado fazer.

O e-mail do meu amigo Sérgio Pizzoli tinha por título "Poesia é descoberta". A mensagem era um fragmento de um poema de João Cabral de Mello Neto, que o leitor, usineiro como eu, vai ler agora:

____________________________

"Numa usina se aprende
como a carne mastiga o osso.
Se aprende como mãos
amassam a pedra pior.
Na usina se assiste
à dolorosa vitória
do brando sobre o duro,
do grão reduzido a mó.
Numa usina se assiste
à lentíssima vitória
que é a da pedra dura
furada pelo suor."

_____________________________

E tomo a liberdade para transcrever a mensagem que introduzia esse fragmento de "o rio", de 1954:


"meus amigos


talvez porque é sexta, noite, talvez porque as coisas são assim mesmo,
abre-se um livro que se tem há muito e a página aberta faz ler o livro todo.
é prá dividir o momento e louvar joão cabral, por fazer um poema tão dignificante, que nos faz lembrar a ínfima condição do homem, de ser faber e crítico."








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