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Artigos-->Paulo Coelho na Loucademia -- 30/07/2002 - 10:55 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Paulo Coelho conseguiu mais uma façanha: depois de tirar da cartola quase 50 milhões de coelhos, digo, livros, vendidos em dezenas de países, passou a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. “Se antes esse sonho parecia uma heresia, agora é uma realidade” – falou o mago das letras (Veja, 31 Jul 2002).



Há muita gente que contesta a obra de PC, por achar que só escreve coisas viscosas, etéreas, rebatizadas de “esotéricas” nesses tempos politicamente pastosos da New Age. Nesse sentido, os críticos têm razão, o consumidor padrão de PC é o mesmo que sofregamente engole Harry Potter aos milhões e acredita em duendes, como Xuxa. Os temas de PC não fogem à onda de bruxaria e mistério que impregna grande quantidade das obras atuais, uma espécie de nostalgia e volta aos tempos românticos, heróicos e misteriosos do Rei Artur e seus cavaleiros. Há pouco tempo, tínhamos apenas livros de ficção e não-ficção. Hoje, foi acrescentada uma terceira estante nas livrarias, a estante esotérica, que atende milhões de pretendentes a Merlin dos dias que correm.



Muitos confundem esoterismo com misticismo. O misticismo estava bastante em voga durante a Idade Média, quando tínhamos, p. ex., um Francisco de Assis, verdadeiro ser místico, que sofreu as dores do mundo à semelhança de Jesus Cristo, com chagas sangrando dos pés, das mãos e até do peito, exatamente como o Mestre. Outro ser místico, de nossos tempos, foi Chico Xavier, transfigurado para o outro mundo recentemente, que em sua vida só praticou o bem, de modo que até o seu corpo emitia uma intensa luz. O propalado misticismo, hoje, não passa de um caldo de cultura retirado do liqüidificador da globalização, com paladar tutti-frutti, de modo a atender a todos os gostos, desde o oriental, o ocidental e até o islâmico. Ou seja, agrada a todos. Ou quase todos.



Ainda que tais livros esotéricos contenham uma pretensa filosofia, que não passa de uma filosofia de folhinha de cozinha, o objetivo principal é simplesmente distrair o leitor, em alguns momentos de fingido transe, com alguma pregação de moral e um ambiente de espiritualidade, de modo que a vida crua que vivemos se torne um pouco mais palatável. Visto dessa forma, os livros de PC e outros esotéricos nada mais fazem do que antigamente faziam os livros de aventura de um Emílio Sálgari ou Karl May, as aventuras de Tarzã ou Robinson Crusoé, as heróicas contendas de capa-e-espada, como um Ivanhoé, um Quo Vadis ou Os Três Mosqueteiros. Ou as aventuras em busca do Cálice Sagrado. Tais livros – os de aventura ontem, os “esotéricos” hoje – nada mais fazem do que levar o leitor a um mundo virtual, mais doce, de esperança, enquanto nossa carcaça humana vagueia sem destino por esse complicado mundo. Por que Paulo Coelho haveria, por exemplo, de imitar o escrito hermético de um “Ulisses”, de James Joyce, altamente cerebral, de difícil decodificação, com neologismos indecifráveis, parecendo por vezes um idioma do país dos ogros? Assim, por que essa celeuma em torno de Paulo Coelho, se ele “acertou a mão” e conseguiu gratificar o coração de milhões?



Afinal, PC já vendeu 41 milhões de livros em todo o mundo, e não é possível que tanta gente esteja enganada. Algum valor ele deve ter. No momento, ele é o 5º escritor que mais vende no planeta – o que dá mais ou menos um terço de um fenômeno como Harry Potter atual ou a metade de um Karl May do século passado, que vendeu mais de 100 milhões de livros, incluindo a saga de “Winnetou”, herói indígena da América do Norte. Ou, se você quiser outra comparação, isso dá quase a metada dos AK-47 Kalashnikov vendidos no mundo todo até hoje – um “best-seller” macabro dos mercadores da morte.



Assim, nada mais justo que PC assuma sua cadeira na ABL. Afinal, o critério para ingresso na casa dos simpáticos velhinhos é bastante elástico, a exemplo do que ocorre na França: aqui, o candidato não precisa necessariamente ser um homem de letras. Basta que tenha escrito um livro. Por isso, nos chazinhos da ABL podem ser vistas personalidades como o cirurgião plástico Ivo Pitanguy. O próprio Roberto Marinho, ao que parece, não tem um livro sequer publicado. Jornalista que foi, escreveu um monte de artigos em seu próprio jornal, “O Globo”, que certamente daria para formar pelo menos um livro, explicam os entendidos no assunto. Tá bem...



PC irá ocupar a cadeira deixada pelo economista Roberto de Oliveira Campos, o “Bob Fields” da canhota brasileira. Aliás, quando Bob Fields foi eleito, aconteceu um tremendo forrobodó na Loucademia. Como a cadeira havia pertencido a Dias Gomes, a ex-esposa deste ameaçou retirar os restos mortais do escrevinhador de novelas do mausoléu da ABL, localizado num cemitério em Botafogo. Anteriormente, já havia ocorrido outro arranca-rabo na Loucademia. Esquerdistas viscosos da ABL (Antônio Houaiss, Dias Gomes, Antônio Callado, Nélida Piñon, João Ubaldo Ribeiro) “bombardearam”, sem sucesso, o prêmio concedido a Roberto Campos, pelo seu livro “Lanterna na Popa”, em detrimento de “Chatô”, de Fernando Morais – outro canhotinha, amigo da canhopatota loucadêmica.



Nenhuma cadeira da ABL pode ser monopólio de dinastias (como parece já ocorreu com a cadeira que foi passada de Jorge Amado para sua mulher Zélia Gattai). E também não pode ser alvo de disputa ideológica, coisa que não ocorreu nem durante a ditadura militar. Nesses tempos loucadêmicos, será que o filósofo e escritor Olavo de Carvalho tem alguma possibilidade de um dia sentar numa daquelas cadeiras tão cobiçadas?



Com milhões de livros publicados no exterior, PC passou a influir no saldo positivo de nossas transações comerciais com o mundo. Enquanto isso, o que de útil traz para o Brasil a maioria dos outros “imortais” da ABL?



Parabéns, Paulo Coelho! Enquanto os críticos espumam de raiva, a caravana passa... com os camelos carregados de dólares...





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