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Artigos-->THOMAS BERNHARD: Elogio do fragmento -- 26/12/2000 - 19:10 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Thomas Bernhard nasceu em 9 de fevereiro de 1931 na cidade holandesa de Heerlen e morreu em fevereiro de 1989 na cidade de Gmunden, na Áustria. De sua extensa e polêmica obra, com a qual conquistou de seus contemporâneos o respeito como um dos maiores prosadores em língua alemã do século XX, podem-se ler em português: Árvores Abatidas (Holzfällen), traduzida por Lya Luft para a Editora Rocco do Rio de Janeiro em 1991; O Náufrago (Der Untergeher), na tradução de Sérgio Telarolli recentemente publicada pela Cia. das Letras; e "O Sobrinho de Wittgenstein. Uma Amizade", tradução de José A. Palma Caetano para a Assírio & Alvim.

Aquela que é considerada sua obra-prima, "Verstörung", foi traduzida pela editora portuguesa "Relógio d Água".

Mais recentemente ainda, a mesma Cia. das Letras publicou Extinção (Auslöschung), na excelente tradução de José Marcos de Macedo, gerando extensa polêmica e excelente acolhida tanto por parte da crítica como do público leitor.

Aquela que é considerada sua obra-prima, Perturbação (Verstörung), foi traduzida por Hans Peter Welper e José Laurenio de Melo para a Editora Rocco, em 1997. Em Portugal, a Editora Relógio d Água lançou "O Náufrago" e "Perturbação", ambas traduzidas por Leopoldina de Almeida.

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O texto "Elogio do Fragmento" é uma compilação de três fragmentos de Alte Meister (Suhrkamp 1988, pág. 39-41), que Bernhard denomina “uma comédia”. Sob o título “Elogio do Fragmento”, suplemento dominical do jornal Die Zeit, de Hamburgo, apresentou ao seu leitor uma espécie de primeira leitura da obra, quando do seu lançamento.



Com sua fina ironia, seu ceticismo mordaz quanto às possibilidades do ser humano em sua fase dita pós-moderna, Thomas Bernhard nos arrasta, inapelavelmente, para o centro mesmo do debate literário deste final de século.



Obs.: não tendo outro opção, incluo, sob a rubrica "artigos", uma tradução. Ela foi publicada em 1999 pela revista de tradução MODELO 19 (agora em seu décimo número), editada por Ricardo Meirelles ()

na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, campus de Araraquara. Para aqueles que lêem o alemão, o texto original oferece a oportunidade para um cotejo.



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Elogio do Fragmento



[A cada dois dias, o filósofo Reger estuda um único e mesmo quadro de Tintoretto. No museu, um banco lhe foi reservado. Ele vai e vem como o dia e a noite; quanto a isso, pode-se ter certeza. Às vezes, também, fica ali sentado, mergulhado em leituras e lê atentamente Montaigne, Pascal, Voltaire...]



[...] eu nunca li um livro inteiro em toda a minha vida, a minha maneira de ler é a de um folheador altamente talentoso, portanto, de um homem que prefere folhear a ler, que, portanto, costuma folhear dúzias, em determinadas circunstâncias centenas de páginas, antes de ler uma única que seja; mas quando esse homem lê uma página, ele o faz tão a fundo como ninguém e com a maior paixão pela leitura que se possa pensar. Eu sou mais folheador do que leitor, isso o senhor tem de saber, milhões de vezes mais folheei do que li em minha vida, mas sempre, ao folhear, tive ao menos tanta alegria e efetivo prazer intelectual quanto à leitura. Em suma, na verdade é melhor a gente ler tão-somente três das quatrocentas páginas de um livro, mil vezes mais minuciosamente do que o leitor normal, que tudo lê, mas nem uma única página em profundidade, ele disse. Na verdade, de um livro é melhor que se leiam doze linhas com a máxima intensidade e, desse modo, ganhar acesso ao todo, como se poderia dizer, do que lermos o livro inteiro como o leitor normal, que ao fim e ao cabo conhece o livro lido exatamente tão pouco quanto um passageiro de avião a paisagem que ele sobrevoa. Ele, na verdade, nem sequer chega a perceber os contornos. Assim, é de revôo que as pessoas lêem hoje tudo, todas; elas lêem tudo e não sabem nada.



