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Erotico-->9. ADEUS EMPREGO -- 15/09/2003 - 08:44 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Simões não teve paciência de esperar até o ano seguinte. Na mesma semana em que prometera o cargo da diretoria ao Plínio, simplesmente, abandonou a vida: infarto do miocárdio, sem mais nem menos.

Pedro Otávio foi apanhado de surpresa e mal teve uma hora para preparar a recepção do espírito do protegido, na companhia da esposa deste, a qual veio de longe, precisando deixar um substituto a cuidar dos enfermos sob sua responsabilidade.

Gostaríamos de oferecer descrição completa do desligamento carnal, desde o último suspiro até o despertar no etéreo. Mas tais relatos são muito comuns e o trespasse de Simões não fugiu às regras. Tendo feito o bem na vida, tendo ajudado muitas pessoas, não se tendo interessado em manter-se usurário, foi considerado pelo povo que o recebeu alma benemérita, como sói acontecer entre os mortais a quantas pessoas “batem as botas”.

Pedro Otávio recordou-se da íntima intenção de Simões, que pretendia prosseguir trabalhando, e fez-lhe uma censura que não foi ouvida:

“Mentiroso. Disse que malhava na academia mas havia bem sete anos que não fazia nenhum esforço desportivo... Está aí a conseqüência! De qualquer modo, algum superior meu devia ter-me avisado de que o coração estava a pique de arrebentar.”

Ponderou o protetor que esse aspecto do socorrismo ativo precisava ser aperfeiçoado, caso viesse a ser solicitado para acompanhar algum outro parceiro mortal. Lembrou-se da tristeza da solidão e do estresse das ausências da companheira e dos filhos, achou natural que Simões não fosse divertir-se no Nordeste e concluiu, satisfeito, que a passagem terrena lhe havia sido de bom proveito.

No plano material é que as coisas não caminharam exatamente como o dono da empresa havia previsto. Morto o presidente, enterrado o corpo e, sem que fosse oficiada a missa de sétimo dia, os filhos assumiram a direção da empresa e, evangélicos rigorosos, pesquisaram as tendências religiosas dos membros da diretoria, afastando quantos não se alistassem entre os seus correligionários. O rigor da observação doutrinária estendeu-se a todos os cargos de chefia dos diversos departamentos, de modo que Plínio e mais cinco tiveram carta de exoneração, dentro das leis, ou seja, com o devido aviso-prévio, recolhimento do fundo de garantia por tempo de serviço, respectiva multa por dispensa sem justa causa, décimo terceiro proporcional e férias.

Nem Silvinho nem Moacir, evidentemente, poderiam ser convidados para as funções a que aspiravam e ficaram até agradecidos por terem sido mantidos empregados, lamentando muitíssimo que, antes dos cinqüenta anos de idade, aos vinte e pouco de contribuição para o instituto de previdência, com sérios problemas familiares, Plínio se visse no olho da rua, sem perspectiva de nova colocação.

Entretanto, o dinheiro que cairia nas mãos do nosso herói estimulou-o a pensar em algo como uma microempresa ou um escritório de assessoria na sua área profissional. Iria pensar a respeito. Iria pensar também em dar aquele desfalque na firma, para o que teria ainda quase trinta dias. Mas tal intento morreu no nascedouro, porquanto apareceu um sujeito carregando uma bíblia, o qual deveria treinar para assumir a sua função.

“Esse cara vai ter de amargar uns erros, porque o que fizeram comigo não se faz nem a um cão.”

Prometeu e cumpriu. Não contava, porém, com a boa vontade de Moacir e de Silvinho, os quais não permitiram que o novo empregado falhasse, mesmo porque, dentro da contabilidade, existe um setor delicadíssimo, o de pessoal, que precisa receber os salários, sem atraso e sem perdas.

Palhares e Coelho foram preservados em seus postos, porque freqüentavam a mesma igreja dos recém-chegados, o que fez Plínio imaginar que, de longa data, haviam previsto a possibilidade do desemprego.

“Acho que fui pego de calças na mão. Imbecil! Não poderia ter suspeitado que isso pudesse acontecer? Se é verdade que existe um espírito ou anjo da guarda, por que não me preveniu e não me obrigou a procurar um templo protestante? Não! Fui logo cair nas garras dos espíritas. Parece obra do demônio, tanto que Margarida se enroscou na rede primeiro. Ainda bem que Ovidinho está comendo e se vestindo por conta do Governo e Cleto foi procurar sua própria vida...”

Estarreceu-se com a direção que estava imprimindo às cogitações. Atrapalhou-se todo, vendo, emocionalmente, que misturava os sentimentos de ódio, de rancor, de mágoa, de frustração. Percebeu que toda a sua vida se desmoronava com esses dois abalos. Recordou-se da palestra no centro espírita e deu um “peteleco” na orelha da figura do Ariovaldo que bailava à sua frente, dedo em riste, chamando-o de irresponsável, de desleixado, de fraco, de viciado...

Descambou o pensamento para esse importante aspecto de seus problemas e deixou escorrer não mais do que duas lágrimas pelas faces, uma de cada lado do rosto. Eram poucas mas desceram queimando a pele, sulcando fundo, atingindo o coração e abalando o ideal. Quando secaram, era ele outro homem.



No plano dos espíritos, Saldanha pôs a mão nos bolsos, porque lhe formigava o desejo de esfregá-las. Não queria, porém, manifestar nenhum sentimento de euforia, porque, da outra feita, se viu às voltas com uma peregrinação insana.

Estando seguro de que Plínio não planejava nenhuma atitude menos racional, foi conversar com Pedro Otávio, com quem pretendia entender-se a respeito dos sucessos em cadeia que terminaram por atingir um dos elos finais da corrente. Foi com a idéia de que o outro também não sabia as razões desse enredamento cármico. Encontrou-o exatamente desse jeito, ainda aturdido com o evento fúnebre. Conversaram telepaticamente e saíram juntos para convencerem Plínio a mudar o rumo de suas propostas de vida. Chegaram justamente no momento em que ele se via um novo ser, pronto para um recomeço.

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