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Artigos-->Por que ler a Bíblia? (http://pesp.hpg.com.br) -- 08/08/2002 - 10:07 (Penfield Espinosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Este texto tenta responder à pergunta "para que ler a Bíblia nos dias de hoje?" Isto é: tenta-se discutir qual a utilidade de se ler Bíblia, o que alguém hoje ganharia lendo a Bíblia.



A abordagem utilitarista com certeza não é a única, e muitos podem se irritar com essa perspectiva. Contudo, esta é uma estratégia que faz sentido em nossos dias.



Quando se trata da Bíblia, duas perspectivas básicas podem ser adotadas: o ponto de vista de quem crê nela como um livro sagrado, e o ponto de vista de quem não crê, mesmo que nem mesmo seja ateu.



Razões não religiosas para se ler a Bíblia



As razões não religiosas para se ler a Bíblia são fáceis de recordar: em primeiro lugar, ela é um livro muito bem escrito; ou melhor, bem traduzido. As pessoas que o traduziram eram literatos e deram o melhor de si na tradução.



Até mesmo o ponto inverso pode ser adotado: como a Bíblia foi, durante um período de muitos séculos o conjunto de livros mais aceito e lido, pode-se dizer que sua forma literária moldou todas as formas seguintes. Como é um conjunto de textos muito variado, escrito em muitos estilos, nele se pode até mesmo reconhecer estilos modernos. Ou melhor, estilos modernistas; ou seguidos pelo movimento Modernista do começo do século XX.



É possível lembrar de Ezra Pound, grande poeta e crítico de literatura, poesia e cultura. Pound apresentou a noção do que hoje chamaríamos de livro fundador -- apesar de ele não usar essa expressão, ao que me lembre.



De qualquer modo, um livro fundador é um livro sobre qual toda uma civilização (um "império") é construída. Sem dúvida nenhuma, este é o caso da Bíblia. Estes tem sido os séculos americanos, dominados temos sido pelos EUA. Não é difícil lembrar de algum americano comentando que tudo que precisava ler na vida estava na Bíblia.



Mas ainda antes dos americanos, na verdade muito antes, podemos lembrar de grandes problemas sendo discutidos em torno da Bíblia. Por exemplo, não é tão errôneo pensar na polêmica de Martinho Lutero como girando em torno da possibilidade ou não de se ler diretamente a Bíblia em uma língua viva e falada, como o alemão. Não apenas em latim, ou grego clássico -- línguas importantes para a humanidade, mas jã mortas.



Sem muita dificuldade, mesmo a pessoa menos religiosa poderã identificar em si mesmo histórias, conceitos e até mesmo valores vindos da Bíblia. Afinal esta é a chamada civilização judaico-cristã: todos fomos influenciados e talvez até mesmo definidos por textos escritos na Bíblia; incluídos é claro, o Novo e o Velho Testamento. Influenciados direta ou indiretamente.



Uma pequena estória pode iluminar essas idéias.Conta-se que, depois da Segunda Guerra Mundial, a bomba atômica era ainda tema de muita reflexão, medos e notícias de jornal. Afinal, eram os tempos da Guerra Fria, e todo o planeta poderia desaparecer entre uma troca de bombas e outra. Um grupo de repórteres se dirigiu ao filósofo Martin Heidegger para perguntar o que ele pensava sobre a bomba atômica. Surpreendente como os filósofos profundos muitas vezes são, Heidegger perguntou:



-- Mas de qual bomba atômica vocês falam: estas que explodem agora, ou a que explodiu no tempo de Jesus Cristo?



Podemos imaginar as caras de espanto dos repórteres: bomba no começo da Era Cristã? Heidegger então explicou que a bomba atômica de que ele falava era na verdade a frase de Jesus Cristo:



-- Meu reino nã é deste mundo.



Heidegger explicou aos repórteres que esta simples frase era até mesmo revolucionária, pois era diferente de tudo o que todas religiões ocidentais anteriores pregavam, na medida que separavam o espiritual do material. Mesmo sem ter lido a entrevista de Heidegger, pode-se imaginar o que ele quis dizer.



