Réquiem para um poeta morto-vivo
Fátima Dannemann
Um minuto de silêncio...
Não chegue a janela,
Não olhe a rua,
Esqueça o brilho da lua
No céu...
Um minuto de silêncio
Mataram a poesia,
Secaram meus versos...
Calem a orquestra,
Pare a música, maestro.
A fonte secou...
Escrevo um réquiem
Para meus versos.
Ponto final na poesia
Que eu nunca escrevi.
Chamem o Guarda,
Chamem o juiz,
Fechem as saídas mais próximas,
Prendam os réus com algemas bem fortes,
Prendam os réus na masmorra mais funda
Mataram a poesia,
Secaram meus versos,
Ponto final em textos
Que nenhum poeta assinaria
E depois de prender os culpados,
Feche as janelas de meu quarto,
Vedem meus ouvidos,
Tapem meus olhos.
Não deixem que eu me inspire,
Nem que eu pire
Achando que posso escrever.
Mataram a poesia
E secaram meus versos.
Ponto final em versos que nunca serão lidos.
(Ao imbecil que achou que meu poema era bom demais
e preferiu atribuir a Drummond)
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