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Erotico-->AS AVENTURAS DO PADRE DEODORO EM CAMPOS ETÉREOS — XXXIV -- 20/08/2003 - 07:43 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Nesse momento, Deodoro notou que o salão, arrumado no sentido da platéia voltada para o palco, estava recebendo muitos encarnados.

Imediatamente, perguntou a Francisco:

— Teremos ficado por vinte e quatro horas conversando?

— Por seis dias, exatamente.

— Mas foram tão poucos os temas que desenvolvemos.

— É que todas as idéias que se configuraram exigiram confirmações experimentais, de forma que, por exemplo, quando citamos os efeitos tóxicos dos ingredientes dispersos na atmosfera espiritual, levamos a cabo a demonstração do tópico, vamos dizer assim, em segundo plano de consciência, para que houvesse completa assimilação dos conhecimentos.

— Mas isso não deveria registrar-se em nossa memória?! — Era Everaldo a exclamar indagativo.

— Pois está totalmente assinalado. Apenas o processo ficou sem percepção neurológica, porque desconhecido de vocês. Ocorre, nesses casos, o mesmo fenômeno do desligamento das sensações do ambiente externo, como quando Deodoro ficou imerso em si mesmo, agora de maneira inversa, ou seja, vocês não perceberam que o tempo se desenrolava, enquanto iam assimilando os conhecimentos no íntimo do cérebro. Nada perderam do que transcorreu no seio das explicações e comprovações, mantendo-se despertos, enquanto nós três íamos passando-lhes as noções que redundaram nos conceitos absorvidos. Deixaram, porém, de observar o ambiente material, permanecendo apenas no plano etéreo, onde os fenômenos adquirem a natureza própria desse campo vibratório. No instante em que lhes lembrei um fato relacionado às suas atividades junto aos mortais, ou seja, a realização das benfeitorias através dos médiuns, deram com os elementos densos e se situaram junto à crosta.

Roberto, saindo de seu mutismo de tão longa data, ofereceu subsídios para o desenvolvimento do próximo evento no centro espírita:

— Aposto que o amigo Francisco nos trouxe de volta ao salão principal da casa espírita, para nos proporcionar novas experiências junto aos encarnados.

— Certamente, caro amigo, porque hoje presenciaremos atividade muito próxima à prédica ensejada pela leitura do evangelho durante a missa: teremos uma palestra aberta ao público.

Deodoro, contudo, incomodado com certas informações, propôs a Francisco:

— Antes, querido instrutor, poderia esclarecer-nos a respeito das atividades nos terreiros de macumba ou quimbanda? Devo dizer-lhe que o espiritismo desvinculado das teorias cristãs jamais provocaram em mim o mínimo interesse, pelo menos, devo ressalvar, nas duas vidas de que me lembro.

— Depois, “querido discípulo”, quando estivermos melhor preparados doutrinariamente, porque temos necessidade de embasamento teórico para compreendermos o que sucede nos dois planos, durante as reuniões nesses templos. Registremos, por enquanto, que devemos manter atitude de forte respeitabilidade quanto aos irmãos que atuam junto a todos os centros de atividades espirituais específicas.

— Não terei sido respeitoso? Terei, “querido instrutor”, empregado terminologia errada, a que se presta aos sentidos pejorativos? Deveria ter dito umbanda ou candomblé? Pois afirmo-lhe...

— Você me entendeu plenamente. Não lhe percebi nenhuma conotação torpe ou desagradável.; fique tranqüilo. O desrespeito a que me referi advém de fatores sociais e culturais, o que inclui os aspectos religiosos. Entretanto, somos todos irmãos em Deus, o que deve pôr fim aos preconceitos carnais remanescentes. Restar-nos-á avaliar, talvez com resultados surpreendentes para você e seu pessoal, os níveis evolutivos dos seres envolvidos nessa esfera de atuação, quer relativamente aos desencarnados, quer quanto às pessoas na Terra. É o que vamos deixar para depois, querido discípulo.

Os sete interessaram-se pelo movimento de encarnados e espíritos que se dispunham no auditório. Cada pessoa, independentemente de se relacionar com alguma outra, trazia um ou mais companheiros ou desafetos da área espiritual.

