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Contos-->Namoro em curta-metragem -- 14/04/2004 - 17:17 (José Geraldo Barbosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lílian e Gerson cursavam o ginásio. Ele, um pouco mais velho, estava na 4ª série e ela na 3ª. A idade estava ali por volta dos catorze, quinze anos.
Encontravam-se nos intervalos das aulas e estavam sempre se conversando, amigos que eram.
As conversas eram triviais, chegando às raias do banal até. Coisas próprias da idade, ambos adolescentes, descompromissados, ávidos de desfrutar os prazeres da vida, sem se aterem a fatos desagradáveis, sem “esquentar a cabeça”, como já se dizia, nos longínquos 1958, 1959.
É bom lembrar que, naquele tempo, não eram permitidas intimidades entre adolescentes, principalmente em se tratando de adolescentes de sexos distintos. Portanto, o relacionamento entre eles era de pura amizade e companheirismo. Ou tinha de ser.
Para se ter uma idéia, se apenas o fato de se conversarem fosse levado ao conhecimento dos pais da menina, era um Deus nos acuda.
Sobrava punição para todos os gostos. Proibição de ir ao cinema, veto à freqüência a brincadeiras dançantes, bem como a festinhas de aniversário ou de qualquer outro tipo. Chegava-se ao cúmulo de impedir-se o comparecimento à missa dos domingos. Fora outras punições menos concorridas.
Mencionei “brincadeiras dançantes”. Eram reuniões em que compareciam rapazes e moças para dançar ao som de toca-discos, geralmente chamados de “vitrola”, “sonata”, “pick-up” ou outro nome qualquer que se atribuía aos aparelhos de som da época.
Os rapazes ficavam encarregados de levar bebidas, alcoólicas ou não, e as moças levavam salgadinhos e doces.
Normalmente, tudo era bem organizado e a freqüência garantida. Daí o sucesso desse tipo de reuniões, que duravam das oito da noite às onze horas, ou meia-noite, no máximo.
O término delas conincidiria hoje com o horário em que a moçada está saindo de casa para a diversão noturna, a famosa "balada".
Bem, mas voltemos ao assunto, ou seja, o relacionamento entre Lílian e Gerson.
Passado algum tempo, Lílian começou a se ligar no Gerson, isto é, começou a sentir algo diferente, sensação assim meio inexplicável, que nunca havia sentido antes.
Já havia conversado com algumas colegas sobre o amor, coisa que achava fantasiosa, pois, em sua opinião, não existia esse amor que pregavam, cheio de dedicação, entrega. Acreditava simplesmente em amizade, e pronto.
Mas, alguma coisa mudara. Lá isso, mudara, pois, toda vez que, sem querer, as mãos dele roçavam as suas, sentia um certo arrepio; sentia, por frações de segundo, um arrebatamento, uma sensação que a fazia flutuar por um átimo.
Nos intervalos das aulas, quando alguns rapazes jogavam bola e esta lhes escapava ao domínio, vindo em direção a eles, Gerson, bom jogador de futebol que era, apressava-se em chutar a bola de volta. Ela só observava.
De uma hora para outra, porém, começou a ocorrer algo estranho: toda vez que a bola vinha, Lílian também se encaminhava em direção a ela, chegando mais ou menos junto com o Gerson.
Só para, por uns instantes, colocar seu corpo em contato com o dele, pois, sempre fingia perder o equilíbrio e ele a apoiava, abraçando-a e, geralmente, dando-lhe um apertinho mais ou menos desnecessário.
Isso também a levava às nuvens por um instante apenas. Um instante que ela tinha a maior vontade de prolongar por horas, por meses, por séculos até.
Ela, no entanto, não revelava isso a ele. Nem a ele, nem a ninguém, porque ainda existia o preconceito de que mulher que fosse mulher, jamais declararia seu amor a um homem. Jamais correria atrás do chamado sexo forte. Se o fizesse, correria o risco de ser chamada de “vassourinha”, ou coisa que o valha. Ficava mal vista, não só pelas colegas, como, e principalmente, pelos demais representantes do machismo, que sempre existiu, sim senhor.
Então, o que fazer? Deixar o tempo correr, até que algum dia acontecesse algo que permitisse a oportunidade de um entrosamento maior, algo que proporcionasse uma chance para que tudo acontecesse como um fato fortuito, um mero acaso, uma trama do destino.
E, finalmente, surgiu essa oportunidade.
Havia um colega de classe do Gerson, cujo pai era proprietário de uma chácara, situada a aproximadamente dois quilômetros de distância da cidade. Tratava-se do Filé.
Filé era o aluno mais baixo da classe, e gozava da simpatia de todos os demais colegas. Por ser bem baixinho, foi eleito o mascote dos times de futebol de salão, vôlei e basquete da 4ª série ginasial. Tanto é que o seu apelido dera nome às três equipes.
Aproximava-se seu aniversário e ele programou uma festinha para comemorá-lo. Local da festinha: a chácara de seu pai. Horário da festinha: exatamente no horário das aulas; horário matutino, pois a festa incluía um lauto almoço feito pela mãe do Filé, que era exímia cozinheira.
Entre moças e rapazes, Filé convidou cerca de vinte pessoas, especialmente os alunos da 3ª e da 4ª séries.
No dia marcado, assistiram à primeira aula, e, no intervalo, juntaram os pertences e meteram o pé na estrada, em direção à casa do Filé.
