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Poesias-->FRATERNIDADE ESPIRITUAL E OUTROS SONETOS -- 03/03/2005 - 04:56 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER

























FRATERNIDADE ESPIRITUAL







E



OUTROS SONETOS

















ESPÍRITOS DIVERSOS

















ÍNDICE



1. Fraternidade espiritual ............................

2. Sentimento estético ................................

3. Pouco elevado ......................................

4. Espíritos irmãos ...................................

5. Segurança máxima ...................................

6. Em paz .............................................

7. Que importância tem isso? ..........................

8. Cabisbaixo por quê? ................................

9. Desafios íntimos ...................................

10. Cultura aparente ...................................

11. Encolhido e tenso ..................................

12. Retiro agradável ...................................

13. Reação muito normal ................................

14. Rápido e rasteiro ..................................

15. Notável desempenho .................................

16. Otimismo latente ...................................

17. De trabuco em punho ................................

18. Suficiente .........................................

19. Resultado dúbio ....................................

20. Recolhido ..........................................

21. Estágio supervisionado..............................

22. Atento para as conseqüências .......................

23. Anotação oportuna ..................................

24. Riso franco ........................................

25. Agregando valores ..................................

26. Explicação .........................................

27. Manicômio ..........................................

28. Água lustral .......................................

29. Rapsódia ...........................................

30. Naturalmente .......................................

31. Sem arrogância .....................................

32. Visitante ilustre ..................................

33. Mitigando a sede ...................................

34. Notório saber ......................................

35. Rascunho ...........................................

36. Ardência intelectual ...............................

37. Marmanjo desmamado .................................

38. Negócios à parte ...................................

39. Ao relento .........................................

40. Enquanto espero ....................................

41. Rotunda e acanhada .................................

42. Romance ............................................

43. Tinindo de felicidade ..............................

44. Risonho e franco ...................................

45. Bolha de sabão .....................................

46. Versos elegantes ...................................

47. Para Natanael ......................................

48. Atarefado ..........................................

49. O resultado ........................................

50. Repto aos inocentes ................................

51. Do milho vem a pamonha .............................

52. Na hora do imbróglio ...............................

53. Patrulha espiritual ................................

54. Sem precipitação e sem arrojo ......................

55. Reforma exemplar ...................................

56. Receoso ............................................

57. Renovado e feliz ...................................

58. Naturalmente promissor .............................

59. Incauto mas protegido ..............................

60. Sagrados remendos ..................................

61. Metástases perigosas ...............................

62. Salada mista .......................................

63. Tolerância quase zero ..............................

64. Plataforma de lançamento ...........................

65. Recurso extremo ....................................

66. Arte engajada ......................................

67. Rastreando a verdade ...............................

68. Laurel de felicidade ...............................

69. Outra presença .....................................

70. Perdendo a caduquice ...............................

71. Retrato dois por dois ..............................

72. Sem novidades ......................................

73. Rumo às estrelas ...................................

74. Reconhecido e afetuoso .............................

75. Pérolas e gemas preciosas ..........................

76. Exemplo a ser seguido ..............................

77. A cura buscada .....................................

78. Pela hora da morte .................................

79. A fidelidade aos princípios espíritas ..............

80. Um caso antigo .....................................

81. Nostalgia improfícua ...............................

82. Com afeição ........................................

83. Primavera ..........................................

84. A revolta ..........................................

85. Na gaveta! .........................................

86. Saber notório ......................................

87. Rosália ............................................

88. Ao sacolejar da carruagem ..........................

89. Relatório obrigatório ..............................

90. Entourage d’amour ..................................

91. Solícito e oportuno ................................

92. Ramificações morais ................................

93. Sem aborrecimento ..................................

94. Boa acolhida .......................................

95. Buscando a harmonia ................................

96. Resoluto e audaz ...................................

97. Satisfeito e poético ...............................

98. Perigo, perigo... ..................................

99. Num relance ........................................

100. Força comedida .....................................

101. Resultado promissor ................................

102. Receio infundado ...................................

103. O retalho ..........................................

104. Alegria ............................................

105. Confraternizando ...................................

106. Saudável e vigoroso ................................

107. Estou chegando lá ..................................

108. Solidário ..........................................

109. Agora ou nunca .....................................

110. Reflexão ...........................................

111. Pertinácia proveitosa ..............................

112. Soterrado ..........................................

113. Sereno e preciso ...................................

114. Inconformado e bronco ..............................

115. Sem artimanhas .....................................

116. Interrompido .......................................

117. Corajoso mas humilde ...............................

118. Meu recado .........................................

119. Um momento de alegria ..............................

120. Está difícil? ......................................

121. Sem sofreguidão ....................................

122. Uma prece estapafúrdia .............................

123. Caprichoso .........................................

124. Amizade requerida ..................................

125. Perseverança .......................................

126. Recomendando atenção ...............................





1. Fraternidade espiritual



O sol que me desperta para a luz

Não nutre tão somente quem estuda:

Às vezes, desejamos que se iluda

Aquele que compõe e não produz.



A voz com que gritamos queda muda,

Perante o ensinamento de Jesus,

E o verso se desfaz, sem chus nem bus,

E o sentimento do leitor não muda.



Por isso é que sentimos, com ser fraca,

A rima que elegemos toda hora,

Por ser a nossa fé carente, opaca.



Mas quando o coração crescer em dons,

Conforme esta escansão se revigora,

Iremos exultar em meio aos bons.







2. Sentimento estético



Não creio que esta trova represente

O tópico maior da sã doutrina,

Nem penso que meu verso disciplina

O encontro da verdade em tua mente.



Se estou atrapalhado, me amofina

O indício da impureza que se sente

Nesta composição, infelizmente,

Porque queria dar-te um’obra fina.



Mas sei que o teu sorriso vai honrar-me,

Que sofrerei na dor o bom desarme

Destes lampejos rudes de humildade.;



Que o texto resultante irá ser bom,

Ao menos quanto ao sentimento são

Que transparece aqui, sem vaidade...







3. Pouco elevado



Conheço os meus limites nesta rima,

Mas venho, mesmo assim, para compor

A trova que se instala no interior

Da mente fervorosa, que se anima.



Depois de oferecer o meu amor,

Esqueço-me do resto como acima

Deixei de demonstrar a minha estima

Por todos que me lêem com tal fervor...



Quisera ter a voz altissonante

Daqueles bons poetas, mas, diante

Dos balbucios que dou, fico vermelho.



E ponho-me a pensar como era bom

Deixar nesta poesia o mesmo dom

De quem se sabe honesto escaravelho...







4. Espíritos irmãos



Não temos um agir bem mais cordato

Do que chamar de irmãos a toda a gente.

É claro que falhamos grandemente,

Se o pulo que escondemos é o do gato.



O amigo que nos lê e que, inocente,

Espera que brilhemos já, de fato,

Talvez compreenda bem o espalhafato

E leve de vencida a dor que sente.



Então, muito felizes ficaremos

E logo, com a força nestes remos,

Iremos pleitear nova aventura.



Os versos multiplicam-se no espaço.;

Da música seguimos o compasso,

Bailando alegremente a valsa pura...







5. Segurança máxima



Não temos progredido nesta esfera

O quanto desejáramos fazê-lo,

Porém, ante o capricho do desvelo

Deste médium que fica à nossa espera,



Eleva arrepiando-nos o pêlo

Este desejo imenso que não era

Somente uma figura, uma quimera,

Mas tudo o que há de bom, sem desmazelo.



Notável que o sujeito tenha vindo,

Embora desgostoso, no feriado,

Impondo que este verso fosse lindo



E que estivesse feito de bom grado:

O mérito do som não é infindo,

Bem como a gente diz: — Muito obrigado!







6. Em paz



Decidimos trazer este trabalho,

Mudando, embora, um pouco o seu sentido.

Por isso, o nosso amigo diz: — Duvido,

Que seja este seu verso um agasalho.



Mas tudo quanto faz é promovido

À quintessência lúcida do ralho,

Que a crítica promoves, espantalho,

Que bates cá no peito, em sendo lido.



Destoa das sonoras nossa rima

Causando um alvoroço sem tamanho,

Conquanto o bom leitor logo suprima



O efeito mais daninho deste amanho

E faça por nós todos, como acima,

Orando e compreendendo o verso estranho.







7. Que importância tem isso?



Não posso definir melhor o tema,

Pois não me sinto lúcido o bastante.

Quisera estar no fim mas quedo diante

Deste fatal, ruim, cabal dilema...



Então penso no verso-diamante

Que vejo rutilar na trova-emblema,

Que nos dão como fórmula suprema

Que temos de imitar a todo instante.



O sentimento é bom e nos conforta

O fato de aqui estarmos a compor,

Ainda que uma obra natimorta.



A luz deste mistério vem do amor

Que nos eleva a mente e nos transporta

A planos de beleza superior...







8. Cabisbaixo por quê?



O fato desta rima não ser pura

Não deve incomodar o seu autor:

Aquele que se atreve a vir compor

Insiste na razão e se segura.



A idéia deste verso superior

Não cabe numa estética da cura,

Que é como eu sei que aqui se configura

A ordem de mostrar perfeito amor.



Rabisco algumas linhas e prometo

Deixar inda melhor o meu soneto,

Brilhando nele a luz das formas justas.



E exponho o meu sentido de bondade,

Enquanto o teu calor minh’alma invade,

Amigo que me lês e não te assustas.







9. Desafios íntimos



Resolvo contestar os versos meus,

Ao discorrer aqui sobre o valor

Do sentimento nobre, superior,

De acreditar no bem que vem de Deus.



No entanto, ao me perder neste compor,

Por não achar as rimas dos ateus,

Contento-me em dizer um breve adeus,

E proclamar a fé em meu leitor.



Falando claramente: estou perplexo

Que tenha este soneto tanta luz,

Como se ao Pai, estando genuflexo,



Orasse co’a paixão a que conduz

O amor imorredouro dum amplexo

Da compreensão eterna de Jesus...