Joaquim, habituado às reuniões, explicou:

— Não temos muitas observações especiais. Uma vez vista uma palestra, viram-se todas. O que mais nos importa notar é o fato de que a grande maioria dos mortais vem com a mente voltada para o aprendizado de novidades, mas apenas subsidiariamente, porque o que lhes move para hora e meia de sermão é o passe posterior, aquela vibração que os encarnados havidos com boa conduta moral vêm ministrar, conforme orientação haurida em cursos próprios. Nada existe, entretanto, em tais aulas, que nos testemunharia aspectos muito diferentes do comum dos procedimentos em situação de assimilação de conhecimentos, com exceção, talvez, para o fato de que muitos se julgam apaniguados por deferência de espíritos de porte evolutivo mais elevado. Mas é fácil de se deduzir que existam, em todos os cultos e religiões, aqueles que se querem apadrinhados, por exercerem com afinco as tarefas que lhes são determinadas, uns com mais honestidade, outros com menos. A diferença mais sensível, em nosso caso, está na proteção dos guias, que buscam influenciar no sentido de melhor categorizar-se o servidor, à medida que vai estudando e praticando o evangelho e as demais obras da extensa literatura espírita.

Roberto acrescentou, de um ponto de vista mais humano:

— O que sempre suspeitei, quando freqüentava as sessões de cura e não me importava mais com o desenvolvimento da hanseníase, era que havia terrível ciumeira entre as pessoas que participam dos trabalhos. Vejam bem, não estou dizendo que, particularmente nos centros espíritas, é que ocorre o fato. Estou afirmando que também aqui ele se dá. Se com maior ou menor vigor, depende de cada agrupamento de indivíduos.

Deodoro não gostou do encaminhamento das questões:

— Se é como estão afirmando os dois, tanto faz ouvir esta palestra quanto ir a qualquer reunião religiosa bem intencionada. A distinção a se estabelecer mantém conexão com o grau de proteção que recebem, de acordo com o merecimento geral dos fiéis. Não penso que este seja o melhor caminho para enxergar o que se passa nos corações das pessoas. É preconceito, embora resulte de observação in loco. O que estou desejando administrar é o pensamento como um complexo empreendimento cerebral, cheio de aspectos definitivamente clínicos, segundo as propostas das teorias científicas aplicadas ao comportamento humano. Quero sentir, sobretudo, quais os elementos em jogo, neste ambiente diversificado quanto aos objetivos dos indivíduos com as principais cargas de benemerência, para proveito dos necessitados. Se nós nos ativermos aos procedimentos, iremos mergulhar no lamaçal dos desejos humanos eivados das premissas materialistas. Precisamos ressaltar o que existe de positivo na busca dos lenitivos das dores e quais as repercussões mentais e morais das lições que a palestrante irá desenvolver.

Hermógenes, que não queria imiscuir-se na temática dos parceiros, pediu um aparte para simples reflexão paralela:

— Tenho para comigo que estamos sendo fortemente influenciados pela presença corpórea dos mortais, tanto que não somos capazes de ir muito longe nas discussões, barquinho levado penosamente a remos junto à costa. Se ficarmos neste tipo de apreciações, apesar de toda a boa vontade de cada um, não elucidaremos nenhum ponto expressivo deste tipo de reunião.

Alfredo instigou o grupo:

— Quem tiver solução melhor do que prece rogativa de assistência dos protetores, que sugira.

João, que não se permitira opinar, foi quem elaborou a oração:

— Deus, nosso Pai Celestial e Protetor Cósmico, dai-nos condições de observar com justeza o conjunto das reações morais e intelectuais das pessoas congregadas nesta casa de saúde espiritual, para que possamos inferir que processos de conduta socorrista melhor se coadunam para propiciar-lhes mais tranqüilidade e desapego aos valores materiais. Se for possível, Senhor, enviai mensageiros de luz para nos magnetizarem, protegendo-nos contra as emanações que nos perturbam e nos desencaminham do reto sentir e pensar. Fazei-nos, por conseguinte, tarefeiros na aplicação dos recursos fluídicos de que dispomos, enriquecendo-nos de vibrações eletromagnéticas para que possamos trabalhar junto aos médiuns passistas, extraindo deles o conteúdo perispiritual que nos oferecem para emprego medicamentoso nas feridas dos companheiros ansiados por assistência. Acima de tudo, possibilitai-nos ser instrumentos de vossa justiça, de acordo com as sacratíssimas leis que devemos respeitar e cumprir, em perfeito equilíbrio, de sorte que, ao término dos trabalhos mediúnicos, sejamos capazes de restabelecer os organismos dos trabalhadores encarnados, acrescentando-lhes o estímulo da felicidade do dever cumprido.