Por que assistiram à primeira aula? Para enganar os pais, já que estes geralmente levavam seus filhos até o portão do ginásio, a fim de terem certeza de que não enroscariam antes de chegar ao estabelecimento de ensino.
E foi aquela alegria pelo caminho. Sabe como é, a moçada já é alegre por natureza, imagine em grupo e, ainda por cima, a caminho de uma festa que prometia muito.
Já na estrada, Lílian, sempre ao lado do Gerson, deixava que sua mão roçasse a dele, com a maior cara de quem não estava nem aí. Fazia parecer que não estava sentindo nada, mas só Deus sabe o desejo que ela sentia de grudar naquela mão e acariciá-la fortemente, apertá-la a mais não poder.
Por sua vez, Gerson, que nunca fora bobo, nem nada, agia da mesma forma. Por dentro, vibrava com aquele contato que, embora sutil, breve, quase imperceptível, esquentava o seu sangue. Mas, por fora, era só frieza.
Chegaram, enfim, à chácara. Era uma propriedade de mais ou menos cinco alqueires, onde o pai do Filé cultivava uns dois mil pés de café, criava algumas cabeças de gado, algumas de porco, frangos e galinhas, tudo solto pelo terreiro. Possuía uma casa que, embora modesta, era muito ampla e aconchegante ao mesmo tempo. Havia, ainda, um belo pomar, situado a uns quinhentos metros da casa.
Depois dos cumprimentos de praxe, começou a rolar o ambiente de festa, com alguns já tomando umas cervejinhas, outros ingerindo refrigerantes. Uns poucos encaminhando-se ao pomar para saborear algumas frutas, outros sentando-se em torno da mesa da sala para jogar baralho, enfim, todo mundo se ajeitando de alguma forma.
Lílian, quando percebeu que o pessoal que havia ido ao pomar já regressara, com o ar mais inocente do mundo, pediu ao Gerson que a levasse lá, pois estava com uma vontade danada de saborear uma manga.
Gerson, captando a mensagem, não teve dúvidas. Concordou no ato. E lá foram eles, afastando-se dos demais, procurando camuflar a saída estratégica.
Pararam debaixo do pé de manga, uma árvore frondosa e muito viçosa, carregadinha de frutos. Com a desculpa de apanhar alguns, encostavam-se um no outro, sempre mantendo aquela postura de não estar ligando para a coisa.
Até que, de repente, Gerson colocou suas mãos nos ombros de Lílian, apertou-os suavemente, trazendo-a de encontro a seu peito e, com o maior carinho, com os lábios trêmulos de emoção e desejo, deu-lhe um beijo nos lábios mais trêmulos ainda.
Ficaram assim por vários minutos, enlevados, saciando-se, um nos lábios do outro, do mel do amor, da seiva de um desejo agora incontido.
Quando estavam no auge das carícias, quase chegando às nuvens, aos céus, ouviram um ruído estranho.
Depois de alguns segundos, desvencilharam-se um do outro e, qual não foi sua surpresa ao ver que o barulho provinha do andar modorrento de uma vaca, que se encaminhava justamente na direção deles. Ou melhor, na direção da mangueira frondosa.
Gerson tentou gesticular, gritar, com a intenção de espantar o animal, mas, qual! A vaca continuava a andar tranqüilamente rumo à apetitosa mangueira.
Então, resolveu agir. Primeiro, ajudou Lílian a subir na árvore e, em seguida, ele mesmo subiu. Ficaram ali na copa da árvore, bem juntinhos, agarradinhos e, a princípio, até gostaram da inusitada situação.
A vaca se aproximou e, calmamente, passou a abocanhar as mangas que pendiam dos galhos mais baixos, mastigando com aquela pachorra característica dos bovinos.
De vez em quando, ela lançava olhares melosos para os dois que, aos poucos, foram ficando incomodados com a situação, pois, a sensação de serem observados durante a troca de beijos e carinhos, não era nada confortável.
Em dado momento, Gerson, fixando seu olhar no olharzão da vaca, exclamou:
- Lílian do céu, a vaca tem olho de boi. Nunca havia notado isso.
Foi um momento de descontração, em que ambos riram bastante, porém, em seguida, voltou aquela sensação de desconforto. E o animal, olhos semicerrados, mascando, mascando...
Por sorte, tendo decorrido mais de uma hora, o Filé, lá na sede, sentiu a falta dos dois, preocupou-se, e saiu à procura deles.
Por uma questão de lógica, o local mais indicado para o início da busca era o pomar. E, assim, Filé os encontrou.
Desenxavidos, como se dizia. Suas caras desanimadas transformaram-se imediatamente em alegria ante a presença do amigo que, com a maior facilidade espantou a vaca. Vaca que, segundo o desejo do casal, deveria ir para o brejo.
Desceram e, sob risos e brincadeiras, voltaram ao local da festa, onde o almoço já estava sendo servido. Foram saudados pelos demais convidados, que os olhavam com ar malicioso e, até com um pouco de inveja. Mal sabiam o que houvera acontecido!
Depois do almoço, regressaram à cidade e, Lílian e Gerson, em uma conversa rápida e objetiva, decidiram terminar o namoro naquele mesmo dia.
Foi o namoro mais curto de que se tem notícia. Durou cerca de meio dia, apenas.
A alegação para terminar o namoro foi sugerida por um e aceita por outro sem ressalvas, nem emendas:
- Nosso namoro foi legal. Curto, mas legal. Só que, durante a maior parte do tempo, foi muito “a...vaca...lhado”!
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