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Contos-->Lua Nua -- 15/04/2004 - 23:46 (Barbara Amar) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Todo dia passo por ele, o motorista do carro cinza, eta carrinho caído, sempre estacionado na calçada vizinha. Esse cara vive me olhando, não é coincidência ele me olha sim, olha de um jeito meio sem graça com matizes de safadeza - a diferença de classes fala alto, ele motorista particular eu médica. Sinto seu olhar até de costas; já acostumei, faz parte da paisagem.
Voltava do hospital hoje à tarde e o vi. Dessa vez não me olhou, quem olhou fui eu. Enquanto aguardava o Jaime abrir a grade de ferro da garagem surpreendi o rapaz cuspindo, apenas cuspindo, mas que cusparada deliciosa. Cuspia devagar, concentrado, deixando a saliva escorrer pela boca, um fiapo de saliva pingando, ato prazeroso, parecia prestes a gozar. Me molhei.

Seu nome é Raul. Descobri por acaso, o amigo dele, o porteiro bonzinho e sorridente. Ouvi quando o chamou. Esse Raul não me sai da cabeça desde aquela tarde. É bonitinho, de salto alto fico maior que ele mas quem se importa? Tô com tesão. Masturbei-me pensando nele, vidrada na fantasia do cuspe. Agora sou eu quem o procura, nem disfarço. Ele notou. E se contar para os colegas? Dane-se. Quer saber? Estou apaixonada. Ah lá vou me masturbar de novo, quero gozar com seu nome na boca: Raul, Raul, Raul.

Hoje é domingo, acordei cedo para manter a pele dourada. De volta, quase esbarrei em Raul.
- A praia tava boa?
- Ótima.
Minha resposta saiu espontânea, se o Zé Carlos souber me mata. Raul sorriu, satisfeito e foi embora. Ontem, quando passei, o porteiro bonzinho começou a cantar:
- Amor, amor.
Pelo canto dos olhos notei que Raul abaixou a cabeça, envergonhado. Nem foi comigo, faço igual aos três macaquinhos: não ouço, não vejo, não falo.
E quando estou com Zé Carlos? Vira o rosto, ignora-me.

Mundo pequeno, saía da ginástica no Leblon e quem me esperava?
- Tudo bem?
- Legal e você? Pera aí, cadê o carro cinza?
- Tá ali, naquele estacionamento. Sorriu, com seu jeitinho encabulado.
- Veio aqui me ver?
Respondeu com outra pergunta:
- Como é seu nome?
- Dula.
Fitou-me espantado, entendi, meu nome é Maria da Lua, mas convenhamos não dá. Dula para os amigos.
- Posso chamar você de Lua?
- Lua? Essa é nova. Pode.

Raul trabalhava para uma senhora de idade, o carro herança do marido. Fomos namorar na Barra da Tijuca; só uns amassos, tinha doentes para atender no ambulatório e não podia me atrasar. Marcamos um encontro para domingo próximo, seu dia de folga. Meu noivo, médico também, estaria de plantão em um hospital da Baixada Fluminense, em Bonsucesso. Eu, soltinha, em liberdade.
A discrepância social, bem visível na época dos olhares fortuitos, desapareceu ao tirarmos as roupas. Macho e fêmea, pleno cio, devoradores e devorados, liberam cheiros e secreções.
- Me dá tua saliva, te peço.
A princípio ele não entende, volto no tempo e explico. Raul acha graça.
- Nunca me pediram isso.
Abro a boca, ele me beija.
- Não, insisto. O cuspe, daquele jeito.
Ele cede, ejacula saliva na minha boca enquanto me torce os braços. Seu rosto se altera: cai a máscara de bom moço e emerge a de filho da puta, que me fascina e ensandece. Masturba-se e goza no meu rosto.
- Toma na cara, Doutora!
Não permite que me lave, não me beija. Só pode ser proposital, duvido desse nojo. Coloca-me de quatro apoiada sobre almofadas e me penetra sem pedir licença. Quer o anelzinho de carne e o usa à exaustão. Quando insinuo não ter gozado, replica:
- Daqui pra frente só goza quando eu quiser. É pegar ou largar.
Peguei, lógico. Após muita insistência o convenço da necessidade de me banhar, até meus cabelos foram batizados. Invade o chuveiro, o banho já terminando e urina em cima de mim.
- Desgraçado! Filho de uma puta!
Balança o pênis e asperge o líquido amarelo citrino na minha barriga, nas coxas.
- Mas que Doutora mais desbocada. Quer lavar a boca?
Avanço pra ele (vou te furar os olhos), mas parece que o material se esgotou.
- Sorte sua, debocha.
Perco o controle e choro. Me agacho no piso ladrilhado soluçando de raiva e humilhação. Ele me abraça, arrependido.
- Desculpe, por favor me perdoa.
Continuo a chorar e ele se ajoelha:
- Olha, tava brincando. Isto não se repetirá.
Meus olhos secam, tanto o ódio; ódio de mim pois apesar tamanha baixaria continuo apaixonada (ele não pode saber disso).
Banhamo-nos juntos, ele me lava, me ensaboa, enxágua. Serviço completo.
- Sei por que você fez isso comigo.
Raul abaixa a cabeça e não responde.
- Preconceito. Acha-se inferior a mim. Mas não é, tá ouvindo? Somos iguais.
- Você que começou com aquela história de cuspe.
- E daí? Não mandei você mijar em mim. Tem que aprender a jogar com sutileza, a sondar o gosto da parceira. Cuspir, esporrar é uma coisa. Mijar, cagar é bem diferente.
- Vou aprender, murmurou ele.
- E a propósito, você sabe fazer uma mulher gozar?
O jeito como me olhou, temperatura instável diria a moça do tempo sujeita a chuvas e trovoadas.
- É pegar ou largar! (minha última cartada)
Ele pegou.

15/04/04
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