Saíamos a caminhar naquele tempo e eu não conseguia entender toda aquela festa. A primavera na floresta.
As árvores todas eclodindo flores.
O perfume no ar. Os pássaros, as borboletas, os colibris.
Tudo aquilo me tocava. Mexia comigo.
íamos todos felizes. Naquele tempo os garotos eram pequenos e adoravam estas aventuras. Chamávamos a mata de floresta.
Costumávamos levar uns lanches gostosos e ficávamos horas andando por lá. Absorvendo a paz daquele lugar.
Vez ou outra encontrávamos outras pessoas caminhando também.
Muitas pessoas mal intencionadas entravam na mata para furtar madeira, xaxim ou orquídea.
Nós só íamos para admirar a natureza. Ouvir o canto dos pássaros e curtir o silêncio. Era um lugar tão gostoso!
Os meninos gostavam dos cipós e se dependuravam feito Tarzan.
Havia trechos impenetráveis, e em alguns, nos atolávamos na insistência de ir um pouco adiante.
Um menino que cresceu em nosso lar, frequentando-o quase que diariamente, costumava ir conosco e minha afilhada também ia algumas vezes.
Estou recordando tal qual era tudo naquele tempo. Nosso filho caçula bem pequeno e cheio de pedidos. O mais velho se atrapalhando com os tocos no meio do caminho.
O "Rique" me perguntando se o bolo era com cobertura de chocolate.
Recordo os gritos de meu filho ao ver um tatu. Aquilo o encantou de tal forma. Ver aquele bicho correndo para dentro da toca.
E o canto do sabiá laranjeira! Ficávamos quietinhos escutando.
Hoje olho para trás e vejo quanta coisa mudou.
A mata está lá no mesmo lugar de sempre.
Não é primavera agora e as árvores não estão floridas.
As borboletas e os pássaros devem viver por lá como naqueles tempos.
Tudo deve permanecer igual... Nós mudamos... O tempo passou.
Hoje em dia os meus filhos já são moços e tem obrigações, tem outros interesses. Nós também não somos os mesmos. Vivemos uma vida diferente.
Mas a mata ficou guardada num canto de cada um de nós. Tenho certeza que ficou porque foi um tempo bom aquele. Um tempo de coisas muito especiais e muito puras.
Era um tempo de festa. Não só na floresta. Um tempo de festa dentro de nós.