10. Cultura aparente



Os versos que desfilam cá no etéreo

Diferem grandemente dos humanos:

Aqueles que ditamos são enganos

P’ros inocentes que não têm critério.



Assim, quem tem cultura, após uns anos

De estudos lá Terra de homem sério,

Irá desconfiar haver mistério

Nas entrelinhas destes sons tiranos.



Ocorre que o leitor julga conosco:

Se é duro o pensamento, sente tosco

O verso desprovido de emoção.



No entanto, se aqui sofre como a gente,

Irá viver no etéreo intensamente

As doces alegrias do refrão...







11. Encolhido e tenso



Fazia muito frio naquela noite

Em que não suportei meu sofrimento.

Agora que tal dor em paz enfrento,

Desprezo dos algozes seu açoite.



Criei a carapaça com que agüento

As lategadas duras do pernoite,

Embora haja ao meu lado quem se afoite

E fuja, em desespero, do tormento.



Eu simplesmente peço proteção

Àqueles que bem sei não negarão

Apoio a quem tem fé e caridade.



Se tu, meu triste amigo, não te animas

E ficas a prever tremendos climas,

Como é que irás saber que o bem te invade?!...







12. Retiro agradável



A casa em que me hospedo para a rima

Não tem nenhuma igual na redondeza:

Aqui aspiro o ar com tal beleza

Que faço o melhor verso, o que me anima.



É claro que sustento esta proeza

Com força mais moral, conforme acima

Se encontra a trova antiga, que se estima

Ter sido mui sofrida, em rude empresa



Não noto diferença entre os dizeres,

Como também confio em que os poderes

De nossa mentes vão sempre subir.



Um dia, quando eu era desbocado,

Falava o que queria sem agrado:

Agora me contenho ante o devir.







13. Reação muito normal



Concedo ao caro médium que descanse,

Um pouco a cada verso que se dita.

A pausa é bem pequena, mas bendita,

Porque permite à estética que avance.



Assim, quem não gostou e já se irrita

Espere, por favor, por mais um lance:

Talvez nosso trovar tua alma alcance,

Por ser sensível o teu penar que imita.



O mote destas rimas, menos mal,

Espera reação muito normal

De quem já se cansou de verso em verso.



Mas vou chegando ao fim deste trabalho,

Que, embora se demonstre um tanto falho,

Não leva em si a pecha de perverso...







14. Rápido e rasteiro



Encontro-me perante um bom soneto

Mas temo maltratá-lo enquanto dito:

O som que ouço aqui me deixa aflito,

Porque, sem similar, me comprometo.



No entanto, eu vou compondo, pois credito

Enorme confiança em que o carreto

Não ficará mui caro, se em dueto

O médium me ajudar, já que me agito.



Assim, vou recompondo esta obra-prima,

Enquanto vou notando que sublima

A perfeição alheia e alheias trovas.



Quisera proferir nobre sentença,

Inocentando o réu, p’ra que convença

O povo a orar a Deus, sem contraprovas...







15. Notável desempenho



Irei deixar inscrito no poema

Que devo acompanhar o teu labor,

Ó tu, meu companheiro e meu leitor,

Que tens nesta leitura o teu problema.



É certo que terás de vir compor,

Nas eras de alegria audaz, suprema,

Talvez sem publicar, mas como esquema

Da luta pelo bem com muito amor.



Então, lembra de mim e desta peça

E vê se te comportas bem à beça,

Imaginando tua esta mensagem.



Mas, ao reproduzir o pobre verso,

Coloca aí as luzes do universo,

Orando p’ra que o Pai te dê coragem...







16. Otimismo latente



Não devo proclamar-me vencedor

Apenas por rimar uns pobres versos,

Porém, como não são muito perversos,

Prossigo intimorato no compor.



Às vezes os lastimo, pois imersos

Vão ficando em lastro inferior.

Alguns que sobressaem têm valor,

Apenas por mostrarem bens diversos.



Sorrio e sigo em frente na labuta,

Jamais desanimando inteiramente,

Pois não preciso aqui de força bruta,



Mas leve aplicação da rude mente,

Que se enche de esperança quando luta,

Evidenciando o amor que o vate sente...







17. De trabuco em punho



Esperam os leitores que auxiliemos

Na busca da verdade, em simples verso,

Porém, a variedade no universo

Reduz o nosso esforço em dar nos remos.



A direção da trova expõe disperso

O pensamento justo dos extremos,

Assim, os sentimentos d’ouro vemos

Tão-só tocados, neste mote terso.



Por isso a nossa força tão restrita

Perante a comunhão quase infinita

Dos rumos que se cruzam nesta lauda.



No entanto, aqui compomos mui contentes,

Querendo que o leitor sinta presentes

O amor, a paz e a luz... que a rima frauda...







18. Suficiente



Não devo lamentar que o verso torto

Esteja tão borrado de agonia:

Melhor e mais bonito eu não faria,

Sem ser movido em paz, depois de morto.



Agora mais mantenho a nostalgia

Dos tempos de rapaz, quando, em conforto,

Levava a minha trova a outro porto,

Eivada de paixão e fantasia.



Pois bem, já não consigo compreender

Que estive muito perto do poder

E abandonei a liça nessa hora.



É que a razão não ganha a juventude

E, de repente, a gente mais se ilude,

Se cedo chega aqui e o mal deplora.







19. Resultado dúbio



Pressinto que meu verso vai falhar,

Que a rima que disponho é bem ruim.

Não quero hoje, porém, que para mim

Se faça uma oração mui exemplar.



Mas peço pelos outros, mesmo assim,

Pois tenho a pretensão de aconselhar

Que todos que freqüentam o lugar

Se tornem compassivos, lá no fim.



Jesus está pregando a boa nova,

Enquanto o povo estuda e já comprova

Que o bem é tudo, com amor e luz.



O sofrimento passa quando o parto

Repleta de alegria aquele quarto,

No pranto de quem nasce e nos seduz.







20. Recolhido



Não trato deste tema, pois me engano

Nas fórmulas das rimas que pratico,

No entanto, quando o veio é muito rico,

O texto sai formoso e me engalano.



Exulto quando vejo que dedico

Apenas uns segundos e me irmano

Ao grupo dos poetas, quente, humano,

Terminando a trova com um pico...



Outrora, o desafio me atormentava

E punha-me nervoso junto ao médium,

Que o texto, por ruim, a mente entrava.



Contudo, existe aqui um bom remédio:

Paciência em muita paz que a alma escrava

Liberta de si mesma e espanta o tédio.







21. Estágio supervisionado



Pretendo pôr a limpo o tema acima,

Porquanto muitos pensam, com justiça,

Que o gajo que aqui vem “encher lingüiça”

Não vai além jamais de simples rima.



Ocorre que meu mestre sempre atiça

A verve do poeta, que sublima,

Estando ao lado dele, quando intima

A frase mais correta e mais castiça.



O pobre que lhes dita este poema

Não sofre muito mais, ânsia suprema,

Deixando de compor um bom soneto.



Contento-me em deixar a trova cava,

Sabendo que a lição alguém destrava

E fica a decifrar o que prometo...







22. Atento para as conseqüências



Incauto, não me animo a vir rimar,

Pois não daria trela ao pobre médium.

Talvez, se ministrasse um bom remédio,

Saísse mais contente deste lar.



No entanto, quando quero opor ao tédio

Tremendo paradeiro, é devagar

Que me vêm à cabeça, p’ra exaltar,

Os temas relevantes deste assédio.



Não quero estimular muita esperança,

Pois, no final, o gajo sempre cansa

E pode abandonar a mesa amiga.



O gosto da poesia se estremece,

Se não consigo aqui deixar a prece

Que venha p’ro conforto a que se obriga.







23. Anotação oportuna



Recolho, constrangido, a nobre idéia

De retratar-me aqui, em sã poesia:

Ocorre que falhar eu não queria

Perante o professor e tal platéia.



Porém, não tendo jeito, a nostalgia

Dos tempos de mocinho, em minha estréia

Nas letras terrenais, em forma atéia,

Me obriga ao sentimento de alegria.



Outrora, debati-me em verso torto.;

Agora não me sinto tosco e morto

E vou compondo em rima de sucesso.



O dia já clareia o firmamento

E a métrica confirma que aposento

A glória dos lauréis, que mais não peço...







24. Riso franco



Não trago esta tristeza com intuito

De magoar jamais o meu leitor:

Por mais que aqui se expresse a forte dor,

O evento há de ser rico assim fortuito.



Ocorre que aos mortais quem vem compor

Parece só cumprir algo gratuito,

Que o texto resultante hoje circuito,

Sem dar-lhes uma luz, fugaz ardor.



Queria que o meu povo se alegrasse

E risse satisfeito com a rima,

Ainda que não fosse mais que um passe.



Assim, talvez tivesse a sua estima,

Que é tudo quanto peço deste enlace,

Maravilhoso dom que est’alma anima.







25. Agregando valores



Estendo os versos meus para o improviso,

Na hora de ditar para o escrevente,

No entanto, o mestre amigo sempre sente

Que preparei a rima com juízo.



Ocorre que não posso, inconsciente,

Deitar para o papel nenhum aviso

Que surja de repente e assim diviso

As normas do trovar em minha frente.



Limito-me a escrever de forma audaz,

Mantendo o conteúdo sempre puro,

Pois penso que o leitor não é voraz



E aceita o meu soneto que, asseguro,

Contém o melhor tom, cheio de paz,

Para livrar o vate deste apuro...







26. Explicação



Entendo que meu verso seja fraco

E que não tem padrão para o ditado,

Porém, como aqui fui qualificado,

Exponho o sentimento vil, opaco.



Mas quero atenuar o meu pecado,

Mostrando que não sou assim velhaco,

Pois tenho o meu receio e já destaco

Que a rima vem mudar-me deste lado.



