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Erotico-->4. A POLÍCIA ENTRA EM CENA -- 10/09/2003 - 07:06 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Preparamos os espíritos dos amigos leitores para a eventualidade de algum dos pimpolhos causar problemas na área policial. De fato, naquela mesma tarde, antes do término do expediente, foi Plínio chamado pela esposa, que corresse a ajudar o Ovídio, preso em flagrante delito de roubo.

— A que Delegacia foi recolhido?

— Você vai precisar procurar.

— Quem foi que avisou você?

— Foi o Cleto.

— Põe “ele” no telefone!

— Saiu.

Plínio ficou sem saber o que fazer. Não queria espalhar no ambiente de trabalho que o filho era um marginal, embora desconfiasse de que todos soubessem. Tomou a decisão de “ficar na sua”.

“Não vai demorar e a própria polícia virá atrás de mim. O Ovídio vai pedir socorro e alguém virá me avisar. Afinal, ele é ‘de menor’. Quinze anos, no mês passado. Se estiver com o documento na carteira, vão acreditar.”

Moacir, porém, que estava trabalhando junto, não pôde deixar de perceber que o chefe tinha problemas. Perguntou:

— Alguma coisa séria, “Seu” Plínio?

— Nada que você possa...

Ia dar uma resposta grosseira mas, de repente, se lembrou de que Moacir era espírita.

“Essa gente tem parte com o diabo. E se ele tiver sido avisado (como é mesmo?) por inspiração ou algo assim? Não é certo que no centro espírita eles conversam com os seres do outro mundo? Vou ‘maneirar’.”



O narrador tem a obrigação de esclarecer que o tempo de leitura é bem mais longo do que aquele em que se deu o pensamento da personagem. Aliás, devem os leitores perdoar a transcrição das idéias e sentimentos, os quais deveriam inserir-se mecanicamente no diálogo ou na descrição psicológica. Como, entretanto, nada estamos querendo deixar para a imaginação, porque reproduzimos um caso real, isso irá onerar sobremodo a redação. Paciência! Vamos ter de enfrentar algumas soluções de continuidade no texto que, no final, vão constituir-se em adendos úteis, para que se dê compreensão integral da “estória”.

Outro aspecto a ser ressaltado é a assertiva de se tratar de “um caso real”. Se tais personagens forem buscadas dentre os encarnados, vão os investigadores frustrar-se, pois trabalharão inutilmente. Sendo assim, nos anais da polícia não há registro algum de que um tal de Ovídio, filho de Plínio e de Margarida, com tantos anos de idade, foi detido em flagrante delito, quando, em companhia de mais dois menores, encostava uma faca na barriga de um transeunte, em tal rua, em tal bairro, sendo a vítima um delegado de polícia, que, imediatamente, providenciou o cerco aos rapazes e sua captura. Quando nos referimos ao fato da realidade, estamos realizando apanhado de casos que ocorrem na sociedade humana, de resto muito comuns, infelizmente, para transpô-los para a nossa organização ficcional.



— Moacir, se eu contar que tenho um filho viciado em cocaína, estarei dizendo alguma novidade para você?

Antes de responder, tendo feito um gesto para Plínio esperar, Moacir foi até a mesa de Silvinho, deram um dedinho de prosa e logo voltaram os dois, acomodando-se um de cada lado.

Foi só então que Moacir respondeu:

— Nós sabemos, querido amigo, que os seus três filhos estão presos ao vício.

Plínio sobressaltou-se:

— Que é isso? Uma invasão de minha vida particular?

Silvinho repousou a mão no antebraço do outro e pediu-lhe:

— Calma, “Seu Plínio. Não há nenhum mistério nisso. Sabemos do que se passa com seus filhos porque Dona Margarida nos foi procurar e nos contou tudo.

— Quando foi isso?

Foi Silvinho quem esclareceu:

— Na semana passada. Ela soube que o centro dá assistência às famílias com tais elementos em fase de viciação e nos procurou. A bem da verdade, ela pediu que nós não contássemos nada, porque ela mesma ia falar. Foi então que nós dissemos que somente revelasse ao senhor as providências que tomou, depois de a gente se informar, com segurança, onde atuam os rapazes, quem fornece as drogas, quanto compram, em que estado estão, se pertencem a alguma quadrilha e tudo o mais que o pessoal tem capacidade de saber com o auxílio da polícia.

— E deu tempo para saber tudo isso?

Moacir emendou o que Silvinho vinha dizendo:

— Não deu. Mas podemos garantir que o mais velho, o Anacleto, é o que se apresenta pior. Quanto ao Ovídio, motivo de sua conversa ao telefone — desculpe-me por ter prestado atenção — é o que preocupa mais, porque está metido com uma “gangue” da pesada.

— É esse que está preso.

— Já suspeitávamos que isso ia ocorrer a qualquer momento. E Dona Margarida ligou avisando...

— Vocês têm algum meio de saber onde ele pode estar?

Coube a Silvinho informar:

— Normalmente, o delegado, assim que lavra o boletim de ocorrência, faz encarcerar o menor, até que acabe o efeito da droga, para ser transferido para algum centro especializado. Como Ovídio não deve estar fichado, se não houver ninguém “forçando a barra” para ele ficar detido, o que acontece muitas vezes, quando a vítima não quer formalizar a queixa, confiando na polícia, pode acontecer de o senhor vir a ser chamado para se inteirar do que está sucedendo, responsabilizando-se pelo jovem.

Plínio calou-se, a meditar a respeito do que tinha ouvido. A sua tendência era a de não atender à convocação. Nesse sentido, demonstrando certa abalo, sem exageros, informou, em voz baixa, não sem antes passar os olhos pelo escritório a ver se mais alguém se interessava pela conversa dos três:

— Não pensem que sou um mau pai, irresponsável. Esses meus filhos cresceram livremente, com todas as regalias. Posso ser acusado de ausente, porque não acompanhei estes cinco ou seis últimos anos do crescimento deles. Pus tudo nas mãos de Margarida. Mas também não posso afirmar que ela seja culpada de nada. Eles é que têm maus instintos. São respondões e não aceitam...

Moacir se condoeu com a descrição íntima e não permitiu que Plínio fosse adiante:

— Chefe, o senhor não precisa contar nada para nós. A sua história é banal. Quando a gente reúne os pais de adolescentes em débito com a sociedade, por causa de crimes provocados pelos tóxicos, estamos muito mais interessados em entender como estão os jovens e qual é o relacionamento com a família, buscando nortear as atitudes dos pais pelo amor que deve ter existido um dia, para que tais criaturas fossem concebidas.

— E se eu disser que é esse o meu maior problema?

Silvinho não quis ouvir a declaração de que Plínio não gostava dos filhos ou coisa semelhante e interceptou-lhe a palavra:

— Perdoe-me, “Seu” Plínio, mas eu acho que nós devemos deixar o resto para depois que livrarmos o seu filho. Permita-nos que, em silêncio, façamos uma prece para os seus protetores, para que ajudem a vocês todos neste transe de dor.

Ato contínuo, Moacir e Silvinho retornaram a seus postos e devotaram-se, cada qual de per si, a contatar o plano espiritual.

Por mais estranho possa parecer, Saldanha esfregava as mãos, em sinal de profundo contentamento.

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