[...] Quem lê tudo, não entendeu nada, ele disse. Não é preciso ler o Goethe inteiro, o Kant inteiro, tampouco o Schopenhauer inteiro é necessário; algumas páginas do Werther, algumas páginas das Afinidades Eletivas e, ao final, sabemos mais sobre ambos os livros do que se os tivéssemos lido da primeira à última linha, o que, em todo o caso, nos proporcionaria o mais puro dos prazeres. Porém, a esta drástica auto-restrição corresponde tanta coragem e tanta energia intelectual, que ela mui raramente apenas pode ser alcançada, e que nós mesmos esporadicamente apenas logramos consegui-la; o homem que lê, como o carnívoro, é voraz, de uma voracidade em sua forma a mais repulsiva e, como o carnívoro com o estômago e com a saúde do resto do seu organismo, acaba com a cabeça e arruina por completo sua inteira existência intelectual.



[...] Acontece que a nossa época, como um todo, há muito tempo já deixou de poder ser tolerada, ele disse, apenas ali, onde vemos o fragmento, é que ela nos parece suportável.



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Lob des Fragments



[Jeden zweiten Tag studiert der Philosoph Reger ein- und dasselbe Gemälde von Tintoretto. Eine Bank im Museum wurde ihm deshalb reserviert. Er kommt und geht wie Tag und Nacht; darauf ist Verla&
61538;. Manchmal sitzt er dort auch in Lektüre versunken, liest andächtig Montaigne, Pascal, Voltaire...]



[...] ich habe niemals in meinem Leben ein einziges Buch ausgelesen, meine Art zu lesen ist die eines hochgradig talentierten Umblätterers, also eines Mannes, der lieber umblättert, als liest, der also Dutzende, unter Umständen Hunderte von Seiten umblättert, bevor er eine einzige liest; aber wenn der Mann eine Seite liest, so liest er sie so gründlich, wie keiner und mit der grö&
61538;ten Leseleidenschaft, die sich denken lä&
61538;t. Ich bin mehr Umblätterer als Leser, müssen Sie wissen, und ich liebe das Umblättern genauso wie das Lesen, ich habe in meinem Leben millionenmal mehr umgeblättert, als gelesen, aber am Umblättern immer wenigstens so viel Freude und tatsächliche Geisteslust gehabt, wie am Lesen. Es ist doch besser, wir lesen alles in allem nur drei Seiten eines Vierhundertseitenbuches tausendmal gründlicher als der normale Leser, der alles, aber nicht eine einzige Seite gründlich liest, sagte er. Es ist besser, zwölf Zeilen eines Buches mit höchster Intensität zu lesen und also zur Gänze zu durchdringen, wie gesagt werden kann, als wir lesen das ganze Buch wie der normale Leser, der am Ende das von ihm gelesene Buch genauso wenig kennt, wie ein Flugreisender die Landschaft, die er überfliegt. Er nimmt ja nicht einmal die Konturen wahr. So lesen heute die Leute alles im Flug, sie lesen alles und kennen nichts.

[...] Wer alles liest, hat nichts begriffen, sagte er. Es ist nicht notwendig, den ganzen Goethe zu lesen, den ganzen Kant, auch nicht notwendig, den ganzen Schopenhauer; ein paar Seiten Werther, ein paar Seiten Wahlverwandtschaften und wir wissen am Ende mehr über die beiden Bücher, als wenn wir sie von Anfang zum Ende gelesen hätten, was uns in jedem Fall um das reinste Vergnügen bringt. Aber zu dieser drastischen Selbstbeschränkung gehört so viel Mut und so viel Geisteskraft, da&
61538; sie nur sehr selten aufgebracht werden kann und da&
61538; wir selbst sie nur selten aufbringen; der lesende Mensch ist wie der fleischfressende auf die widerwärtigste Weise gefrä&
61538;ig und verdirbt sich wie der fleischfressende den Magen und die gesamte Gesundheit, den Kopf und die ganze geistige Existenz.

[...] Unser Zeitalter ist als Ganzes ja schon lange Zeit nicht mehr auszuhalten, sagte er, nur da, wo wir das Fragment sehen, ist es uns erträglich.





N. do T.: cf., neste site: "Thomas Bernhard no país das maravilhas".
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