Usina de Letras
Usina de Letras
36 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62330 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22543)

Discursos (3239)

Ensaios - (10406)

Erótico (13576)

Frases (50709)

Humor (20055)

Infantil (5474)

Infanto Juvenil (4794)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140845)

Redação (3313)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6220)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Erotico-->AS AVENTURAS DO PADRE DEODORO EM CAMPOS ETÉREOS — XLIX -- 04/09/2003 - 06:40 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
10. PRIMEIROS TEMPOS NA “ESCOLINHA”

Quinze dias depois dos entreveros conscienciais, Deodoro estava preparado para iniciar os estudos. Tivera uma conversa com Margarida, solicitando a ela que se mantivesse em contato com todos os guias das pessoas de quem se julgava devedor e mergulhou nos livros da biblioteca, segundo as requisições que fazia à companheira. Precisava atualizar-se em relação aos avanços científicos da humanidade, como ainda tomar contato com os eventos históricos dos últimos tempos.

Tendo o hábito de analisar cada entrecho, demorava-se para entender os raciocínios desenvolvidos, no sentido de facilitar a parte didática do aprendizado. Queria ir ainda mais lentamente, porque pretendia fixar todas as diretrizes metodológicas de acordo com as raízes dos conhecimentos etéreos.

Foi assim que deduziu que os livros de Química, Física e Biologia deveriam ser assimilados em primeiro lugar. Mas não ficou satisfeito com os rumos excessivamente materialistas das observações. Queria a síntese de todo o saber, para dar à alma condições de, num relance, conhecer os problemas e resolvê-los de imediato.

Certo dia, foi convocado para as aulas do Professor Joaquim.

Afastado de todos, conforme solicitara, deu-se conta de que a turma toda estava reunida. Chegou-lhe à mente a informação de que o auditório em que passara a desdita das visões das mulheres estivera ocupado exatamente pelos companheiros egressos do Umbral.

Ao adentrar a ampla sala de exposições e debates, reencontrou-se, em festa, com Hermógenes, Everaldo, Joaquim, Roberto e os demais que com ele haviam excursionado para os contatos com os pais e colegas. Iriam freqüentar as mesmas aulas. Margarida ficaria de fora, especializando-se, uma vez que socorrista diplomada já era. Além dos sete, havia mais trinta e três estudantes, nenhum de seu convívio.

Abrindo os trabalhos, o professor convidou que lessem rapidamente as quarenta páginas do libreto que descrevia a personalidade dos alunos. Destinou dez minutos para a tarefa após os quais todos haviam concluído a leitura.

Aí principiou a aula:

— Vamos repetir todos os entrechos, começando por Deodoro, que irá reproduzir, nas mesmas palavras, o histórico de cada colega. Se titubear, poderá receber a ajuda dos outros mas a ninguém é dado permanecer com o libreto aberto.

Entretanto, a formulação da proposta encontrou Deodoro preparado, de sorte que começou e terminou sem nenhuma hesitação, provocando a admiração da turma.

Joaquim retomou a palavra:

— Vejam que estamos diante dum companheiro habilíssimo. Aposto que assimilou o que resguardou na memória, podendo repetir a leitura tantas vezes quantas lhe pedirmos, hoje, amanhã até...

Sagazmente, Joaquim suspendeu a frase e deixou a classe refletir a respeito do que diria a seguir.

— Quem desejará manifestar-se a respeito de quando Deodoro irá desfazer-se dos elementos decorados?

Deodoro levantou o braço.

— Vamos ouvi-lo.

— Não pretendo fixar na lembrança os dados que reproduzi com tanta facilidade. Antes, desejo acrescentar outras virtudes, aperfeiçoar as que ali se encontram e olvidar o que for extirpado por obsoleto. Assim farei até que cada um passar para os círculos maiores, quando restará no coração a lembrança emocionada pelos influxos do companheirismo, sem características, sem biotipologias, sem “performances” específicas de acordo com as prerrogativas das vocações e aptidões.

Calou-se, na expectativa de novas provocações do mestre.

— Com que, então, o nosso preclaro discípulo carregou nos termos para impressionar os colegas?

— A partir do conhecimento que me foi dado através do fichário, sei muito bem que a pergunta irá cair no vácuo das motivações extrínsecas, porque acho que o professor está arquitetando problema de maior dificuldade. O que menos desejo é impressionar, porque bastam as pessoas que seduzi ou que cativei, raposa tola e velha, sem a correspondente prestação de assistência.

— Quem dentre os presentes gostaria de levantar dúvidas a respeito das conclusões do colega?

A partir daí, a aula transcorreu movimentadíssima, todos desejosos de argüir o monsenhor quanto às necessidades que abriam claros nas existências dos parceiros, mediante as atividades coerentes com a personalidade em desenvolvimento.

Não se chegou a resultado nenhum, mas ficaram diversas pesquisas de campo para serem efetuadas até o dia seguinte.

