Eu que sempre uso uma couraça,
Vestimenta dura contra o amor,
Vi-me desnudo no ar frio da noite.
Perdendo os sentidos, numa única direção.
Era inútil então tentar me vestir em seda
Retalho do que fosse de qualquer pano sem interesse.
O amor agasalha a alma, mas tão justo no peito,
Sendo tão grande o aperto
Que é difícil saber ao certo
Se o amor é ter ganhado o valor de alguém
Ou perdido a fé, que em si, se tem.
Aquela couraça é mortalha
A quem morreu de desamor.
Minha vontade é ter algo que valha
Tanto, quanto essa vida de dissabor.
Minha tristeza é querer que caia
Uma chuva no meu peito e saia
Num barco, meu coração inundado,
Da paixão que lhe fez naufragado.
E tudo sempre posto a desbravar-se.
Alvoroço inquieto...
A sedução sonora argumentando sem razão
A minha visão acomoda
Naquela pálida e macia cútis
E é silêncio minha agrura
Meu tormento, este anseio movediço,
Que arrepia meu viço
E interpreta minha alma
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