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cronicas-->CARTAS ENDEREÇADAS A NINGUÉM -- 01/08/2003 - 05:59 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Marcos selecionava cartas.
Algo vinha intrigando-o porque todas as quartas chegavam umas cartas diferentes. Nelas não havia destinatário, remetente. Eram envelopes bonitos... e ausência de caracteres na parte externa.
Elas vinham seladas de maneira simples.
Ele as separava e guardava. Já havia cerca de vinte cartas. Desejava abri-las, mas achava um sacrilégio ler algo que não lhe pertencia.
Mas pertenciam a quem? Se não estavam endereçadas a ninguém...
A ninguém contava. Era o seu segredo aquelas cartas.
O que conteriam? O quê?
A curiosidade aumentava... mas não lhe pertenciam.
Vigésima primeira. Neste dia Marcos havia acordado "com a macaca". Levou bronca do chefe, brigou com a namorada por telefone, quase atropelou um cachorro, não achou vaga no lugar costumeiro. Ainda por cima estava chovendo e molhou-se todo.
Abriria as cartas na hora do almoço. Abriria a primeira. Ele as havia numerado.
Ele se dirigiu ao armário destinado a guardar seus pertences e pegou a primeira. Decidiu-se a lê-las e quem sabe assim a raiva passaria.
Foi almoçar só, claro! Como poderia ler acompanhado do chato do Pedro?
A carta parecia lhe queimar nas mãos, mas leria, claro que sim. Havia decidido.
Com a ajuda de um estilete abriu o envelope e encontrou em seu interior um papel rosa.
Uma letra minúscula, delicada... um poema lindo. Era só o que continha.
As palavras do poema ficaram-lhe na cabeça. Era letra feminina e todos os versos eram femininos e suaves.
O papel possuía um perfume bem gostosinho.
Guardou-a e voltou a trabalhar sentindo-se leve. Quem escreveria algo tão lindo? E por que os enviava a ninguém?
À tarde resolveu levar as cartas consigo. As leria todas. Todas.
Chegando em casa mal jantou trancou-se no quarto. A segunda estava escrita num suave papel amarelo. Outro poema.
Um tanto mais quente, mas igualmente feminino.
Seu sangue ferveu e abriu a terceira.
O papel era branco e só uma palavra estava escrita: amor.
Foi abrindo-as e em todas estavam escritos lindos poemas carregados de emoção. Falavam de amor, paixão, desejo, sedução...
Na décima sétima carta havia um poema tão carregado de sensualidade que ele estremeceu de desejo.
Na décima oitava estava escrito: amo você e ainda não sabe disso.
Na décima nona só havia um coração. Na vigésima havia um poema erótico. Este estava escrito de uma forma que o levou às nuvens...
Quem seria? Quem escreveria com tanta sensibilidade e calor?
A última ele esperou um tempo para abrir.
Segurou-a nas mãos.
Poderia estar nela a resposta?
Rolou-a de mão a mão e a mãe o chamou.
─ A Lú chegou.
─ Diga que já vou.
Guardou as cartas no fundo de uma gaveta, sob as camisetas.
Namorou um tanto sem vontade naquela noite e não sentiu nem mesmo disposição para continuar a discussão da manhã.
Ela não entenderia mesmo. A Lú quando empacava!
Sentiu alívio quando ela se foi.
─ Por que não se separam?
─ Não dá para continuar a namorá-la mãe. Não é a mulher que eu desejo para minha vida.
Correu ao quarto e abriu a última carta.
É lógico que "ela" se identificava nela.
"Marcos...
eu sou a Márcia. Trabalho no prédio ao lado do correio e todos os dias o vejo. Eu me apaixonei, mas sei que já tem uma namorada. Desculpe a forma que estou tentando chegar até você".
Márcia? Que Márcia seria esta?
Pensou, repensou e nada.
No dia seguinte prestou atenção a cada moça que entrava no prédio ao lado. Uma moça loira, linda, com um sorriso que ia de uma orelha a outra lhe chamou a atenção. Ela estava dentro de um carro que estacionara cuidadosamente. Um senhor grisalho a beijava carinhosamente.
─ Cuide-se minha filha! Márcia... não esqueça esta pasta querida.
Ele a viu pegar umas muletas no banco de trás e com a ajuda do senhor que a acompanhava descer do carro. Ficou a olhá-la e então pode notar que ela tinha uma das pernas defeituosa.
Aquele rosto lindo, o sorriso, a voz doce e aquele aleijão o tocaram.
Seria a Márcia das cartas? Só podia ser... podia perguntar...
Ela o olhou demoradamente nos olhos e Marcos teve a resposta antes que a pergunta fosse feita.
Era ela.
Entrou no prédio dos correios com uma certeza dentro de si. Às quartas-feiras não chegariam mais aquelas cartas...
Trabalhou o dia todo com a cabeça nas nuvens...
Pensou em Lú, tão bonita, porém tão vazia. Pensou no futuro com uma mulher como ela. Pensou nas cartas, no que continham aqueles envelopes. Márcia sim era capaz de amar... Márcia tinha dentro de si o calor que ele buscava numa mulher.
Terminaria o namoro com Lú e pediria para que Márcia o aceitasse como namorado. Ela o amara em silêncio... claro que o aceitaria!
─ Mãe, encontrei...
─ O que encontrou meu filho?
─ A mulher de minha vida.
─ Onde a encontrou?
─ Numas cartas... endereçadas a ninguém...



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