Ao regressarem completamente apetrechados, cada qual com seus argumentos fundamentados nos roteiros das experiências pessoais e no conhecimento das biografias de gente do convívio ou de valor histórico, Joaquim propôs:

— Vamos deixar para amanhã a discussão geral. Agora, reúnam-se de cinco em cinco, à vontade, e elaborem um texto único por equipe, segundo a vivência de cada qual.

A aula iniciara-se bem cedinho e só se encerrou tarde da noite.

Na manhã seguinte, Joaquim perguntou à classe:

— Vamos fragmentar os grupos e estabelecer que as apresentações individuais evidenciem as conclusões finais das equipes, ressaltando-se os aspectos em que o aluno teve de ceder à evidenciação proposta pelos colegas.

Vários alunos se apresentaram, todavia, as discrepâncias iam repetindo-se, mais ou menos uniformemente, dando prioridade à média das opiniões.

Duas horas depois de começarem as explanações, Joaquim interrompeu para disciplinar os discursos:

— Falaram oito colegas, um de cada grupo. Apresentem-se, agora, somente os que dispuserem de argumentos ainda não citados.

Diante do silêncio geral, enfeixou as conclusões particulares numa só, pedindo para ser interrompido se algo dissesse em descompasso com os pensamentos dos pupilos:

— Pelo que entendi, as pessoas são responsáveis por todos os seus atos, segundo o seu ponto de vista. Mesmo quando não têm consciência da repercussão de suas ações, ainda assim devem considerar que estão imprimindo à realidade o direcionamento que lhes está aprazendo. Quando se chocam duas opiniões e as pessoas desenvolvem atividades contrárias, mesmo assim se deve considerar de igual valor moral a resultante, uma vez que a vontade prevaleceu e orientou as conseqüências. Como corolário, podemos perceber o quanto se podem desviar dos padrões comuns, a partir de situações mal interpretadas. Isto irá num crescendo, a se regulamentar na lei de causa e efeito, ou seja, necessariamente cada atitude aplicada sobre os acontecimentos haverá de se constituir em encadeamento sutil de fatos, sempre segundo a constituição psíquica daqueles sobre os quais incidirem. Daqui a complexidade dos eventos universais em todos os escaninhos da consciência, sendo deixado de fora, como incriado, o mal, porque haverá de ser sempre o bem o objetivo de cada indivíduo, apesar de realizar o oposto de um outro. Fica para a próxima aula a discussão dos motivos que levaram muitos humanos a basear sua filosofia de vida na existência do bem e do mal.

Deodoro nadava em águas conhecidas. Não punha restrições ao tipo de organização curricular e pedagógica do curso. Queria aprender com a experiência dos novéis. As apreciações particulares levantavam casos especiais, de sorte que se integravam as mais diversas vivências e definições, de acordo com o que se dera na verdade e o que deveria ocorrer em ambiente moralizado pelos padrões evangélicos.

Por esse tempo, foi chamado por Maciel, dirigente máximo da “Escolinha de Evangelização”, de quem ouviria a recomendação para que abrisse as matrículas para o curso que ministraria. Deveria atribuir um nome genérico ao elenco das matérias a serem tratadas. Impôs-lhe o Diretor:

— Com todo o respeito, considero de suma importância que a diretriz programática repouse sobre a elaboração do texto que vem cavatinando sotto voce. Nada melhor para atrair interessados do que demonstrar que é possível regressar ao etéreo completamente cônscio dos valores religiosos de determinada Igreja e, mesmo assim, aprender a examinar a nova realidade com olhos de ver. Não foi o que lhe aconteceu? Pois, então, mantenha a turma sob a sua batuta em harmonia com esse princípio e transforme os discípulos em co-autores da obra que, uma vez aprovada pelo colendo corpo administrativo da colônia, irá transformar-se em imperativo mediúnico.

E mais não disse.

Saiu da entrevista o monsenhor intrigado com a necessidade que se criara para si de enfrentar tarefa altamente responsável, daquelas geradoras de ondas enormes de repercussões nas mentes. Contudo, não lhe passou a idéia de retroceder. Aceitava o desafio e agradecia ao Professor Joaquim ter começado o curso agravando as circunstâncias em que a lei de causa e efeito se propunha como mistério para o devenir:

Tenho para mim que se empenham os do corpo docente para que produza a história de minhas andanças conscienciais nos caminhos e descaminhos entre as convicções antigas e as modernas. Haverei de realizar obra puramente filosófica, se me ativer aos problemas do prognóstico dos resultados da escritura, porque repetir não posso os textos evangélicos e os doutrinários. Se percorrer passo a passo...