Preciso só fechar o compromisso,

Deixando para o fim o tal serviço

Que vou prestar a quem me ouvir a trova.



Ocorre que meu tempo já findou,

Forçando-me a encerrar o triste “show”

De quem dorme de touca e não se escova...







27. Manicômio



Interno-me em mim mesmo e faço tudo

Para manter-me em calma na poesia,

Contudo, qualquer coisa poderia

Causar sério transtorno, se não mudo.



O fundo do poema é de alegria,

Que transparece, enfim, no conteúdo,

Que a forma não sustenta, quando estudo

O acento desta métrica tão fria.



Por isso é que surpreendo o meu leitor,

Compondo pobres versos sem valor

Mas sempre condizentes co’a verdade.



Ocorre que vou tenso e mui nervoso,

Na hora de dizer que apenas ouso

Imaginar um fim que muito agrade.







28. A água lustral



Preciso batizar a minha trova

Em água abençoada de doutrina:

Quem lê esta poesia e me abomina

Não sabe quão distante estou da cova.



Preciso demonstrar que se origina

A prece que hoje digo e se renova

Das aulas que recebo, como prova

Da fé nos meus poemas pequenina.



Agora que benzi o verso frouxo,

Já posso revelar que não amouxo

As dádivas morais do Mestre amado.



Se falta à minha rima maior brilho,

Ao menos que haja luz neste estribilho

Que ao Pai dedico em prece que translado...







29. Rapsódia



Preciso de um poema urgentemente

Que lembre os velhos clássicos helenos,

Mas como vou compô-lo sem somenos

Inspiração de amor na luz ausente?!...



O máximo que posso são pequenos

Sofríveis, vãos sonetos, pois não sente

O coração o afeto permanente

Que devo repartir entre os acenos.



No entanto, existe um vate atrás da trova

Que gera sentimentos nesta lavra,

Ainda que lhe falte a tal palavra.



Feliz, quando termino e o mestre aprova,

Eu rio da temerosa e sã proeza

Que fere o bom princípio da beleza...







30. Naturalmente



Suporto embevecido um elogio

Que o mestre aqui me faz pelo improviso,

Mas, como tenho já bastante siso,

Dispenso a tal vaidade por um fio.



No entanto, vou dispondo o nobre aviso

De que não tenho ainda muito brio.

Por isso é que fraquejo e não sorrio:

P’ra não causar ao verso prejuízo.



Ocorre que meu dom é espontâneo

E que não tenho papas nesta língua

Nem bons miolos no interior do crânio.



Assim, este compor vem num repente

E a rima segue adiante não à míngua

Dos sentimentos sãos, naturalmente...







31. Sem arrogância



Pretendo melhorar minha postura

Diante destes versos tão simplórios:

Não compro as minhas rimas em empórios,

Mas passo lá por eles com usura.



Assim é que arrecado uns sons inglórios,

Como estes que mantenho em sinecura,

Que o bem é dom de amor, que se procura

Deixar esclarecido nos livrórios...



Vazio, o meu poema segue em frente,

Impondo grave prova a toda a gente

Que quer explicação sobre a virtude.



Sintoma desprezível, argumento,

Dizendo que não tenho mais invento

Que possa sugerir-lhe que se mude...







32. Visitante ilustre



Preciso compreender por que falseio

As rimas, quando encontro algo difícil:

Se tenho de mostrar um tema físsil,

Arrisco-me a compor um verso feio.



Soneto sem sentido é mesmo um míssil

Que me estimula muito o vil bloqueio

Dos textos mais sisudos, de permeio

Ao pobre que arremessa um antimíssil.



Atinjo o caro médium, no confronto

Que diz respeito apenas ao poeta,

E ponho-me de pé e logo aponto



A fórmula-padrão bem mais completa

Dos textos do romance e de algum conto

Que um dia já escrevi e o mestre veta...







33. Mitigando a sede



Não posso reclamar deste momento

Em que me vejo às voltas com o verso:

Ocorre que não sou muito perverso,

Por isso, estou risonho e me contento.



A vida que aqui levo traz-me imerso

Nas brumas de minh’alma mas sustento

O pensamento em luz, cometimento

Que me orienta em paz para o Universo.



É pena que o leitor não possa dar

Opinião na hora quando escrevo,

Dispondo os sentimentos com vagar.



Se, acaso, não concorde com a rima

E tenha bom motivo, de relevo,

Esqueça a tal razão por minha estima...







34. Notório saber



Reconheço-me audaz e conformado,

Intrigante dilema que, suponho,

Desperte o teu sorrir, abrindo o sonho

Das coisas impossíveis deste lado.



Mas tento, mesmo assim, não ter bisonho

O pensamento lépido, marcado

Em páginas de amor vis que arrecado,

Depois de sofrer tanto mal medonho.



Estimo a minha tese beletrista

Bem longe da doutrina que hoje prego,

Querendo que o leitor no bem invista.



No entanto, agindo apenas como cego,

Derrapo neste abismo sem conquista

De quem me estende a mão que agora pego...







35. Rascunho



Preciso melhorar o meu poema

Na hora de ditá-lo ao meu amigo:

Trazê-lo rascunhado aqui comigo

Só vai acrescentar mais um problema.



Preciso dar-lhe a sova de um castigo

Que possa defini-lo como emblema

Do bem que a paz, no fim, quase suprema,

Trará a quem ficar em bom abrigo.



A causa do meu mal já vem de longe,

Dos tempos que vivi como mau monge,

Levando só vantagens co’o pecado.



Dizia que meu Deus era vaidoso,

Que dava a seus fiéis o maior gozo,

Lançando lá no inferno o debochado...







36. Ardência intelectual



Respondo ao compromisso desta rima

Tecendo um quadro tosco do meu mal.

Aposto que o parceiro, como tal,

Me ajuda numa prece com estima.



Eu cruzo a vibração universal

E levo ao povo humano, que me mima,

O resultado esquálido que arrima

Minha presença aqui, ao natural.



Espalho um certo horror e causo medo,

Que é forte esta tendência ao arremedo

Dos sentimentos crus que a dor ensina.



Porém, quando me volto para a cruz

Onde preguei outrora o bom Jesus,

Eu sinto a melhoria nesta sina.







37. Marmanjo desmamado



Choroso, eu me apresento ao bom leitor,

A pleitear sua atenção mais séria:

Passei a vida toda na miséria,

Aos males que sofri se deu valor.



Porém, apresentei bem melhor féria

Do que trabalho bom, superior,

Pois a pobreza, enfim, foi p’ra compor

A rima do meu quadro na matéria.



Pediu-me o mestre, então, que aqui fizesse

Apenas um soneto, como em prece,

Rogando pelas obras de Jesus.



Foi quando percebi exatamente

O quanto me gabava, mui contente,

Imerso em falso pranto aos pés da cruz...







38. Negócios à parte



Entretenho-me achando a melhor rima,

Para mandar mais cor ao pobre verso.

Em tal procura fico tão imerso

Que não percebo a dor que desanima.



Eu penso na amizade que não verso

Nas trovas que componho nesse clima

E logo estou comprando a tua estima,

Sem ver o quanto o texto está perverso.



Então, produzo um saque em minha conta,

Sabendo que o soneto sempre aponta

A deficiência máxima do vate.



Mas quero ser amigo do leitor,

Orando para Deus com muito amor,

Porque não quero ser simples mascate...







39. Ao relento



Não tiro o pensamento desta frase:

“Não vá se resfriar, meu filho amado,

Saindo no quintal tão despojado.”

Então ficava dentro, triste ou quase.



Cresci desafiando o clima dado,

Me pondo ao tal relento, enquanto a fase

Da turbulência cega dava base

Ao raciocínio tolo do soldado.



Agora, aqui mantenho o mesmo prisma

Mas luto por formar, no pensamento,

A causa do infeliz procedimento.



Mamãe é relembrada nessa cisma

Como a pessoa boa, sã e pura,

Que me embalou a infância na clausura.







40. Enquanto espero



Não jogo co’as palavras pela trova

Que estou ditando agora para o médium.

Queria ser feliz, mas o remédio

Amarga o paladar, o que comprova



Que tenho algum sentido para o tédio

E vou levando os versos, coisa nova

Que alegra o coração, posto que a sova

Me exponha em cada rima deste assédio.



O fardo que carrego é tão pesado

Que me parece triste como um fado

A rima soletrada a cada instante.



Contudo, eu me avizinho já do fim,

Contente por pensar o mestre em mim,

Ainda que este vate o bem não cante.







41. Rotunda e acanhada



Invento cada rima vagabunda

E vejo-me enrascado a cada lance,

No entanto, o mestre quer que o verso avance,

Sabendo que esta trova é mui rotunda.



Comento a minha vida sem alcance

E dou em mim mui quente e certa tunda,

Mas, mesmo assim, a estrofe não afunda,

A ponto de eu pedir-lhe nova chance.



O mestre já sorri pois, de arrancada,

Obrei os tais quartetos logo acima,

Ciente de que o riso bom agrada.



Então, a simpatia do meu traço

Será capaz de ter a sua estima:

Receba, bom leitor, um forte abraço.







42. Romance



Notável este enredo que descrevo

Da luta que empreendi durante a vida.

Agora que decifro a dura lida,

Melhor é que compreendo o meu enlevo.



A meta tão distante perseguida

Encontra-se alcançada e é com relevo

Que a destaco aqui, pois sei que devo

Mostrar o bom caminho da subida.



Ocorre que não sei aonde chegar,

Respeitando a dor que sinto agora

No fundo de minh’alma, dor sem par.



Um dia, desprezei o sentimento

Daquela que tornei minha senhora,

Mas que ficou comigo a dar-me alento.







43. Tinindo de felicidade



Imaginei-me a ler a trova minha

Em carne e osso aí, como você,

E me senti formoso, pois quem lê

Me julga superior e o bem sublinha.



