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Contos-->O amor de Genésio e Gertrudes -- 18/06/2004 - 07:04 (Manoel Carlos Pinheiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O amor de Genésio e Gertrudes


Genésio era um cabra macho da gota serena.
Capaz de mamar em onça.
Casou com Gertrudes, filha do Coronel Justino.

Dizem que, se o Coronel tivesse costume de cangaceiro, teria que lixar o cabo do rifle e começar a dar novos riscos.

Genésio se aproximar de Gertrudes já assombrou a cidadezinha.
Mas foi a prova que precisava.
Desde cedo começou a ser afamado, sem muito procurar.
Farofeiro nunca foi.
De sua boca, jamais saiu pabulagem.
Mas na hora do vamu-vê, ôooxe!
Ligeiro que só pé de besta nova.
E sangrador.

Com respeito e destemor, enfrentou o Coronel.
Até que foi uma conversa dentro dos conformes.
Na medida do possível, cada um mais grosso que parede de igreja.

Ninguém imagina como um começou a espreitar o outro.
Ele, o cão chupando manga.
Quieto, mas valente.
Com as mulheres, respeitador, mas jeitoso.
Trabalhador, mas farrista.

Ela, prendada.
Rendeira maior, de bilro a renascença.
Cozinheira de mão cheia.
Encantava no acordeom - nome besta dado à sanfona.
Lia sem gaguejar.
Não apenas missal e cordel.
Livro de verdade, poesia, romance.
Até mesmo em outras línguas; é o que dizem.

Ela, também, tinhosa.
Nem mesmo para o Coronel abaixava o olhar.
Montadora de burro brabo, campeã de vaquejada.
Sabedora de que a Primeira Dama de um estado dava no Governador com toalha molhada, exclamou:
- Ôxe! Só se não tivesse vara de cipó de aroeira. Um lanho para cada quenga!

Ao todo, um sonho em forma de mulher.
Sabida, bonita, altiva e prendada.

Namoro e noivado curtos.
Sugestão do próprio Coronel Justino.
Evitaria inconvenientes intimidades.
E foi uma saída honrosa para o Coronel.
Ninguém, nem mesmo ele, seria capaz de enfrentar aquele casal.

O casamento foi um festão.
Uns avaliaram a grandiosidade pelo número de cabeças abatidas.
Outros pelo número de carros chegados à cidadezinha.
Até no jornal da capital foi noticiado.

Durante três dias a cidade inteira festejou.
Pelas ruas, mistura de festa junina com carnaval, vaquejada e pastoril, cantoria e bambelô.
Emendando noite com dia.
Por toda parte, pipoco de roqueira, estrondo de reiúna.

Os irmãos Araújo, cada qual com sua orquestra.
Severino, mais famoso, veio do Rio de Janeiro.
Reorganizou a Natambijara.
Do Recife, família Madureira e Quinteto Violado.
Teve Coco de Mané Dotô.
Zabumba de Norato, com quatro pífanos.
Cantadores, os melhores, Zé Castor, irmãos Batista Patriota (Lourival, Dimas e Otacílio), Beija-flor, Treme Terra, Oliveira, Ivanildo Vilanova...
No dia seguinte, até cordel já registrava o evento.
Não era para menos.

Foram morar numa fazenda, só deles.
Na primeira vez que voltaram à cidade, ficaram na casa do Coronel Justino.
Ninguém esperava, mas sucedeu.
Genésio se meteu na farra.

Quem, na cidade inteira, havia de dormir?
Luzes apagadas, janelas fechadas, fuxiqueiras nos postigos.
Silêncio sepulcral.

Alta madrugada de lua cheia.
Ecoa o som do trotar de Corisco.
Baio vistoso e fogoso, conhecedor do caminho.
A pé, passos trôpegos, Genésio certamente cairia.
Duma sela, jamais.

Concomitante à chegada de Corisco, a porta se abriu.
Gertrudes, vassoura na mão, carrancuda.
Andar lento e determinado em direção ao ébrio marido.
Ainda do alto de Corisco, Genésio exclamou:
- Minha Flor, amor da minha vida, vai varrer o terreiro ou passear pelos ares?
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