Por exemplo, a partir daí uma pessoa querida porDeus não necessariamente era bem sucedida em termos financeiros, como parece implicar todo o Antigo Testamento. Deus deixa de ser um auxiliar para o sucesso financeiro na Terra: os valores espirituais e éticos passam a ter maior relevo.



E, na medida em que esta frase decreta que o mundo espiritual tenha maior importância que o mundo material, há quem veja que esta simples frase permitiu a poluição indiscriminada que vemos até hoje.



Assim, quem for ocidental e quiser entender a si mesmo, não tem como escapar de ler a Bíblia.



Razões religiosas para se ler a Bíblia



Por incrível que pareça, é mais fácil falar sobre as razões não religiosas para se ler a Bíblia do que sobre as religiosas. Apesar de, naturalmente, a Bíblia ser um livro religioso.



A razão para esta dificuldade é que existem muitas formas de se ler a Bíblia como um livro religioso. Tantas quanto o número de religiões que dizem seguir a Bíblia; sejam elas cristãs ou não. Ao que estou informado, além dos judeus, também os muçulmanos consideram a Bíblia um livro religioso. Apesar de, é claro, o Alcorão ser o livro religioso principal dos muçulmanos.



Para começar a abordar esta questão, dividiremos o problema entre aqueles que acreditam que a Bíblia deve ser lida literalmente, e aqueles que pensamque seu texto deve ser interpretado.



Por que ler a Bíblia literalmente?



É óbvio que quem interpreta a Bíblia literalmente tem de lê-la: ela é a voz de Deus.



Contudo, parecerá estranho notar que justamente quem diz ler a Bíblia literalmente precisa de mais interpretação.



Apesar de paradoxal, a idéia é simples: a Bíblia é um documento complexo, pleno de contradiçães aparentes, e também de contradições reais. Isto é existem contradições aparentes, que se devem ao fato de o autor do texto estar falando de dois ou mais ângulos de um mesmo problema.



Porém, existem contradições que se devem ao fato de diferentes autores terem diferentes visões sobre o mesmo problema. Por exemplo, certos trechos de Moisés dizem que os pães que ficam no templo são sagrados e nã podem ser comidos pelo leigo. Contudo, em uma passagem do Velho Testamento, Davi se serve deles. Esta contradição e mais outras são exploradas por Jesus Cristo, no Novo Testamento.



Para sanar os dois tipos de contradição, o leitor literal da Bíblia deve recorrer a alguém que a interprete, seja ele um pastor, uma pessoa mais experiente, eventualmente chamado um ancião; ou até mesmo a livros.



Por que ler a Bíblia se ela deve ser interpretada?



Porque deve ler a Bíblia uma pessoa que crê a Bíblia deva ser interpretada para que se torne legível de acordo com sua visão teológica?



Esta questão foi proposta pelo polêmico colunista Carlos Imbassahy, do prestigioso Jornal Espírita. Ele afirmou que não era necessário que um espírita lesse o Evangelho, outro nome para Novo Testamento, pois tudo que era necessário saber já estava no texto "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, fundador da doutrina Espírita como a entendemos hoje.



Na verdade, em vez de fazer uma proposta, Imbassahy retratou uma situação: são poucos, muito poucos os espíritas que lêem a Bíblia. Provavelmente são apenas aqueles que vieram de religiões que lêem a Bíblia com freqüência, como os chamados "evangélicos". Sem falar, é claro, de pessoas que tiveram algum tipo de interesse pelo assunto.



É inegável que é muito mais fácil entender os textos de Kardec, escritos no francês claro do século 19 do que os textos escritos em estilo oriental do Novo e (mais ainda) do Velho Testamento, plenos de metáforas, paradoxos e imagens para os iniciados.