Perdia-se a imaginar quais atributos emprestaria ao texto para torná-lo eficaz quanto ao objetivo de despertar os leitores para o corpo dos conhecimentos espíritas em evidência desde Kardec, tanto que desleixou quanto à propaganda do curso. Foi Margarida quem lhe deu o empuxo para o primeiro passo no caminho da responsabilidade que lhe havia determinado Maciel:

— Meu querido amigo, não seja presunçoso. Qualquer texto que redija haverá de sofrer a crítica de muitos seres mais traquejados, que proporão a você diretrizes específicas para mudar, eliminar, acrescer ou aperfeiçoar. Não pense que assumirá sozinho tão grave responsabilidade. Dê de si o melhor. Exponha aos alunos os problemas. Discuta as soluções. Peça a contribuição dos mestres. Procure quem esteja escrevendo outras peças a serem levadas aos mortais. Estude a melhor maneira de transmiti-la e a quem. Acompanhe o trabalho que se desenvolve hoje. Leia, principalmente, as grandes obras dos espíritos que se expuseram aos mesmos olhos para quem você deve mostrar-se. Não se esqueça de chamar todas as personagens para referendarem os dizeres relativos aos episódios de que participaram. Torne coletiva a edição de suas memórias e cumpra o objetivo de falar sempre em terceira pessoa sobre si mesmo, jamais renegando as informações que os protetores lhe passarem, tendo em vista que nem sempre esteve ciente do que ocorria com a sua própria pessoa. E não reproduza...

Nesse ponto, Deodoro fê-la calar-se com meigo enlace, no qual não faltou o entusiasmo da admiração nem o respeito do amor:

— Acho que vou reproduzir, sim, exatamente nas mesmas expressões, a sua advertência carinhosa e lúcida. E você não poderá proibir-me numa altura do texto em que quase tudo deverá estar escrito e onde estarão consignadas as minhas fraquezas, as minhas perplexidades, as minhas hesitações, os meus temores e os meus delíquios. Deus haverá de nos ajudar.

Abertas as inscrições, a procura foi significativa. Além de todos os companheiros de peregrinação, muitos quiseram receber as informações sob o ponto de vista do recém-chegado à colônia cuja fama repercutia de possuir imenso cabedal evangélico e espiritista. Além do mais, corria à boca pequena que o próprio Allan Kardec havia dado instruções particularíssimas a respeito da obra que se objetivava escrever. De resto, o monsenhor chamou de “As Aventuras do Padre Deodoro em Campos Etéreos” ao curso e discriminou os tópicos segundo a ordem cronológica dos fatos que o envolveram e aos protetores e amigos.

Antes de começar com as aulas, percorreu os institutos de restabelecimento perispiritual à procura dos que haviam sido recolhidos a partir da interferência direta das suas equipes. Encontrou os acidentados do desastre aéreo, Roberto Francisco, Jaime Vasconcelos e Virgílio Ambrósio, que recusaram amavelmente o convite, temerosos da vibração de forte ascendência moral que sentiam no sacerdote. Não obstante, concordaram em que o seu caso fosse relatado tal e qual, apesar dos aspectos de inferioridade pessoal a que seriam expostos.

Foi Jaime quem, afinal, impôs uma condição:

— Não queremos que nos coloquem pseudônimos. Se for para o povo da Terra reconhecer-nos, que assim seja, porque saberão que estamos bem, desenvolvendo o aprendizado da realidade sobrenatural. E escreva exatamente conforme estou ditando-lhe, inexatas que sejam as expressões. Ninguém chega a capitão sem ser tenente antes.

Quanto aos colegas de seminário, Domingos foi peremptório em aceitar a matrícula:

— Não apenas desejo que se reproduzam todos os fatos que me envolveram, como ainda fornecerei todas as informações necessárias a respeito do mosteiro e dos seres que lá residem.

Deodoro agradeceu comovido mas pensava que Eufrásio e Margarida seriam capazes de interpretar com maior acuidade intelectual tudo o que houvesse de lição para ser aprendida ali.

Rupério foi contatado mas não entendeu direito de que se tratava. Precisava ainda sofrer com a desdita dos males que praticou contra o corpo físico. Sendo assim, Deodoro deixou para mais tarde conseguir o alvará para a descrição psicológica do colega, prestes a lamentar uma negativa. Foi Eufrásio quem lhe deu a possível solução para se obter a anuência do infeliz:

— Você irá surpreender-se com os recursos dos técnicos para o despertar temporário da consciência. No momento da necessidade, iremos conduzir o amigo para uma das câmaras de descompressão psico-sinérgica, de sorte a liberar os pensamentos da concentração vibratória forçada pelos elementos egocêntricos da personalidade. O alívio momentâneo das pressões emocionais sobre o intelecto facultará a liberdade decisória consciente, de sorte que obteremos lúcida resposta segundo o ponto de vista que ele adotará assim que compreender a extensão dos malefícios e da luta a empreender para o resgate das dores que esparramou. O mesmo sistema poderemos adotar em relação aos seus pais e demais encarnados, como os trabalhadores do centro espírita, cuja presença na classe é inviável. Principalmente, existem para serem citados alguns seres caracterizados ainda pela perversidade.

— Temo que tenhamos de fazer referências à revelia.

— Nesse caso...

— ... nesse caso, rogaremos ao Senhor que nos ilumine os dizeres para não deixarmos rastro algum que possa incitar os leitores contra eles. Ao contrário, preveniremos, desde logo, para a urgência das preces e da comiseração pelos que despenharam pelo abismo das decisões erradas. E reforçaremos, no final, o pensamento de que todos iremos encontrar-nos no Reino de Deus.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui