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Artigos-->BAIÃO, XAXADO, XOTE: sustentados por um sopro divino -- 26/12/2000 - 17:54 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
BAIÃO, XAXADO, XOTE:

sustentados por um sopro divino





A primeira vez que vi Gilberto Gil num palco foi em Assis, início dos 70. Ele, recém-retornado do exílio londrino. Nós, os universitários de então, recém-saídos dos acontecimentos de 68 e mergulhados no negror daqueles tempos de AI-5, vivíamos um grande acontecimento cultural: o "Circuito Universitário".

Ele nos proporcionou não só ver atuar os maiores nomes da MPB, como a oportunidade de privar com eles.

Tive o privilégio de, por exemplo, acompanhar o grande Luiz Gonzaga pela faculdade. O grande Rei do Baião me pediu que não anunciasse quem era. Queria saber se as pessoas ali ainda o conheciam.

Foi assim que vivemos também - entre nós Cida Campiollo, que mais tarde haveria de se revelar a atriz e cantora Cida Moreira - uma noite inteira sentados no chão de uma república, a ouvir os violões e as vozes de Macalé e Gilberto Gil

Vimos passar pelo palco e pela nossa vida: Vinícius de Moraes & Toquinho, Paulinho da Viola & Elton Medeiros, Chico Buarque & MPB 4 (sempre havendo o risco de o show ser interrompido por uma ordem da censura, vivíamos a iminência das piores catástrofes), entre outros.

Bom rever Gilberto Gil agora, no alto de seus 57 anos e de uma carreira irretocável de músico popular, e constatar que nele ainda pulsa aquela mesma energia contagiante, o mesmo ar de menino vasculhando as palavras em busca da melhor formulação, o mesmo imediato e caloroso poder de chegada junto a seu público.

Nos primeiros instantes, reinava no Ginásio do SESC uma certa indefinição por parte da platéia, parecendo não saber ainda que aquilo era um encontro forrozeiro, era para ser um arrasta-pé daqueles, festa popular, banho de energia para recarregar pilhas gastas pelos desmandos dos que usurpam das nossas raizes culturais e nos impingem um arremedo mercadológico da nossa rica cultura pop.

Mas ali estava o grande Gilberto Gil, inteiro, com sua linda homenagem ao Rei do Baião, quase didático na tentativa de espanar a memória da nossa música, nossa cultura popular.

Rodeado por duas vocalistas e um elenco estelar de músicos instrumentistas, entre eles o mito Arthurzinho Maia com seu baixo elétrico, e Carlos Malta, com o som "muderno" do seu pife, Gil desfiou uma verdadeira antologia do baião, lembrando que o forró já está aí não é de hoje, que a história não começou agora como podem pensar os desavisados, que "este país tem um ouvido musical que não é normal".

Da entrevista coletiva que o compositor/cantor/instrumentista concedeu pouco antes do espetáculo, pouca coisa se salva. Coletivas são ocasiões para jornalistas se sentirem importantes e próximos de alguém mais importante ainda do que eles, guerra de vaidades e poucas chances de se estabelecer um papo conseqüente. Estive ali por um mero acaso, uma deferência simpática da assessoria de imprensa do SESC. Ali reencontrei alguns amigos e pude retornar, feliz, àquele meu passado assisense, àquele momento difícil na vida do país, mas ainda capaz de gerar acontecimentos como o "Circuito Universitário".

Foi sobre a meia-pergunta que me foi dado formular (numa coletiva, cada qual tem espaço para meia pergunta apenas). Alguém queria saber dele o que achava do SESC e eu tentei relacionar o papel a entidade hoje desempenha com aquele desempenhado, na época, pela vida universitária. Sem o "Circuito Universitário", os nossos grandes nomes da MPB não teriam chegado aonde chegaram. Nele, o início dessa história que colocou a música popular brasileira nas paradas, nas novelas, nos grandes estádios, no estágio mega do qual, hoje, ela vai tendo de se desvencilhar.

Gilberto Gil detém ainda os seus inquestionáveis poderes, como arregimentar platéias entusiasmadas como a da semana passada no Ginásio do SESC. Ele soube intuir este momento, em que um show dessas proporções tem de ser necessariamente também alguma outra coisa, uma festa, um baile, um forró. E a música popular assim retorna a suas raízes.

A curiosa revelação de que, em toda a sua carreira, só tenha feito um baião me surpreendeu. Tamanha é a sua ligação com essa vertente inaugurada pelo gênio de Luiz Gonzaga, o nosso primeiro grande artista pop, que sempre o pensei como um artista do gênero.

Para descrever essa energia capaz de fazer vibrar um ginásio inteiro, só mesmo revolvendo o que há por "debaixo do chão da pista onde se dança", como diz a letra do baião. Mais adiante, a razão para que o milagre se reproduza sempre, mais uma vez, inegável como o dessa nossa noite araraquarense inesquecível com Gilberto Gil e seus músicos: "é como se Deus irradiasse uma forte energia, que sobe pelo chão e se transforma em ondas de baião, xaxado, xote [...] e quanta alegria!"

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