— Estou muito feliz e sei por quê. —

Dizia sorridente, pois já tinha

O termo mais loução, chegando asinha

P’ra completar o verso, sem treler.



O gajo que corrige esta escritura

Não vai compreender a forma pura

Que deito na poesia, sem polir.



No entanto, estes dizeres que completo

Apenas reproduzem meu afeto,

Na prece que garante um bom porvir...







44. Risonho e franco



Aumento o meu poder de versejar,

Deixando as rimas prontas desde cedo:

Se quero hoje imitar o velho aedo,

Me basta apenas ler algo exemplar.



O mestre é que me aponta rijo dedo,

Dizendo que não perco este lugar,

Embora seja a trova mui vulgar,

Porquanto o leite é bom mesmo que azedo.



Ocorre que perturbo a linha nobre

Dos textos invulgares, pois sou pobre

Nesta invenção de teses na doutrina.



É que me importa apenas o trabalho

De decifrar a mente que embaralho,

Quando a Jesus lhe peço melhor sina.







45. Bolha de sabão



Recuso-me a aceitar ser perecível

O texto que produzo com esmero.

É certo que o sentir é exagero

De luz que quero ver neste meu nível.



Também não vou cair em desespero,

Se a trova que apresento é insensível

Para a declaração da dor possível,

Num texto programado e sem tempero.



Entrego-me à poesia, mesmo assim,

Ferindo o pensamento doutrinário,

Pois tudo o que disser será ruim.



Mas temo muito mais não dizer nada,

Ao lado tendo aberto o dicionário,

Palavras aos milhares p’ra jornada.







46. Versos elegantes



Atendo ao bom pedido do escrevente

E dito a minha estrofe com ardor.

Talvez não ponha força no compor,

Porém, meu coração está contente.



Quando fraquejo, conto co’o vigor

Daquele que me ajuda moralmente

E levo para os versos o que sente

O povo deste lado, superior.



No fim, atinjo a média vigorosa

E dou-me um elogio assim sereno,

Acreditando estar aberta a rosa,



No meu jardim de amor, mesmo pequeno,

Que é simples quem feliz a rima goza,

Sabendo ser de luz o seu aceno.







47. Para Natanael



Dedico este poema ao meu amigo

Que recebeu minh’alma cá no etéreo.

Assim, o verso meu se torna sério

E fujo das doidices do castigo.



— Elementar o texto, muito aéreo —,

Irá dizer o povo, mas não ligo,

Porquanto sei que a luz está comigo

E posso dividi-la com critério.



A Deus eu agradeço humildemente

Por dar-me a proteção de seu abraço,

Pois só quem é feliz é que mais sente



O dom da benquerença, neste espaço,

Em que se junta a nós o amor da gente

Que vibra quando as rimas entrelaço...







48. Atarefado



Resulta o melhor verso da promessa

De recompor na trova o sentimento,

No entanto, esta aqui a leva o vento,

Ligeira viração, sem muita pressa.



O riso do mentor eu escarmento,

Porquanto a minha rima nunca cessa,

Ainda que o mistério não impeça

De suspeitar de mim, se desalento.



O dia trabalhoso dificulta

A lucidez do tema que aqui verso,

Por isso esta emoção do bem avulta.



O coração bate feliz imerso

Nos dons quase mecânicos, se exulta

Na compreensão real deste universo...







49. O resultado



Consigo alienar-me algumas vezes,

Distante, mui distante, destas dores.

Também quedo esquecido dos rancores

E vivo, assim, feliz, por vários meses.



Depois o mestre avisa que os amores

Deixaram no meu ser, ruins, soezes,

As duras impressões dos entremezes

Que o mal dispõe em cenas de terrores.



Aos poucos, minhas rimas já componho

E aceito a sina que por mim espera,

Tornando realidade o próprio sonho



Do vencedor do mal, em nova era,

Resultado bom, p’ra quem, risonho,

Enxerga este serviço em outra esfera.







50. Repto aos inocentes



Atrevo-me a pedir que o amigo leia

Este soneto escrito à moda antiga,

No entanto, se o leitor não mais se intriga,

Insisto ainda mais, em rima feia...



O sentimento alheio ao bem se liga,

Se traz no bojo audaz a luz que anseia

Por descobrir no verso que incendeia

A audácia deste tropo que periga...



Olhei p’ra trova tua, que despertas,

P’ra vida cá no etéreo de proveito,

Distante das areias vis, desertas,



Iluminado oásis que hoje aceito,

Salvação deste amor que tu concertas,

Inocentando os bons, pois és eleito.







51. Do milho vem a pamonha



Não falha a minha pena nesta resma,

Um calhamaço artístico de vulto:

Talvez não seja o vate muito culto,

Talvez o bom leitor fique na mesma...



Mas sigo a poetar, sem pôr insulto

Nos trechos do poema que quaresma

Sutil, nas entrelinhas, como a lesma

Que segue devagar, pedindo indulto...



Agora é permanente esta notícia,

Na redação honesta que domino,

Bem longe dos favores da malícia.



No entanto, quando penso terminar

E pronto o verso tosco logo assino,

Percebo que não saio do lugar...







52. Na hora do imbróglio



Não me afeta tão trágico desfecho,

A cada nova trova que componho:

Pareço estar vivendo um novo sonho,

Que é novo para mim o tal entrecho.



Bem sei que o verso é tolo, é mau, bisonho,

Pois tenho de provar como em bochecho

Que aos sons destes rompantes me apetrecho,

Para formar a estrofe em que me enfronho.



É claro que preciso melhorar

P’ra merecer estar neste lugar,

Falando das virtudes, sem ter medo.



Falece-me a conduta mais correta,

Pois pobre é meu trabalho de poeta.;

Também eu reconheço que inda é cedo...







53. Patrulha espiritual



Não me arrependo ao vir da funda tumba

Em que jazi um tempo após a morte.

Se trago um verso bom é só por sorte,

Pois tudo quanto trago aqui retumba...



Mas estes decassílabos têm porte

De clássicos sonetos, sem caxumba,

Que é como agora eu quero que me incumba

O mestre, em desafio de que se importe...



É claro que este tema é perigoso,

Que o mérito maior está no gozo

Da conclusão sem dolo e sem má-fé.



Por isso, o revertério é ao contrário,

Embora o vate aqui não seja páreo

E obrigue o bom leitor a dar no pé...







54. Sem precipitação e sem arrojo



Manejo as rimas todas com que digo

Que não estou feliz com minha trova.

O fato é que este verso só comprova

Que chego ao fim.; no entanto, mui perigo.



Ocorre que meu texto só desova

As dores e as fraquezas que castigo,

Brigando o mestre amigo já comigo

Dizendo que me bato, em grande sova...



Eu cuido que o leitor não desanime,

Brincando co’as palavras mais severas,

Mas gosto quando alguma o mestre rime,



Sabendo pôr mais luz nestas esferas,

Pois oro com amor, que o bem redime,

Dizendo ao coração: — Que mais esperas?!...







55. Reforma exemplar



Pretendo pôr a limpo o tema acima,

Apenas redigindo trova séria:

Reduzo o meu problema e deixo etérea

A regra que contém a melhor rima.



É claro que não cabe esta miséria

No texto ponderado que me anima,

Mas posso elaborar, com muita estima,

O enredo deste amor de luz sidérea.



Abraço o bom leitor com tanta força

Que o faço imaginar que o mal distorça

A minha febre branda por reforma.



A latitude agora me surpreende

E vejo quanto é bom se o verso rende

A prece que a Jesus me leva a norma...







56. Receoso



Esqueço muitas vezes que preciso

Enfatizar ensinos cá do etéreo.

O compromisso é tal que o refrigério

Só vem depois de ver que tive siso.



Agora a explicação me traz mais sério,

Porque devo provar que o paraíso

Reside no equilíbrio do juízo,

Enquanto as emoções são um mistério.



O muito amor, que sinto progredir,

Me traz ao pensamento que o porvir

Reserva seus bons dias aos mais ternos.



E como todos nós nos predispomos,

Sabemos onde pôr os doces pomos,

Para colher os frutos sempiternos.







57. Renovado e feliz



O meu humor tem sido dos piores

Na transmissão dos textos de poesia.

Preciso refazer a melodia,

Se busco dar prazer como os melhores.



E digo ao meu leitor, com alegria:

“Espero que os sonetos não decores,

Apenas por mostrar os meus suores,

Ao enfrentar as dores da agonia...”



É claro que não vou deixar que vençam

Aqueles mais distantes desta bênção,

Que reproduz o amor que sinto em mim.



Não quero desfazer da pobre rima.;

Também não vou perder a tua estima,

Somente porque o verso sai assim...







58. Naturalmente promissor



Esboço o meu roteiro de trabalho,

Deixando alguns minutos p’ra poesia.

Pressinto que bem mais eu deixaria,

Se fossem os poemas agasalho.



Já penso que melhor outro faria

E dou-lhe um bom castigo: o verso malho,

Vermelho, na bigorna, pois não falho,

Se trago dentro em mim tanta harmonia.



Depois, eu largo a trova em mão alheia,

Disposto a melhorar o meu padrão,

Pois, por melhor que faço, a rima é feia,



Conforme os bons leitores provarão.

No fim é que algum dom se patenteia,

Porém, um verso só não faz verão...







59. Incauto mas protegido



Não levo muito a sério algumas trovas,

Partindo do princípio que são minhas.

Se tu, meu coração, não desalinhas,

Os versos como maus tu mais comprovas.



O vate aqui chegou mas de gatinhas,

A prometer às rimas rudes sovas:

O tema não foi bom, porém, desovas

Os versos, coração, com que espezinhas.



Se tu soubesses quanta gente espera

Informações precisas do outro mundo,

Para saber viver em nossa esfera,



Irias, coração, ser mais profundo,

Sabendo que o teu mal enganos gera,

Enquanto aqui sonhares vagabundo!...







