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Erotico-->2. SIMÕES -- 08/09/2003 - 08:01 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— Com que, então, o meu fiel escudeiro está a lustrar a minha armadura?!...

Plínio não gostava dessas tiradas do patrão. Mas sorria amarelo, enigmático, a boca fechada. E respondia, sem inspiração:

— Estou de regime. Preciso perder mais de vinte quilos e, se for almoçar em casa, não vou conseguir.

— É o diabo quando a mulher não colabora. A minha era um palito e se sentia muito bem enchendo a mesa, como se cumprisse a obrigação. Mas foi bom você ter lembrado que precisa perder peso. Eu não faço regime mas malho na academia. É duro manter-me apenas com dez além do limite.

Plínio, enquanto ouvia, ia pensando que o patrão sempre se colocava um ou muitos degraus acima. Estranhou apenas que não dissesse que estava mais de trinta quilos além do peso. Mas acrescentou:

— Trago duas ou três frutas e um iogurte...

— Não vá passar fome, porque a companhia precisa que tenha boa saúde para produzir. Por falar nisso, quanto tempo falta para se aposentar?

— Um pouco mais de dez anos.

— Eu penduro as chuteiras no ano que vem. Por isso, estamos pensando em quem irá ocupar as vagas que vão abrir-se. Pelo que imagino, o Palhares assume o meu lugar, o Coelho, o dele e você passa a chefe do departamento.

Plínio ouvia com olhos que se esbugalhavam. Não se conteve:

— Será mesmo verdade?... O senhor é tão jovem...

— Plínio, meu amigo, você não precisa disso. Depois de quarenta e dois anos no lesco-lesco, mereço ir passear pelas praias do Nordeste e conhecer alguns países da Europa, ainda mais agora como viúvo.

O empregado lembrava-se do passamento da esposa do patrão que ocorrera há mais de sete anos. A declaração soava falso. Estaria mentindo quanto ao resto?

— O senhor está pensando em novo matrimônio?!...

— Vira essa boca para lá! Deus me livre e guarde e os anjos digam “amém”. Mas, se você subir, quem vai deixar no seu lugar?

— Não se preocupe. Eu treino o Moacir, que está na firma há mais de cinco anos.

— Você não acha o Moacir muito lerdo?

— Fico na supervisão. Se falhar, assumo e passo a bola para o Silvinho.

— Eu o autorizo a instruir um dos dois, desde já.

— Muito obrigado, Doutor Simões!

— Virei doutor, agora? Simões, homem, Simões!...

No etéreo, Saldanha se congratulava com Pedro Otávio:

— Teve você excelente expediente para impedir os intentos criminosos do meu afilhado.

— Pode crer que Simões conversou com o seu protegido, sem a minha participação. O que fiz foi acompanhá-lo de volta ao trabalho, instando para que pensasse a respeito da aposentadoria. Mas devo dizer que ele não tem vontade nenhuma de parar, principalmente depois que a esposa faleceu, porque se sente muito só, sem os filhos, que apenas de raro em raro o visitam. O seu entretenimento são os negócios. Se não fosse o dono da empresa, talvez pudesse ser afastado compulsoriamente, haja vista que oficialmente aposentado ele já está há cinco anos, recebendo quireras do Instituto de Previdência.

— Quer dizer que não pretende mesmo sair?

— Se isso for bom para ele, vou instigá-lo. No mínimo, ele está precisando ser mais caritativo. Se bem soube ler-lhe os pensamentos, está com a intenção de manter o Plínio no lugar, porque nem desconfia das intenções de desfalque. O que deseja com o treinamento do outro funcionário é pô-lo em condições de ser guindado à chefia do próprio instrutor.

— Preciso consultar os apontamentos psíquicos do Plínio, para prever a extensão do estrago mental que essa “injustiça” irá provocar. Pelo que imagino, se nada ocorrer que o faça ver a vida como realização cármica, irá programar mais seriamente a transposição para sua conta dos valores que o estão tentando.

— Vibremos pelos dois.

Se Plínio tivesse aguçado o dom da escuta mediúnica, teria percebido que alguém elevava uma prece em seu favor. De qualquer modo, estava imerso em profunda alegria, sentindo-se reconhecido pelos vinte anos dedicados à empresa. Por uns tempos, deixaria de lado a idéia da falcatrua contra o erário do patrão.

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