Enquanto orava, os sete amigos se concentraram no entendimento das solicitações ao divino poder e tão compenetrados ficaram de que iriam receber o auxílio requerido que se esqueceram de si mesmos, terminando por se verem envolvidos por uma aura de luz impenetrável para os sentimentos menos dignos de quem emitia vibrações de pessimismo, de orgulho, de vaidade, de inveja, de ciúme, de megalomania, de prepotência, frutos do egoísmo mais ou menos entranhado em suas personalidade imperfeitas. Foi assim que se deram conta de estarem preparados para o exame de caráter superior do evento rotineiro, conforme se lia na placa de avisos à entrada:

“Às quintas-feiras, às dezenove horas e trinta minutos, palestra doutrinária aberta ao público e sessão de passes.”

Havia uma observação:

“As pessoas receberão os passes de acordo com a ordem de chegada. Para isso, devem ocupar os lugares da frente.”

Na lousa, ao fundo do palco, onde se via a mesma mesa sobre cavaletes, com a mesma toalha azulzinha e a mesma jarra, estava escrito o tema do dia e o nome da conferencista:

“A necessidade do estudo da doutrina espírita, por Adriana dos Santos.”

Deodoro, ao contrário do que se poderia esperar dele, por seus longos anos de sacerdócio acrescidos pelo magistério em nível superior, teimava em ensimesmar-se, esforçando-se por fazer desconhecido dos demais os sentimentos. Lançava, pois, substanciais avisos de que estava laborando em causa própria a prece em que se recolhia. Na intimidade de seu coração, pedia:

Jesus, eis-me perante vós requerendo o benefício da bênção da humildade, da modéstia, da transigência e do sacrifício intelectual. Bem sei, Mestre querido, que deverei analisar um discurso simples e despretensioso, muitíssimo diferente das peças oratórias a que estou acostumado. Recebi a informação de que a senhora que irá explanar a respeito de tema de tão grande importância para esta espécie de público mal cursou o primeiro grau, acabando por renunciar aos estudos na última série, sem haver recebido o certificado de conclusão. Sendo assim, temo pelas vibrações de desagrado que irei emitir, sempre que os preceitos da retórica, da gramática e da lógica verbal forem transgredidos. Quando Everaldo me revelou as impropriedades cometidas pela médium que lhe traduziu a mensagem para a linguagem humana, fiquei a cismar sobre a razão de o meu escrevente ter escrito o que lhe ditei de maneira quase integralmente certa, conforme a minha influenciação. Peço-vos, se não for pedir demasiado, que o meu entendimento das exatas palavras pronunciadas na intenção de atingir o povo reunido se modifique de imediato no cérebro, sem qualquer vestígio de crítica, ainda que justa e amável. Deveria solicitar-lhe, se melhor categorizado dentro dos parâmetros que formam os orientadores dos seareiros do espiritismo, que me fosse permitido ajudar no enunciado dos pensamentos, fornecendo subsídios para que a palestrante pudesse atingir mais facilmente o seu público. Com isso, porém, estaria, no mínimo, contrariando a boa ordem estabelecida pelos ilustres coordenadores dos trabalhos da casa. Não vos peço, pois, mais do que discernimento para encaixar-me no contexto das atividades doutrinárias e lucidez para a percepção do que ocorre na intimidade das pessoas, segundo as repercussões dos significados das palavras, das frases e dos roteiros. Assim seja.

Mal teve tempo de encerrar pela fórmula tradicional, apesar de, sem oferecer o respectivo enunciado fraseológico, haver agradecido o que os protetores fariam por ele.