60. Sagrados remendos



Não posso asseverar que tenha tido

Facilidade tal para escrever:

É justo que se aceite esse poder,

Quando se tenha o texto visto e lido.



No entanto, agora eu cumpro o meu dever

Ao vir dizer que os versos com que lido

Não surgem tão legais e com sentido,

Mas sofrem mil remendos ao tecer.



Por isso é que me enfronho nas virtudes,

Sabendo, coração, que tu te iludes,

Ao despertar p’ra vida cá no etéreo.



A perfeição sonhada permanece

E se transforma, às vezes, numa prece,

Representando a trova um refrigério.







61. Metástases perigosas



Não posso elucidar meu pensamento

Apenas alegando que outro o disse.

Se digo o que não sei, será burrice

Fazê-lo, quando expresso um sentimento.



Camões, no meu lugar, quero que atice

O bom leitor, que busca estar atento

P’ra não sofrer a burla do momento,

Que é como eu vejo alguém que o mal cobice...



Depois de deparar-me com tais rimas,

Esboço um bom sorriso, satisfeito,

Iluminando a mente, pois estimas,



Ó coração de vate, mero pleito,

De que muito te ufanas, pois sublimas

O fato de que é bom ter sido eleito...







62. Salada mista



Retorno à velha norma de mostrar

Que estou feliz da vida nesta esfera.

É claro que bem perto da quimera,

Ao me saber boçal e mui vulgar...



Requeiro mais paciência pela espera

De aqui trazer tempero p’ra agradar

Quem tenha mais sabor no paladar,

Enquanto só o vinagre prepondera.



Se mais virtude fosse conquistada,

Por certo, o vate aqui dispensaria

Os atropelos todos da jornada



E punha fim por certo na poesia,

Pois perto está de ser um quase nada,

Apenas exercício de harmonia.







63. Tolerância quase zero



Pretendo demonstrar com esta trova

Que o bom leitor se aplica com cuidado,

Ao estudar o texto, a pôr de lado

A tese que lhe sabe como nova.



Ocorre que este ensino que lhe é dado

Reflete com justeza e não renova

As mais belas lições, como comprova,

Depois de meditar com muito agrado.



Aí, estuda a forma e mais se anima,

Pois reconhece acentos e cesuras,

Mas julga com reservas nossa rima,



Que o todo é mui difícil, pois conjuras,

Ó coração, contra o prazer do clima,

Compondo versos tais com diabruras.







64. Plataforma de lançamento



Exijo do meu mestre que me atenda,

Se estou perdido assim na minha rima.

Por isso é que este verso mais me anima,

Pois sei que vou achar do bem a senda.



É claro que sufoco, quando o clima

Parece surpreender a rude agenda,

Deixando p’ra depois que amor se acenda,

Conforme vou ditando por estima.



Tal alvoroço causo se desuso

As normas mais freqüentes da poesia,

Por parecer meu verso tão confuso,



Que logo vem ajuda de harmonia

De quantos, por piedade deste luso.

Me trazem o perdão que eu já pedia...







65. Recurso extremo



Encontro a solução do meu problema

Nas trovas meio tortas que componho.

Talvez esteja pronto, pois, risonho,

Afago o coração com nobre tema.



Sinceramente venho, como em sonho,

Fantasma doutros tempos, por suprema

Bondade acrisolada neste emblema:

Amor e paz na luz em que me enfronho.



Registro assim a luta que hoje enfrento,

Tão simples de mostrar em verso bronco,

Que o medo da vaidade não sustento,



Enquanto teço a trova e não destronco

Os membros da doutrina, em pensamento,

Obrando com verdade, em tons de ronco.







66. Arte engajada



Não tenho muito medo de dizer

Que os versos que hoje trago são melhores:

Ocorre que escorreram meus suores

E o mestre já sentiu o seu poder.



Talvez, meu coração, tu não te arvores

Em guia e protetor, já que o dever

De ser o mais correto vai valer

Para a doutrina pura... e arredores...



Por isso é que a beleza comprometo

E as rimas ficam bravas, sem mistério,

Tornando muito magro o poemeto.



Porém, acendo a luz, porque sou sério

E quero deixar claro que o soneto

Expõe completamente o tal critério.







67. Rastreando a verdade



Preciso revelar que estou sozinho

Na busca da verdade da existência,

Mas não no bom sentido da ciência.;

Naquele que demonstra o meu carinho.



A história construída é conseqüência

Dos atos da moral em desalinho:

Se fosse bom, meu coração daninho

Não vinha aqui trazer esta aparência.



Mas meu amor já cresce e transparece

Nos textos que disponho com prazer,

Pois sinto que a virtude não se esquece,



Ó coração que buscas teu dever

De orar a Jesus Cristo a melhor prece,

Que é quem acende a luz do meu saber.







68. Laurel de felicidade



Não quero receber, pela poesia,

Qualquer laurel do amor dos mestres meus.

Eu quero, sim, tornar feliz o adeus,

Sem castigar demais a melodia.



Por isso eu vou rogar aos cireneus

Que atentem para o gozo que daria

A trova mais vulgar e mais vazia,

Que é como a minha peço sempre a Deus.



Por que, meu coração, tu não destinas

A força da emoção aos sofredores,

Ao invés de chorar o que malsinas?



Enquanto o teu perdão aos meus credores

Tardar, o verso vai, como as vacinas,

Apenas amainar um pouco as dores.







69. Outra presença



Não peço que me leiam na esperança

De achar o melhor texto para si:

Pretendo simplesmente pôr aqui

O resultado simples que se alcança



Se existe algum esforço, como vi

Acontecer na Terra, na folgança,

Que o baile convidava para a dança,

Conforme comprovei quando vivi.



Mas vou elucidando o pensamento,

Narrando os bons sucessos com primor,

Sabendo que bem pouco aqui agüento,



Na hora de mostrar que sei compor

Na forma que me pedem no momento,

Por exigir a trova paz e amor.







70. Perdendo a caduquice



Chegando a este ponto da poesia,

É claro que já estou bem preparado

Para enfrentar a dor que, deste lado,

Há de sofrer alguém com alegria.



Ocorre que componho com cuidado,

Oferecendo os versos da harmonia,

Sabendo que ninguém melhor faria,

Se não obrasse bem e com agrado.



Por isso, é permanente o nobre ganho

Com que adornei minh’alma neste estudo,

Juntando pouco a pouco o meu rebanho



De espíritos amigos com quem mudo,

P’ra melhorar a vida, que acompanho,

Do povo que me segue. E isso é tudo...







71. Retrato dois por dois



Acuso a minha febre de poesia,

Porém, pouco ofereço de concreto.

Sugiro muita coisa e sou discreto

Que a dor de quem verseja é de agonia.



Estimo que os leitores que não veto

Estejam bem dotados de alegria,

Que o texto que disponho aqui daria

Para lembrar o amigo com afeto.



Respondo prontamente ao tal chamado

E nunca me senti encalacrado,

Perdido na floresta destas rimas.



A trova vem depressa à minha pena

E eu sinto a minha dor bem mais amena,

Bem mais quando recordo que me estimas.







72. Sem novidades



Não trago em minha mente nada novo:

Apenas o poema que lhes dito.

Se está correspondendo o meu escrito,

Alegra-me o trabalho pelo povo.



É claro que, nos versos, eu medito

Buscando esclarecer, sem dar corcovo,

Os dramas pessoais, para o renovo

Que nasce em cada trova mais bonito.



Sucede que me envolvo nesta rima

A ponto de deixá-la desprovida

De ajuda angelical, embora o clima



Se ponha favorável ao leitor

Que gosta de cuidar da própria vida,

Ao jeito de poeta em seu compor.







73. Rumo às estrelas



Não tenho vocação para escritor,

Portanto, não esperem que esta trova

Esteja revestida como nova

Nem traga no seu bojo grande ardor.



Se venho cá escrever, só se comprova

Que o texto que compus inferior

Mantém a mesma verve, o mesmo amor,

De quando as rimas ricas levam sova...



Ornatos filosóficos não tenho,

P’ra embelezar o verso em que me expresso,

Mas, mesmo assim, me alegro e não desdenho



A vez que me oferece algum sucesso,

Embora o mestre sempre franza o cenho,

Se a chave com fecho a outro peço...







74. Reconhecido e afetuoso



Inútil vir dizer que não existe

Orgulho nestas trovas que componho.

Idealizava algumas como em sonho.;

Realizei os versos sem um chiste.



E devo agradecer, hoje risonho,

O afeto dos amigos, pois resiste

A tantos maus momentos, quando triste

Aqui dispus as rimas, tão bisonho.



Falando francamente, eu acredito

Que a dor fica esquecida na leitura.

Da mesma forma fica, quando eu dito



O meu pobre poema, que depura

O mal que pratiquei, verso bendito,

Que rege o meu viver de criatura.







75. Pérolas e gemas preciosas



Encontro na gaveta do passado

Alguns poemas feitos com amor:

Eu tinha tempo para bem compor

As obras que mostravam meu enfado.



Reli uma por uma, com fervor,

E lágrimas rolaram por agrado

Das fórmulas honestas do meu brado

De exaltação da vida superior.



Aqui, porém, não tenho compromisso

Senão com a verdade desta esfera.

Assim, quanto medito, ganha o viço



Das obras que reduzem esta espera

A um pouco só de luz, que o bem atiço,

Fagulhas nada mais que o tema gera...







76. Exemplo a ser seguido



Notei, durante a vida, que podia

Rearranjar as trovas que encontrava,

Mantendo a mesma verve, inda que brava,

Parodiando a dor que não sentia.



Mas não deixei jamais na minha aljava

As setas do infortúnio da poesia,

Jamais a me esconder porque dizia

A origem dos tais versos que montava.



Agora volto a ser requisitado

P’ra demonstrar que sei causar prazer

Nas glosas que componho deste lado.



