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Cordel-->A Arte do Cordel - BARBOZA LEITE - Ed. Pedro Marcilio -- 26/01/2008 - 07:10 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Arte do Cordel


Vamos puxar o cordel
enquanto se pode puxar
a abelha só faz mel
se tem pólen pra sugar
e é preciso esvoaçar
e escolhendo cada flor
como quem busca um amor
assim também vamos indo
com as rimas construindo
de estrofes uma flor

Flor que o coração oferta
e que a mente cultiva
flor que o sol traz aberta
nas cores que a luz aviva
e tomam a visão cativa
o cordel singrou a história
como âncora da memória
mergulhando em muitos mares
inscrevendo-se nos ares
e entre o amor e a glória

Reportando-se ao real
mas curtindo a ficção
sem encontrar um rival
pelas sendas do sertão
cultivando a tradição
das estórias espantosas
das lendas maravilhosas
o cordel é língua viva
que a mão do homem ativa
em busca da perfeição


No formato não é grande
no entanto em substância
sua força se expande
vencendo qualquer distância
e conforme a circunstância
o cordel ganha extensão
ilumina a escuridão
rasga no ermo um caminho
se transforma num carinho
às vezes uma oração

Se a perfeição é o alcance
que o homem tende a seguir
livrando-se dos rudes lances
que a ele possa ferir
e o seu valor destruir
se a liberdade é um dom
que a música traduz no som
o pintor em suas cores
o jardineiro com flores
para o cordel isso é bom.

Como é bom o pão haver
na mesa do precisado
ninguém mais precisa ver
um menor abandonado
um homem desempregado
tudo em paz e progresso
jamais havendo recesso
o direito não se omitindo
e o dever se cumprindo
– como sempre a Deus eu peço.


Dos homens alteie-se a voz
se for justo discutir
como faz o rio na foz
quando ao mar quer invadir
as águas querendo unir
do cordel esta é a missão
trazida lá do sertão
para mostrar à cidade
que só há prosperidade
através da união

Construções descomunais
pode o homem executar
nos vôos espaciais
em pássaro até se tornar
o infinito alcançar
mas na ânsia de amplidão
mantém sempre os pés no chão
tendo nele que plantar
boas culturas cultivar
para a sua alimentação

É que sendo o homem feito
de partes de minerais
não encontra outro jeito
de substituir os sais
que lhe são essenciais
e que da terra ainda extrai
e são sua mãe e seu pai
formando o seu organismo
dando-lhe forma e dinamismo
- do contrário a casa cai


Melhor coisa não existe
do que paz e harmonia
se a vaidade persiste
surge logo a hipocrisia
vizinha da covardia
cujo efeito, se cresce
o amor desaparece
surge a maledicência
caminho da violência
que ao coração entristece

Dizem que a voz do povo
é igual à voz de Deus
da galinha nasce o ovo
do ovo os pintinhos seus
se estes versos são meus
dos leitores também são
quem aperta a minha mão
merece ser me amigo
e por isso que eu digo
o bom mesmo é a união

Abaixo com o malquerer
vamos todos querer bem
manda o bom proceder
não fazer mal a ninguém
e é assim que convém
pra sempre haver harmonia
reinar sempre a alegria
havendo sinceridade
desaparece a maldade
e com ela a hipocrisia


O cordel é uma arte
cheia de emoção
o poeta se reparte
com todos na multidão
procurando a tradução
do que vê e observa
um poeta não se enerva
quando não acha uma rima
o seu trabalho ele estima
se desliza na esteira
“ levanta a poeira
e dá a volta por cima “

Cantadores conhecidos
repentistas inspirados
agora e em tempos idos
têm o cordel usado
para deixar explicados
com o tirocínio profundo
aspectos vários do mundo
nos mistérios penetrando
o valor às coisa dando
com seu talento fecundo

Pode o cordel abordar
estilos bem diferentes
os ritmos modificar
em tramas absorvente
às vezes ele é candente
como pode ser satírico
religioso ou lírico
que sua força comunica
às coisas que a vida implica
um sentido magnífico


Aborda o cordel costumes
ou problemas sociais
pilhas e pilhas de volumes
formariam catedrais
esculturas colossais
se o que já foi publicado
fosse tudo organizado
e posto em exposição
para se ter a noção
do índice já alcançado

De tantos folhetos impressos
de tantas estórias contadas
em quatro, sete ou dez versos
de estrofes bem rimadas
léguas e léguas de estrada
poderiam ser cobertas
sem as páginas estarem abertas
dos cordéis mais conhecidos
de autores escolhidos
- se as minhas contas’tão certas

De Martins de Athayde
que João o é esse artista
a minha pena incide
em Abraão, também Batista
e assim começo a lista
de muitos versejadores
todos no ofício doutores
como João de Cristo Rei
justamente como eu sei
que do cordel são cultores


João Melquíades Ferreira
Paulo Teixeira de Souza
que de nenhuma maneira
contestar-lhes ninguém ousa
o valor neles repousa
tem dos Santos — o Azulão
de prenome João José
toda uma turma de fé
na arte da versejação

José Pedro Pontual
com José Pacheco concorre
neste páreo original
onde quem perde, morre
e enquanto a veia escorre
a inspiração conduzindo
José Cordeiro incluindo
Enoque José Maria
participa da porfia
a corrida prosseguindo

Aderaldo e sua rabeca
eu ouvi com atenção
o meu verso lhe hipoteca
pela grata recordação
respeito e até devoção
que a Sinfrônio estendo
agora que compreendo
os causos que eles contavam
e minha infância alegravam
- são glória a que me rendo


Entre os novos e os antigos
um jardim forma-se de roseira
conhecidos ou amigos
como Flavio Fernandes Moreira
citá-los é a maneira
mais justa que eu sinto
José Borges, Osório Pinto
Joel Rosquinha ou João Vicente
qualquer deles excelente
- digo a verdade, não minto

Ao lado de Manuel Mauro
vem Severino Milanês
depressa um jogo instauro
se surgir mais um freguês
que exija a sua vez
de Manoel Caboclo citar
para a corrida animar
João Severiano Lima
surge pra fechar a rima
num galope a beira-mar

João Batista de Sena
logo também se aproxima
corre mais a minha pena
o verso meu se anima
se a inspiração vem de cima
o negócio é prosseguir
José Bernardo incluir
enquanto a veia não estoura
Moisés Matias de Moura
aos outros preciso unir


Para mais verdade ainda
do que foi mencionado
nesta lista quase infinda
de folhetos versejados
mais autores destacados
foi citar neste instante
tem Rodolfo Cavalcanti
Leandro Gomes de Barro
segue em frente o meu carro
pois artista os há bastante

Vamos pegar na corrida
ainda Alipio dos Santos
esta turma destemida
vem de todos os cantos
na rima se me ataranto
chamo Franklin Machado
pra não ficar emperrado
chamo Jerônimo Soares
da terra do céu dos mares
todos são solicitados

Pois nessa gente me amarro
Osório Peixoto citando
e ainda Jota Barros
e outros que vão chegando
o que sei vou anotando
desses cantores de feira
como Inácio da Catingueira
que foi cantador famoso
um poeta imaginoso
que jamais disse uma asneira



Para encher os horizontes
de um imenso patrimônio
que tem José Alves Pontes
como tem Gildo Antônio
e nos deu mestre Sinfrônio
e o autor fabuloso
de “ O Pavão Misterioso”
Caetano Gomes da Silva
cujo fôlego e repentiva
tornaram-no vitorioso

Pinto de Souza, Arlindo
também do verso afamado
permite-me ir prosseguindo
neste ligeiro apanhado
em que sou gratificado
Vicente de Paula citando
a lista mais aumentando
com Vicente Vitorino
enquanto a viola afino
outros nomes procurando

Cisco Torres, Heleno
versejador desde cedo
não é um cantor pequeno
garanto isso sem medo
e agora Nertan Macedo
escritor de renomada
percorre a sutil estrada
do cordel como expressão
que honra nossa Nação
nesta hora bem chegada


Quando silêncio é jogado
pro alto feito pipoca
poeta não é condenado
pra viver sempre na toca
feito índio na maloca
poeta tem que viver
e como gente aparecer
ligado a qualquer questão
que a cultura da Nação
concorra pra soerguer

A impressa esclarecida
ao cordel vem apoiando
uma turma decidida
a verdade demonstrando
os poetas divulgando
para ao povo esclarecer
e ao cordel prover
como boa literatura
espelho de um cultura
que não pode perecer

Retratando o folclore
mostrando a alma do povo
havendo que colabore
céus e terra eu movo
os empecilhos removo
qualquer fera eu estraçalho
na briga não me atrapalho
me transformo em furacão
nos golpes da minha mão
pelo cordel eu não falho


Faço do verso cantiga
é meu escudo e papel
não escolho forme de briga
na defesa do cordel
de estrelas faço um dossel
onde o possa ninar
o seu calor conservar
mantendo sua inocência
contra qualquer inclemência
que o queira exterminar

Salve estória gigantes
de monarcas e princesas
Salve jóias e brilhantes
Salve o pão sempre na mesa
Salve o dom da franqueza
folhetos e folheteiros
Salve irmão brasileiros
que vivem da poesia
que inventam a alegria
e da paz são mensageiros

Cantadores e repentistas
tocando viola ou não
célebres folhetinistas
da quadra até o quadrão
para eles louvação
e um prêmio merecido
pelo amor exercido
contando suas estórias
em noites fias sem glórias.
Vejam se estou certo ou não.
Se merecer reprovação
me batam de palmatória.


Estudei geografia
fui premiado em pintura
faço música e poesia
no desenho e na escultura
exponho a minha ternura
também faço reportagens
qualquer forma de mensagem
roteiro para cinema
teatro cenários poemas
compõem a minha bagagem

Ao que faço dedico
esforço para criar
sentido ao qual me aplico
querendo sempre acertar
minha luta ocupar
com aspectos positivos
que me conservam ativo
lutando contra moinhos
abrindo novos caminhos
no processo criativo

Daí a resolução
de ao cordel abraçar
como meio ou solução
para poder abordar
e se puder ampliar
o meu raio de ação
tendo a comunicação
como meta a atingir
pela educação influir
no progresso da Nação


Pois o progresso, como entendo
impõe muita seriedade
é ouvindo falando e vendo
que se aprende o que é verdade
alcançando a qualidade
que o cordel deve expor
para as barreiras transpor
e ganhar a liberdade
vencer a iniqüidade
e da paz sempre dispor

Mas nem tudo são flores
no caminho dos poetas
da rima certos cultores
da forma grandes estetas
perseguindo duras metas
quando tentam a expansão
que consiste na razão
de seus contos versejados
colocando nos mercados
os frutos da inspiração

Uma coisa que acontece
com os poetas de cordel
e que muita gente esquece
é que às vezes até bacharel
bebe do mesmo fel
que outro seu companheiro
de cordel um folheteiro
vendendo sua produção
para ter alimentação
a casa de um brasileiro


Pois que se verifica
ainda neste país
e bastante prejudica
e torna um poeta infeliz
porque à Lei contradiz
e haver perseguição
a quem faz seu ganha-pão
dos versos que oferece
se o fiscal lhe põe a mão

Quase sempre o “seu“ fiscal
interpreta diferente
e dá logo um sinal
pro poeta ir em frente
nunca é condescendente
se o poeta replica
sua condição explica
demonstrando que o verso
é seu único universo
- o fiscal a multa aplica

Preciso é com urgência
que um movimento se faça
combatendo a impertinência
que a ignorância traça
contra a beleza e a graça
que no cordel se contém
quando ao mal opõe o bem
e à morte opõe a vida
na mensagem mais sentida
que ao poeta convém


Catadores e repentistas
de viola ou de pandeiro
consumados artistas
de profissão folheteiros
pujilo de brasileiros
que até de pé no chão
carregam no coração
pela Pátria um grande amor
alma cheia de calor
e respeito à tradição

A hora chegada é esta
de cantar nossa canção
de transformar numa festa
o valor da união
e mostrar que a inspiração
que no cordel se exprime
dos males todos redime
a quem transforme em alegria
pela voz da poesia
toda dor que lhe oprime

O melhor remédio achado
não é a resignação
mas se ficar afobado
o homem perde a razão
e acaba na contra-mão
eu não sou porque se aceite
qualquer forma de enfeite
pretexto de solução
para esta exposição
que faz o Barboza Leite

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