Para reforçar este parágrafo, pensemos em dois pontos: no mesmo século 19, era um dito popular "o que não é claro, não é francés". A língua francesa tinha sido esculpida por escritores donos de estilo muito elegante e claro; além disso, nofinal do século 19 todo o pensamento francés se encaminhava para a clareza, a racionalidade e a ciência -- eram os tempos do positivismo. Neste sentido, o Espiritismo de Allan Kardec pode ser visto como um esforço de trazer o chamado sobrenatural às luzes da racionalidade, tornando-o "natural".



Outro ponto é que, interrogado por seus discícipulo, Jesus claramente confirma o uso de linguagem cifrada nas parábolas, informando que apenas iniciados poderiam compreendê-las. De fato, algumas dessas metáforas dão grande trabalho a Allan Kardec, quando pretende traduzi-las para uma linguagem mais moderna.



De fato, é muito mais simples para um espírita ler o "Evangelho Segundo o Espiritismo" do que ler diretamente os Evangelhos; é muito mais difícil para um católico ler os Evangelhos do que ouvir os sermões dos padres ou ler publicações católicas sobre eles. Sem querer fazer uma provocação, pode-se dizer também que é mais fácil ao evangélico pensar no que leu da Bíblia apenas pelas palavras do pastor ou do ancião.



Contudo, vale uma analogia: o filósofo Sócrates, quando morreu, não deixou nada escrito. Para conhecer seu pensamento, é necessãrio ler o que seu discípulo Platão transcreveu de seus relatos verbais. Porém, por melhor que Platão tenha entendido as idéias de Sócrates, Platão apresenta Sócrates apenas quanto ao ponto de vista da filosofia. Para conhecer outros ângulos da personalidade de Sócrates, seria interessante saber de outros relatos sobre Sócrates. Infelizmente, pouca coisa restou da grande época de Sócrates. Assim, quem quiser saber mais sobre Sócrates, deve ler também peças teatrais, como "As Nuvens", que na verdade satirizam o pensamento de Sócrates. São como um espelho torto, mas afinal nelas se refletem ângulos que os trabalhos de Platão não mostram.



Creio que um raciocínio anãlogo é válido sobre as idéias e a personalidade de Jesus Cristo. Por mais que algum intérprete apresente de modo claro e fiel a esssência do que Jesus falou, é enriquecedor ver como seus contemporâneos, os autores dos Evangelhos o viam. Afinal de contas, alguns desses evangelistas (como João), tiveram contato direto com Jesus, e ouviram pessoalmente suas palavras. Outros, apesar de não o conhecerem pessoalmente, puderam ouvir os depoimentos de pessoas que o conheceram. Enfim, direta ou indiretamente foram muito mais íntimos de Jesus do que qualquer intérprete posterior seu.



É difícil interpretar o que disseram os evangelistas, devido ao chamado estilo oriental dos Evangelhos, pleno de metáforas, paradoxos e parábolas. Contudo, eles permitem entrever mais um pouco do que disse Jesus, pelo ângulo das pessoas que conviveram diretamente com ele. E que foram transformadas por suas palavras, como toda a civilização ocidental depois dele.



Existe sem dúvida, a possibilidade de nossa leitura direta de um texto tão complexo quanto os Evangelhos possa causar interpretações discordantes da visão teológica que aceitamos. Ou ainda, que essa leitura nos cause muitas dúvidas, de tal modo que percamos nossa fé.



Contudo, melhor ter essas dúvidas e saná-las discutindo com nossos correligionários, do que vendar nossos próprios olhos para não tê-las.



Um lema espírita, proposto por Allan Kardec, pode ser aplicado, -- e deve sê-lo -- a todas as religiões:



-- Fê inquebrantável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade.



Não advogamos um intelectualismo que não contemple a sensibilidade e os sentimentos. O que se quer dizer é que a razão também é parte do ser humano, e também foi criada por Deus. Por isso, não deve ser alijada da experiência religiosa. Todos, e em particular os católicos, devem se lembrar que houve na Idade Média propostas de alijar a razão da experiência religiosa. Por exemplo, o famoso credo quia absurdo, ou "creio porque é absurdo". E sabe-se no que deu o fanatismo resultante desse alijamento...
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