Porém, ser diletante quer dizer

Que tenho de mostrar-me sem enfado,

Na hora quando cumpro este dever.







77. A cura buscada



Preciso esclarecer que estou curado

Dos males mais agudos lá da Terra,

Senão irão pensar que o texto encerra

Apenas um favor p’ro meu enfado.



É claro que suponho enorme guerra

Na mente do leitor apaixonado,

Que quer ver a doutrina do meu lado

Ou vai considerar que o verso emperra.



Mas trago o sentimento da grandeza

À baila nesta trova tão singela,

Idéia que mantém a fé coesa,



Enquanto o meu espírito desvela

Que tenho sensatez para a defesa

Deste equilíbrio são, em rima bela.







78. Pela hora da morte



Entendo que o poema deva ser

O modo de enfrentar a dura crise

De quem se sente honrado mas não vise

À luz que só o amor tem por poder.



Exijo que meu verso não deslize

P’ro sentimento tolo do dever,

Mas que demonstre tanto bem-querer,

Conforme o coração frise e refrise.



Assusto-me co’a rima resultante

E volto-me p’ro meu grave decesso,

Desfecho mui terrível de um desplante.



Assim, ao protetor eu sempre peço

P’ra me ajudar na trova o que garante

Que alguma coisa enfim vai ter sucesso.







79. A fidelidade aos princípios espíritas



Constante neste estudo da doutrina,

Não posso oferecer senão esboço,

Em traços muito largos, neste endosso

Dos principais artigos. Mas, sovina,



Desdenho da beleza e deixo grosso

O estilo que padece e desafina,

Perante o teu conceito, clandestina

Pessoa que me lê, comendo insosso.



No entanto, tenho méritos senão

Aqui não me dariam atenção,

Frustrando-me da glosa o desespero.



Desfaço-me em retratos da psique

Mas pedem-me os amigos, sem despique,

Que faça uma só rima com esmero.







80. Um caso antigo



Estranho este meu verso quando escrevo

Neste caderno azul que a mim se abre.

No etéreo, ele parece agudo sabre,

A desfazer os nós do meu enlevo.



Porém, não vou deixando que endiabre

O coração do médium, pois não devo

Deixá-lo encalacrado no relevo,

Que as rimas então criam vil zinabre.



Pareço iluminado, pois difícil

É compreender a obra quando físsil

Por uma arguta mente com poder.



Contudo, se despacho mesmo assim,

Espero que o meu verso cá do fim

Traduza simplesmente bem-querer.







81. Nostalgia improfícua



Não posso relembrar o meu passado

Para julgar feliz este momento.

Se penso no que fui, eu não agüento

Conter meu pranto triste, desolado.



Mas houve muitos fatos, não invento,

Que foram bem alegres, no meu fado.

Suspeito que a verdade do outro lado

Não tenha tanta força e sentimento.



Percorro a minha vida e dou de mim,

Para compor um verso tão ruim

Que indica simplesmente que não amo.



Mas posso assegurar ao meu leitor

Que aceito condição tão inferior,

Se um verso apenas traga a luz que clamo.







82. Com afeição



Invoco os meus parentes com amor,

Ciente de que estou necessitado

De preces e carinhos deste lado,

Por reputar-me muito inferior.



Mas vou levando a vida, rude fado,

Em braços amoráveis, no setor

De atendimento etéreo e, ao compor,

O bem eu reconheço e de bom grado.



Eu sei também que irei reencontrar-me,

Para causar à prevenção desarme,

Lutando tenazmente a boa luta.



Se tenho algumas falhas bem descritas,

São muitas as que ficam circunscritas

No círculo dos dons da má conduta.







83. Primavera



Soltei os meus cadarços e descalcei

Os pés, que me levavam pelo solo.

Queria estar ainda em nobre colo,

Mas, velho, reconheço a dura lei.



Imaginei Jesus e me consolo,

Pois sei o quanto devo ao Cristo-Rei,

A quem as honrarias creditei

De ver florir na Terra os bens que arrolo.



Mas tudo há de avançar nesta estação,

Que os frutos hão de dar por certo um dia,

Correndo as tais colheitas no verão.



Enquanto vou crescendo na poesia,

Eu teço esta estrutura de escansão,

Julgando realizar bela harmonia...







84. A revolta



Estimo que não tenha compreendido

O que de mim se espera na poesia:

A rima eu reconheço muito fria

E o tema, se está bom, logo duvido.



Mas vou levando o verso em harmonia

Da forma mais usada, pois sabido

É que a norma nos põe mais atrevido,

Se a cumprirmos em linha e anatomia...



Sofrendo mais percalços no caminho,

Compreendo que esta trova favoreça

O despertar do amor, gentil carinho.



Expondo o sentimento mui formoso,

Minh’alma se supera e, mui travessa,

Não deixa demonstrar meu doce gozo...







85. Na gaveta!



Dedico-me a compor a boa rima,

Deixando p’ra depois a voz do alento:

Pareço solfejar meu sofrimento,

Achando que terei a tua estima.



Leitor, caso percebas meu tormento,

No rumo da palavra que me anima,

Não cases dois com dois, pois, como acima,

Irei dar de rebelde, enquanto invento.



As obras são perfeitas quando alcanças

Sofrer junto comigo neste inferno,

Em jogos pueris, como as crianças



Que rodam na ciranda um canto terno,

O meu cabelo ornado em belas tranças,

O coração bem leve, enquanto hiberno...







86. Saber notório



Insisto junto ao médium que preciso

Sentir as emoções que lhe transmito.

Eu sei que vou deixá-lo muito aflito,

Porém, ele é o primeiro deste aviso.



Agora que lhe dei um nobre fito

No texto que lhe passo, com juízo,

Percebo que se aferra ao paraíso

Das obras mais perfeitas, que não dito.



O imbróglio está formado e me dá gosto

Atrapalhar, nos versos, as idéias

Que o bem deste serviço está composto.



Eu vejo mais alegre a minha turma,

Fremente a discutir nas assembléias,

Querendo que o leitor leia e não durma...







87. Rosália



Não tenho experiência de compor

Mas recebi lições de fundo prático:

O cálculo dos sons é matemático.;

O sentimento gera mais amor.



Assim, eu complemento o verso estático,

Trazendo para a trova outro fator,

Com erres carregando o meu leitor,

Fazendo o meu estilo mais enfático.



Requeiro ao mestre meu que me programe

As rimas mais felizes, mais perfeitas,

Que deverão passar por sério exame,



Ao exigir do médium que as eleitas

Não forcem seu trabalho no baldrame,

Ao concretar os dons destas receitas.







88. Ao sacolejar da carruagem



Não vou trazer meus versos para a luz,

Sem dar-lhes compostura e propriedade:

Bem sei que existe alguém que mui se agrade

Por carregar no ombro alheia cruz.



É quando peço a Deus que não me enfade,

Ao repetir na trova, que compus

Em nome do Senhor Cristo Jesus,

Os temas deste amor que já me invade.



Assim é que me lembro doutras eras,

Bem longe das estradas com asfalto,

Em que me sacudia ali deveras.



Ocorre que o progresso que ressalto

Nas linhas dos traçados das esferas

Conduz o viajante para o Alto.







89. Relatório obrigatório



Destaco nestes versos o bom clima

Que existe cá na escola que freqüento:

Se falha tanta vez meu pensamento,

Também hei de acertar nalguma rima.



Ativo meu instinto e não me ausento

Sabendo que meu mestre sempre anima

Aquele que, loquaz, os versos mima,

Elaborando a trova sem tormento.



Achei que tal castigo é compromisso

Que todos hão de ter, caso, sem viço,

Vierem para a prosa demorada.



Ocorre que não tenho a sã memória

Dos textos com que alcançam muita glória

Os vates que não erram quase nada...







90. Entourage d’amour



Não tenho pretensões a poliglota

Nem quero estimular qualquer vaidade,

Mas posso vir falar desta saudade,

Pois vez por outra o verso cá me embota.



No entanto, quando o afeto persuade

O coração do vate, a rima brota

E a mente mais se encanta e logo anota

As sensações de vida em caridade.



Disponho a melhor forma e faço força

P’ra que a palavra sirva e não distorça

O sentimento bom que já me anima.



Se trago uma expressão em outra língua

É que padeço o mal, vivendo à míngua

De mais conhecimento deste clima...







91. Solícito e oportuno



Entendo que o leitor também precise

Das rimas destes versos tão simplórios:

Se os tais caminhos são assim inglórios,

Ninguém irá ficar por isso em crise.



Os textos já não são aleatórios,

Embora o mal o vate sempre frise,

Para mostrar ao povo algum deslize

Que seja o testemunho dos notórios.



Agora que suspendo a minha rima

E deixo a trova pronta p’ro ditado,

Conforta-me o meu mestre que me arrima



Com bons conselhos, próprios deste lado,

Comprovação cabal de sua estima,

Que aqui traduzo e mostro o meu agrado.







92. Ramificações morais



Intento ser honesto o mais que posso

Nos versos que componho cá no etéreo,

Sabendo que meu tema, embora sério,

Será como a ferida que mais coço.



Ainda que desvenda o meu mistério

Nas rimas do refrão, o mestre nosso

Irá encaminhar como destroço

O rumo da escansão, sem refrigério.



Ocorre que não tenho permissão

P’ra demonstrar um gozo material

Na fórmula que trouxe sem razão.



No etéreo, a gente sofre o mesmo mal,

Porém, já não se sente o coração

Bater em descompasso natural...







93. Sem aborrecimento



Estimo que este verso irá conter

As rédeas para o freio da maldade:

Ocorre que esta rima persuade

O autor a repensar o seu dever.



Se desse muita corda à caridade,

Talvez não me exprimisse com poder

P’ra definir o bem a se exercer

Quando se está infeliz e sem vontade.



Preciso investigar um pouco mais

O que produz o amor, a luz e a paz,

Nos corações humanos conturbados.