Francisco aproximou-se e, evidenciando que notara o teor da meditação levada a efeito pelo padre, elogiou-lhe a atitude:

— Querido amigo, não foi outro o pedido que fiz a Jesus em minha primeira participação neste tipo de aula. Estou seguro de que você será atendido, porque notei profundos reflexos de sinceridade e de cortesia em sua aura. O que poderemos discutir mais tarde é sobre ser justo ou não esconder tão nobres sentimentos dos companheiros. Fique a pergunta: será que não poderiam usufruir eles de momento de tanta contrição e beleza moral? Um derradeiro conselho, porque a sessão foi aberta, a música desligada, a prece inicial dita e a oradora apresentada: busque não atribuir muita ênfase ao teor encomiástico de minhas informações e carregue na censura velada que reside na questão que lhe propus.

A primeira frase da conferencista provocou alguns engulhos literários no culto sacerdote:

— Queridos confrades e confreiras, vamos pedir aos excelsos orientadores do centro que nos acompanhem nesta modesta apresentação temática. Vocês estão vendo no quadro-negro que pretendo falar a respeito da necessidade doutrinária dos estudos espíritas.

Deodoro não se preocupou com a sua reação de desagrado. Reorganizou os pensamentos como julgou ser a forma mais correta, aproveitando os mesmos dizeres e seguiu ouvindo com muita atenção o texto, que se reproduzia mais ou menos decorado. Superara o primeiro impacto. Daí para a frente, acompanharia os ensinamentos do conteúdo, desligado inteiramente da formulação idiomática.

Enunciava a oradora:

— Em primeiro lugar, é preciso saber se todos nós aqui dentro respeitamos o princípio da existência de um espírito imortal dentro de cada pessoa. Sei que muita gente está pensando que a Doutrina Espírita se preocupa com a existência da vida após a morte, mas é importante saber se todos nós aceitamos a presença de uma centelha divina dentro de cada um de nós. Se a gente tem a certeza de que foi Deus o criador do universo e de todas as coisas, tem também de considerar o que se deve entender pela palavra Deus, pela idéia de Deus, pelo conceito de Deus. Se a gente não está preocupada com esse assunto, pelo menos devemos saber que Kardec se preocupou e perguntou aos espíritos que lhe davam as informações para a formulação da Doutrina dos Espíritos que era Deus. Sabem onde se encontra a pergunta e a resposta? Em “O Livro dos Espíritos”, onde também existem muitas outras questões elucidadas pelo etéreo, ou melhor, pelos espíritos de luz, porque a gente não pode aceitar como profundo ou verdadeiro tudo o que os desencarnados nos passam através da mediunidade dos nossos companheiros. Mas aqueles seres que se manifestaram através de muitos médiuns ignorantes, como as meninas Baudin, a mais velha com apenas quatorze anos, sabiam que estavam produzindo uma obra revolucionária para a época, forçando Kardec e todos os seguidores da primeira hora a enfrentarem a poderosa Igreja Católica, que dominava a Europa continental. Então, Kardec não podia ficar desarmado perante as forças intelectuais de quase dois milênios de estudos teológicos e evangélicos. Vocês pensam que Kardec não precisou estudar a doutrina que ele foi chamado a codificar? Estudou e estudou muito, durante os restantes quatorze anos de sua vida, depois que tomou contato com os fenômenos das mesas girantes ou dançantes. Eu sei que estou fornecendo muitas informações ao mesmo tempo. E como é que eu e os meus companheiros do Centro Espírita “Tugúrio do Divino Amor” não nos perdemos neste emaranhado de conceitos, de pensamentos e de sabedoria? É porque nós estudamos as obras da Doutrina Espírita, com muito afinco e dedicação. No final desta conversa franca que estamos tendo, porque estou acreditando que a maioria detesta ler e eu estou acusando vocês atrás da preguiça e da comodidade das novelas ou do futebol da televisão, vou dizer quais são os dias e os horários em que vocês podem vir participar dos estudos nesta casa.

Deodoro, tendo decifrado quais argumentos preponderavam na exposição, passou a examinar a atmosfera que se formava a partir das reações dos espectadores. Interessou-se também pelo trabalho dos irmãos socorristas envolvidos com alguns obsessores admitidos no recinto. Contudo, para não desviar-se para temas específicos de sua vivência cultural, chamou os seis amigos e mais o agregado João, porque os dirigentes espirituais da casa se entretinham em serviços técnicos de assistência à expositora, e requereu que se mantivessem atentos para os fatos de maior significado dentro de seus propósitos de ajudar os necessitados.

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