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Teses_Monologos-->A teoria do cagalhão -- 25/05/2001 - 22:15 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ao prof. Antonio Cândido.
Aos alunos do prof. Antonio Cândido.
Aos alunos dos alunos do prof. Antonio Cândido.
Aos alunos dos alunos dos alunos e, de repente, aos que agora vão ter de comandar este
"acabou-se o que já não era doce".

_________________

Silêncio. Uma idéia de universidade está morrendo. Já houve um tempo de sonhos. É chegada a era dos pesadelos (muito mal) administrados.

Os alunos dos alunos dos alunos do professor Antonio Cândido já não poderão sonhar, tão cedo, e mesmo porque já nem teriam competência para tal e tanto, com teses a ostentar o título jocoso de "Deus e sua época", uma das piadas típicas e impagáveis do mestre de todos os mestres, em suas concorridas palestras.

Já houve um tempo de sonhos. É chegada a hora dos pesadelos aritméticos. Prazos. Números. Produtividade?

Sim, estive presente a várias dessas palestras do prof. Antonio Cândido. E, é preciso que se diga, por muito pouco não fui também aluno do prof. Antonio Cândido. Ao chegar em Assis, nos idos de 1969, ainda havia ali sinais de sua luminosa passagem.

A última dessas palestras de que tenho notícia, na Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, provocou um tal frisson, que estudantes de Ciências Sociais passaram a disputar, literalmente a tapa, um privilégio que, ao que constava, estaria reservado aos de Letras, num momento em que o anfiteatro definitivamente se revelava acanhado demais para abrigar as multidões universitárias de hoje, vorazes, sedentas de corifeus, gurus, modelos, ideais, influências, biografias, bibliografias, fotografias, autógrafos e, se sobrar um tempinho, algum saber.

Sugestão para uma tese: "Antonio Cândido e sua época".

Sim, eu fui aluno dos alunos do prof. Antonio Cândido. Faço, hoje, o impossível, para que os alunos não se sintam alunos dos alunos do prof. Antonio Cândido.

Sim, vi engalfinharem-se os alunos do prof. Antonio Cândido, a ver quem teria sido mais aluno do prof. Antonio Cândido. Eles que souberam, a tempo e a dedo, escolher aqueles que seriam os alunos dos alunos do prof. Antonio Cândido. Não fui escolhido e, por isso mesmo, lhes devo uma gratidão mais do que eterna.

Têm muita sorte os meus alunos, porque eu tive sorte, e muita. Fui aluno, sobretudo, de marginais e poetas como Uilcon Pereira e Décio Pignatari, para citar dois exemplos grandiosos, que foram, mas souberam não ficar sendo os alunos do prof. Antonio Cândido. Como fui aluno de muitos outros ilustres desconhecidos. Como pude dividir, produtivamente, o meu anonimato com muita gente talentosa e brilhante. Como pude me aproximar de uma multidão de estudiosos, que não foram alunos, e nem alunos dos alunos do prof. Antonio Cândido.

Nos meus tempos de mestrado, na UNICAMP, difundia-se - à boca pequena, é claro - a "teoria do cagalhão", segundo a qual, a nós, os indesejados, os que não seriam escolhidos, só nos restariam as tarefas por assim dizer menores na seara dos estudos literários, qual seja, a de seguir catando, paciente e dedicamente, o que ainda sobejava da digestão de mesa, reza a lenda, outrora tão lauta.

Mas lamento não ter sido, como o foram os alunos do prof. Antonio Cândido, discípulos - e isso fica bem evidente à leitura do que estes perpetraram - de Otto Maria Carpeaux e de Anatol Rosenfeld. O que eles fizeram pela cultura brasileira só não fica mais evidente porque a defasagem cultural, para seu uso e abuso, ainda faz por preservar as dimensões de um abismo. Intransponível?

Gostaria de encerrar este meu apanhado de reminiscências, um pouco ao acaso, com a citação de um belo minipoema de Bertolt Brecht. São dois versos muito sugestivos. E decididamente indigestos. Com eles, invariavelmente, trato de iniciar os meus cursos e as minhas palestras:

"Tive maus professores.
Foi uma boa escola."

Citá-los é, também, uma forma de me manter atento às reflexões, muitas, e tão elucidativas, que eles continuam a suscitar ao longo desses anos todos.

À grande mestra que foi Wilma Rodrigues, fomentadora anônima de tantos grandes empreendimentos, em especial os eminentemente poéticos, ela que sugeria sempre a palavra "experimentos", quando se tratava de dar títulos às várias secções de uma revista que mantínhamos como alunos de alemão, o recado de que ainda continuo fiel a essa sua como que ressalva. Sigo experimentando. De tudo, um pouco. Os textos que traduzo e os que cometo, todos eles, são ensaios, são experimentos, sempre. Assim, como ela queria, prosseguem as humanidades, apesar de todos os nossos humanos tropeços.

E um dia, com mais vagar, ainda volto à "teoria do cagalhão".

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