Não quero referir-me ao desonesto

Que vem para ferir a quem, de resto,

Merece a repreensão dos recatados.







94. Boa acolhida



Carimbo o passaporte e me apresento

Para ditar os versos do poema.

Eu sei que não terei nenhum problema,

Pois tudo mereceu assentimento.



No entanto, quando estou, neste momento,

Feliz por demonstrar-me sem algema,

Ainda alguém me toca, pois suprema

É minha condição de amor-tormento.



Vigio cada letra e aperfeiçôo

Os sons que aqui disponho pela regra,

Pois altaneiro e nobre é este vôo.



E quando o bom leitor me desintegra

As rimas que dispus e agora ecôo,

Aí meu coração bem mais se alegra.







95. Buscando a harmonia



Não vago pelo mundo do mistério

Mas tenho algumas dúvidas atrozes.;

Não ouço por aí estranhas vozes.;

Também não sinto dor nem refrigério.



Não posso aqui ficar nas poucas doses

De versos mais harmônicos, pois, sério,

Hei de compor o texto, e com critério,

Porque não são os vates tão ferozes.



— Mas sofre aquele que nos traz a rima?

Pensávamos que o mal que desanima

Já não vertesse pranto nessa esfera...



Pois saiba o nobre amigo que perdura,

Na forma do soneto ainda pura,

Esta harmonia túrgida da espera...







96. Resoluto e audaz



Alcanço a minha meta e delibero

Que devo prosseguir noutro sentido:

O alcance da poesia, não duvido,

Irá tornar-me lúcido e severo.



São as mesmas as rimas com que lido,

Mas ponho mais amor e sou sincero,

Dizendo ao bom leitor que agora espero

Causar-lhe mais prazer, no tom devido.



Não vou aconselhar nem dar-lhe o rumo

Das coisas perenais, em versos frágeis,

Que o bem é natural, se a vida aprumo.



Então, eu vou orar mui simplesmente,

Pois são as simples trovas bem mais ágeis,

Para rogar ao Pai que assista à gente.







97. Satisfeito e poético



Anoto o sentimento que me enleva

E vejo como estou feliz da vida.

Será a minha trova a tal guarida

Que vai proporcionar-me o fim da treva?



Recolho-me com medo da descida

Ao fim dos versos toscos, como em leva

De alinhados soldados que alguém ceva,

P’ra amedrontar o povo em forte lida...



Não vou desconfiar se receber

Um voto de perdão no bem-querer

De algum leitor amigo ainda vivo.



Por isso é que me visto de alegria

E dou um trato a mais nesta poesia,

Regozijado, pleno e criativo.







98. Perigo, perigo...



Não peço que me escutem as promessas

Que os fatos evidentes são preclaros.

Assim ,quem chega aqui por vis disparos

Talvez encontre o círculo às avessas.



Os que não se debatem são mais raros

E freqüentam esta esfera muito às pressas.

Por que tu, coração, logo tropeças

Em hábitos da Terra, os mais avaros...



Quando caducas ao compores versos,

Julgando enfeitiçar os universos,

Tu vais encher a página de dor.



A prece te preserva de tal sina,

Colhendo para ti o que me ensina

Jesus, pelas palavras do Mentor.







99. Num relance



Estive noutra esfera a visitar

Amigos mui queridos lá da Terra,

Pessoas adiantadas para a guerra

Das rimas e das lavras do lugar.



Estavam tão contentes que me emperra

O verso descritivo e, devagar,

Consigo prosseguir para explicar

Que me alegrei também, subindo a serra.



Quando voltei p’ra cá é que senti

Que estou muito atrasado no programa:

Progrido muito lento por aqui.



Assim, tento evitar mostrar meu drama,

Tecendo o meu soneto para ti,

Ó coração de luz, p’ra minha fama...







100. Força comedida



Não tenho o que dizer sobre a poesia

Que acabo de compor cá no rascunho:

Vai ser preciso ouvir o testemunho

Do povo que me lê e me aprecia.



Se o gajo não compõe de próprio punho,

Querendo seja sua alheia via,

É lógico que espanta e apenas cria

Motivos de desprezo: “Eu não gatunho!”



Agora, o que é melhor neste trabalho

É o fato de cumprir um bom dever,

Idéia repetida que agasalho.



Compor de forma original é fácil:

Precisa ter na mente o tal poder

De transmitir um sentimento grácil...







101. Resultado promissor



Analisei as trovas anteriores

E consegui sentir as suas falhas.

Ó coração feliz, por que atrapalhas

As rimas mais cordatas dos amores?



Restaram-me na mente vis migalhas,

Com que me alimentei, sem as tais dores

Que comumente apontam impostores,

Na crítica voraz às maravalhas.



Tornei, então, meu verso cadavérico,

Às vezes, com sentido, às vezes sem,

Na busca de tornar meu tom feérico.



Mas vejo que não trouxe p’ra ninguém

Aumento de virtudes, pois quimérico

Propósito de amor meu dom não tem...







102. Receio infundado



Preciso controlar minha emoção

Ao vir dispor na tela o verso tosco.

Não briga o professor aqui conosco,

Mas penso que os leitores notarão.



Escasso, este meu tempo causa enrosco

Na rima que mantenho de plantão,

E, se meu mestre diz apenas não,

Eu logo me abespinho e o som sai fosco.



Forçada a trova fica e eu com ela

Me ponho a meditar sobre o meu tema,

Olhando a natureza assim mais bela.



Depois vou redigindo sem problema,

Que a voz humana a rima sempre sela

Com lacre bem dourado, linda gema.







103. O retalho



Rasguei a minha roupa em rude prego,

Rompendo as pobres calças no fundilho.

Se fosse a minha mãe, diria: — Filho,

Me deixa consertar, que eu logo prego.



No entanto, assim pensei: — Me desvencilho

E logo aqui costuro, pois não nego

Que tenho de mostrar força em meu ego,

Deixando para trás tal empecilho.



Aí surgiu o drama mais penoso,

Porque não tinha como dar-me o gozo

De rematar a falha tão grosseira.



Faltava-me o retalho salvador,

Como me falta ainda dar amor

Na trova que redijo e que se esgueira.







104. Alegria



Postulo melhor sorte para a trova,

No entanto, aqui repito as mesmas rimas

E digo: — Coração, vê se te animas,

Agora que saíste dessa cova.



Mas ele não aceita, nestes climas,

Vir revelar a dor que se renova

Ao simples recordar de alguma prova

Em que sofreu desditas, sem estimas.



Por isso é que proponho descrever

O nosso bom convívio como grupo,

Pois rimos satisfeitos, que o dever,



Embora merecesse algum apupo,

Acaba por causar só bem-querer

E assim ouço uma voz: — Não me preocupo!...







105. Confraternizando



Evoco a melodia do soneto

E teço comentários com as rimas:

“Ó coração, eu sei quanto me estimas,

Orando já por mim neste coreto.;



Mas logo o pensamento que lastimas

Empolga-me e me põe como esqueleto

Nesta estrutura linda de dueto,

Que traz a perfeição das pantomimas.”



Assim, eu dou de mim com mais vigor

E aqui traduzo o bem que sei dispor

Em versos quase nulos por fraqueza.



No entanto, fecho a trova no capricho,

Pois sei que neste caso sou mais bicho,

Enquanto arrisco a forma em rude empresa.







106. Saudável e vigoroso



Pretendo terminar esta proeza

Com versos mais felizes, oportunos.

Bem sei que muitos julgam os alunos

Apenas temerários, junto à mesa.



Ocorre que estes temas tão jejunos

Combinam com a fórmula-surpresa

Das trovas resultantes, sem beleza,

Mas vívidas e fortes... dos gatunos...



Espero que esta idéia não machuque

E não revele aqui o amável truque

Dos incentivos leves do meu mestre.



Sucede que Jesus nos ensinou

Que a prece não se eleve como em show,

Enquanto este soneto é mais terrestre...







107. Estou chegando lá



Não vou tecer a história duma vida,

Porque minha memória feneceu.

Ninguém irá saber como fui eu,

Nas entrelinhas simples desta lida.



No entanto, como o verso aqui é meu,

Procuro desfazer a luta havida

Em termos de saudade, pois duvida

O gajo que me entende e já sofreu.



Não quero, simplesmente, dar de mim,

No drama desta trova tão chinfrim,

Ridícula facécia de uma dor.



A rima que componho e que me exalta

Se encontra lá no FIM, em caixa alta,

Desejosa de achar o teu amor.







108. Solidário



Entendo que meu verso justifica

O tempo que se gasta em apanhá-lo:

Não é como o cantar de simples galo,

Mas venho crocitar de forma rica...



Sucede que meu dia é de regalo,

Na trilha do trabalho que me enrica

E assim ajo contente e a trova fica

De molde a superar qualquer abalo.



Também já compreendo que o sofrer

Terá para os que estudam tal poder,

No despertar do amor e da virtude.



A rima que me encontra tão vaidoso

Talvez não leve ao bom leitor um gozo,

Mas irá demonstrar que o mal ilude.







109. Agora ou nunca



Proponho ao meu leitor que estabeleça

Roteiros para a vida aí na Terra,

Senão essa passagem logo emperra

E estalam fortes dores de cabeça.



Eu sei pois foi assim que, em dura guerra,

Passei por sofrimentos, sem que esqueça

Os erros cometidos, já que espessa

Foi a culpa que agora a trova encerra.



Bem sei que o professor às vezes veta

Lampejos dos alunos que, sem jeito,

Obrigam a pensar em outra meta.



Se for tolo o meu tema, sem proveito,

Perdoa, coração, o mau poeta

E atende ao sentimento que aqui deito.







110. Reflexão



Espelho-me na dor do meu amigo

E sofro, pois não posso amenizá-la:

Queria de Jesus a melhor fala,

Enrolo-me na peça com que brigo.



O mesmo ocorre aqui, quando se embala

O sentimento bom em doce abrigo.

No íntimo pretendo ser comigo,

Que o bem do amor jamais no som resvala.



A sorte é que consigo ir ao fim

Da trova, que matuto muito tenso,

Sabendo que o melhor é para mim



Deixar a rima clara e o mal suspenso,

Tratando de aceitar seja ruim

O verso em que me expresso e que não venço.





111. Pertinácia proveitosa



Quem lê os meus poemas e se intriga,

Por serem tantas as poesias feias,

Irá dizer ao coração: — Falseias

As próprias comoções, sem briga...



Aqui, já não resolvo ações alheias

Nem dou de mim na solução da intriga.

O meu melhor eu fiz p’ra que prossiga

Acesa esta lanterna que ensombreias.



Depois que trago o verso e que disponho

As rimas para o bem do meu trabalho,

Eu noto que a verdade vira sonho



E digo p’ra mim mesmo: “Hoje não falho,

Pois cumpro um compromisso em que me enfronho,

Mostrando ao bom leitor que amor espalho.”







112. Soterrado



Não sinto o tal prazer de estar na esfera

Da perfeição, do amor e da verdade.

Também, jamais foi essa a minha espera

E agora uma tristeza aqui me invade.



Rogar por proteção não vou, pois há-de

Achar o coração que esta quimera

Irá se dissolver, quando a piedade

Encher de luz o mundo que o encarcera.



Já não me obrigo mais a ser feliz,

Pois tenho de fazer tudo com jeito

E não de qualquer modo como fiz



Durante a vida toda, mas aceito

Que meu progresso é lento, e, por um triz,

Não fico soterrado em negro leito.







113. Sereno e preciso



Não vou atormentar-me aqui de novo,

Que o verso que componho é muito claro.

É fácil de dizer que há reparo,

Se a rima não regride até seu ovo.



Alegre pensamento é dom que amparo,

Julgando ser feliz todo o meu povo.

É pouco para a turma que um corcovo

Contenha do meu médium, fato raro.



Atinjo o meu limite e não me afasto

Das normas da poesia que hoje sigo,

Embora o melodrama esteja gasto.



Assim, peço perdão ao meu amigo

E deixo registrado, no meu rasto,

A regra que me traz feliz comigo...







114. Inconformado e bronco



Navego pelas águas da poesia,

Em barco que faz água a cada instante.

Aqui sempre se espera que alguém cante,

Com voz muito educada a melodia.



E quando o gajo rouco vai adiante,

Deixando na amplidão a gritaria,

Suspende-se a leitura e põe-se em fria

O texto cujo amor não se garante.



Resolvo definir a minha trova,

Sabendo que a emoção já não é nova,

Embora o verso bronco seja sério.



Sucede que me sinto inconformado

Por não deixar a dor posta de lado,

Tornando a minha rima refrigério.







115. Sem artimanhas



As rimas se sucedem bem depressa

Apenas no ditado que lhe passo.

Amigo, não pergunte por que faço.;

Apenas vá compondo e os versos meça.



Agora é que preciso deste espaço,

Ainda que não tenha um bom à beça.

O seu desejo atendo, que interessa

Dispor um bom registro e um forte abraço.



Ao Pai nunca me lembro de pedir

Que ajude ao caro médium Wladimir,

Porque me basta a sua perfeição,



Não no sentido sério do progresso,

Mas por saber que posso ter sucesso

Na fórmula preciosa da escansão.







116. Interrompido



Eu sei que vou poder chegar ao fim

Dos versos desta trova malferida.

Se o gajo que me lê inda duvida,

Espere muita coisa já de mim.



Não tenho compaixão por esta lida

Que afeta o bom leitor assim, assim,

Não tanto por rogar que esteja afim

Mas por fazer a rima mui sofrida.



O teste deste tempo de poesia

Não sei se alguém aqui melhor faria,

A dar co’os burros n’água de repente.



É como a minha briga se resume,

Num texto só, num magro e vil volume,

Conquanto o canto esteja diferente.







117. Corajoso mas humilde



Sustento este meu verso já sem pranto

E dou à minha trova um bom sentido:

É com coragem que hoje convalido

As rimas que compus não sendo santo.



À brisa que me anima é que convido

Os ótimos leitores, tanto quanto

Exponho a tal rudeza, como espanto

Os males que me afligem, pois trepido.



Alguém irá dizer que de propósito

O texto que ofereço vem compósito

De termos que magoam a escansão.



Talvez seja bem isso o que disponho,

Porque devo tornar bem vivo o sonho

De refletir mais luz por meu irmão.







118. Meu recado



Procuro festejar cada poema

Que trago ao bom leitor que me acompanha,

Por isso é que a vontade já se assanha

De ver chegar ao fim cada problema.



Mas tenho a rima frágil, quase estranha,

Que o verso vem caduco quanto ao tema.

O bom seria dar à trova extrema

O brilho de uma luz que ao bem rebanha.



O estudo que progride nesta classe

Não posso concluí-lo embora abrace

As teses mais perfeitas da doutrina.



Sucede que me falta melhor dom,

Como ao soneto pesa o triste som

Que a voz falseia e logo desafina...







119. Um momento de alegria



Estamos tão contentes co’a poesia

Que vamos desfilando nestas tardes,

Mas muito aqui tememos os alardes

Da glória de um primor que não teria.



Porém, também tememos ser covardes,

Ao hesitar na trova que devia

Dar ao leitor a dica da alegria,

Pois, tu, meu coração, por elas ardes.



É claro que fazemos muito esforço,

Que o som mais se apresenta rude e torso,

Na ânsia de mostrar nosso carinho.



O jogo de palavras prevalece,

Mas vamos encerrar com doce prece:

“Jesus, nos dê amor neste cantinho!”







120. Está difícil?



Alegra-me a ocasião de ditar versos,

Pois poucos irão ler minh’obra-prima.;

Assim, vou reverter o que me anima,

Ao perscrutar a vida e os universos.



Entendo como poucos esta rima

E dou-me por vencido, quando imersos

Os sons neste oceano, controversos,

Espoucam numas linhas, sem estima.



Assim, eu vou levando de vencida

O texto da lição que me convida

A dar ao bom leitor esta notícia.



É claro que não formo a compreensão,

Que muitos se aborrecem co’a escansão,

Agindo com ternura e sem malícia.







121. Sem sofreguidão



Acalmo o meu amigo e lhe proponho

Que ajude em minha rima neste dia:

Estou muito nervoso e não faria

Um verso, quanto menos um risonho.



Sorri o meu colega: — Quem diria

Que o tal me confiasse um belo sonho,

A mim que tenho horror a ser bisonho,

Ardendo por fugir desta poesia?!...



Mas logo verifica o companheiro

Que o tema desenvolve por inteiro,

Em largas pinceladas de improviso.



Eu mesmo me extasio e sigo em frente,

A demonstrar que estou muito contente,

Por revelar que alguém tem mais juízo.







122. Uma prece estapafúrdia



Não trago para a trova a melhor prece,

Que a rima não se ajusta em minha mão:

Bem sei que meus leitores estarão

Admirando o verso sem a messe.



Estando sempre triste, o pobretão

Irá manchar a folha que padece

Este castigo tolo, que envaidece

O vate, que se mostra sem razão.



Levanto o pensamento a Jesus Cristo

E peço que me inspire e me proteja,

Para rogar ao Pai melhor que isto.



É quando aqui me lembro da cerveja

Que irei beber depois, se for benquisto

Da turma que me segue sem que eu veja...







123. Caprichoso



Renego a minha parte mais perversa

E ponho à mostra um só sutil defeito.

É muito que me encontre satisfeito,

Com rima sempre triste de conversa.



Exalto o sentimento como eleito,

Se estou estimulado e se dispersa

A trova neste tom, já que diversa

Será a contextura do meu pleito.



Ressalto o compromisso nesta espera

De se encontrar o autor hoje inspirado

E teço o melhor verso p’ra galera



Que lê e que me ama mesmo assim,

Testemunhando a glória que arrecado,

Em perdoando um vate tão ruim.







124. Amizade requerida



Não penso no poema como prova

De estarmos do outro lado dessa esfera:

Apenas agasalho a rude espera,

Em versos que perfazem minha trova.



A luz que de mim parte é só quimera

De quem pretende estar com vida nova,

Mas tudo quanto faço só desova

O pensamento que o cansaço opera.



Se o bom leitor tornar-se meu amigo,

Contornando, assim, o vil castigo,

Que impus à minha rima tão inquieta,



Irá saber que estou sempre disposto

A vigiar para impedir encosto

De alguém que quer passar-se por poeta...







125. Perseverança



Aqui me manifesto pela prosa,

Porquanto esta poesia é mais complexa:

Se estou pensando bem, o verso anexa

Dificuldades outras para a glosa.



O efeito é mais bonito, já que indexa

Os sons que se repetem p’ra quem goza,

Com ávida saudade, carinhosa,

Os tempos áureos de uma dor implexa.



Também estes meus versos deixarão

Lembrança imorredoura para o bardo

Que vibra enquanto escreve sem a mão?



Quem sabe ainda direi ser leve o fardo

Que tenho por pesado no refrão

Que trago com amor e salvaguardo?!...







126. Recomendando atenção



Espero, com modéstia, sugerir

Que se atente para as dores da jornada,

Que dizem, com pesar que desagrada,

O que por nós espera no porvir.



Às vezes, não sentimos quase nada,

Pensando bem mais tarde concluir

Que tudo que fizemos foi mentir,

Que o sofrimento se perdeu na estrada.



É pouco, para a trova que rascunho,

Dizer para o leitor ter mais juízo,

Conceito elementar sem testemunho.



Quisera ser mais fácil este aviso,

Porém, se estou feliz, o verso cunho,

Com medo de causar só prejuízo.



Indaiatuba de 24.05 a 26.11.02



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