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Erotico-->AS AVENTURAS DO PADRE DEODORO EM CAMPOS ETÉREOS — XXX -- 16/08/2003 - 07:27 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Enquanto isso, os outros cinco, não tendo o que fazer, conversavam reservadamente com os trabalhadores do etéreo, procurando pôr-se a par do que se esperava realizar naquela noite.

Um dos milicianos certificava:

— Francisco nos passou as suas anotações, onde constam os serviços rotineiros e mais uma redação psicografada. Os serviços rotineiros, se vocês não sabem, se resumem em atender um ou dois irmãos através de cada médium em condições favoráveis de recepção dos fluidos e emanações dos sofredores. Como temos um elemento de alta periculosidade, esse Antônio Rodrigues...

Everaldo não concordou:

— Não vejo nele nenhuma ameaça para este grupo fortemente armado. Pelo que pude entender, Francisco, Eugênio e Tomé dariam conta sozinhos de controlá-lo. Mas há aqui pelo menos trinta irmãos envolvidos nesta sessão.

— Com vocês, quarenta e dois.

— Pois, então, como é que ele vai oferecer resistência?

O guardião não estava para muitas discussões:

— Tomara que ele se revele tal qual é! Aí, você vai ver como é que a porca torce o rabo. Mas eu dizia que vamos ter de começar pelo atendimento dessa figura ardilosa. Caso não logremos muita coisa, porque muitos espíritos não se ajustam às recomendações dos mestres, então teremos de levá-lo narcotizado para a colônia mais próxima, onde receberá tratamento ou será solto, conforme a deliberação dos dirigentes.

Hermógenes, somando dois com dois, chegou a quatro:

— Daria para você me explicar como é que um ser que você mesmo afirma ser de “alta periculosidade” consegue ser admitido numa colônia de atendimento e nós sete, que estamos merecendo a deferência de tanta atenção, temos de vagar pelo Umbral e pelo Orbe, com as solicitações de ingresso em alguma colônia sempre indeferidas?

— Se você mesmo, meu caro, não souber dar resposta a tão simples questão, qualquer informação que lhe eu desse teria o sabor da conjectura. Não é verdade?

— E que sabor é esse? — insistiu Hermógenes.

— Pode estar acontecendo que vocês estejam merecendo tratamento de superior categoria, desses especialmente organizados quando o objetivo dos mentores se sustenta em teses próprias, defesas de divulgação mas não impossíveis de interpretação.

— Creio que esse sabor não seja muito doce, mas também não é nem um pouquinho amargo. De qualquer modo, não me parece que estejamos sendo injustiçados.

— Com certeza, não estão. Pensam que não correu entre nós que vocês trazem alguns volumes de extraordinária confecção espiritual? Seja esse o indício mais forte de que tudo está sendo controlado pelos seus benfeitores. Comparem com o que fazemos neste modesto “Tugúrio do Divino Amor” e sintam-se recompensados.

As palavras não continham qualquer vestígio de azedume, mas repercutiram fundo no coração dos cinco.

Alfredo quis saber quando é que Arnaldo e ele iriam ser chamados ao auxílio das tarefas externas.

— Vocês poderão vir comigo: vou encaminhá-los ao setor de retaguarda. Só entrarão em atividade, se Rodrigues conseguir cavilar um meio de avisar os de sua laia. Aí, a lenha vai cantar. Caso contrário, pouco terão que fazer.

Nesse momento, Tomé mandou um recado mental aos demais, para que se apresentassem ao serviço de sustentação fluídica.

Antes de determinar a missão de cada um, efetuou demorada auscultação na mente dos três, recomendando que Hermógenes se concentrasse na misericórdia de Deus, procurando encontrar exemplos de ajuda inesperada a seres em grande perigo. Quanto a Roberto, pediu-lhe que orasse em favor do suicida, tentando influenciá-lo na aceitação da assistência médica de que estava psiquicamente necessitado. Everaldo recebeu fortes emanações vibratórias, tendo ficado bastante atordoado. Mas Tomé tranqüilizou-o:

— Quando começarem os trabalhos, dirija-se a um dos doutrinadores disponíveis para efetuar uma evocação aos benefícios do trabalho mediúnico, através da voz de um dos médiuns. Prepare a sua alocução.

— Posso mencionar a minha condição de sacerdote católico?

— O que você não puder dizer, será obstado na hora. Contudo, se estou oferecendo-lhe a oportunidade de falar algo pessoal é que fui capaz de definir-lhe a capacidade, a honestidade e a boa vontade.

— Terá observado, também, que, se levado a bom termo o meu discurso, irei adquirir maior confiança em mim mesmo?

— Estava tão clara a minha intenção? Acredite que não pensei que você estivesse apto a percebê-la. Parabéns, querido amigo!

Deodoro também estava disponível para as instruções de Tomé:

— Monsenhor, escreva um texto rapidamente, cerca de trinta linhas. Corte todos os adjetivos e todos os advérbios que poderiam florear a linguagem. Fale a respeito de Jesus e de Kardec, mas não cite nenhum trecho de livro. Todavia, deixe claro que conhece a ciência espírita, através de seus olhos de sacerdote católico. Antes de transmitir, quero ler para administrar-lhe as variáveis mais condizentes com os recursos do médium. Mas não conte comigo durante a transmissão. Será Eugênio quem estará ao seu lado. E o amigo João, conforme me solicita insistentemente.

As duas primeiras pessoas a chegar eram um casal com a chave da porta principal. Foram entrando e dando um jeito nas cadeiras que estavam em forma de auditório, transformando a platéia num círculo para dentro do qual transportaram uma mesa, tábua a tábua, colocadas sobre cavaletes.

A esposa ia arrumando o ambiente e falando:

— Teremos umas doze pessoas, hoje. Em todo caso, sempre é bom deixar mais cadeiras, porque o Salgado pode reclamar.

— Deixa disso, mulher. Você sabe muito bem que nunca temos mais do que oito na psicofonia e dois ou três na vidência. E o Salgado nunca reclamou.

— É, mas ele manda retirar as cadeiras vazias ou vai ele mesmo juntando outras quando faltam.

— Acho melhor você ir passar um café.

— Só você é que toma antes da sessão. O Salgado já lhe pediu pra não beber nem fumar no dia da reunião. Mas você é cabeça dura. Fica com a sua cachacinha e, depois, não tem coragem de se oferecer nem pra ficar rezando sentado no fundo da sala. Vai lá na cozinha e manda ver no café. Você não sabe que a turma trabalha bastante pra conseguir o pó?

— Mas eu trago um pacote toda semana.

— Quando se lembra. E você não tem se lembrado muito.

O homem deu de ombros e saiu, indo para o interior do prédio, deixando algumas luzes acesas nos corredores.

Deodoro notou que a mulher não se agradava de o marido proceder daquele jeito, tanto que dizia mentalmente:

Quem estiver aqui, que perdoe o coitado do Jerê. Não deixem que ele faça como fazia na igreja, quando ajudava os padres. Aqui as coisas são diferentes. Se ele bebia o vinho e juntava água pra completar a garrafa, era porque os padres eram ricos. Agora, pelo menos, bebe só café. Eu sei que o prejuízo aqui é maior, mas o dinheiro que eu dou é pra cobrir as despesas com os gastos dele. Vocês estão vendo e sentindo que estou envergonhada, mas que posso fazer? Vou ter de agradecer até, porque ele vem comigo de boa vontade. Tem tanto marido que fica vendo televisão em casa, enquanto as mulheres vêm trabalhar. Aposto que elas ainda levam uma bronca danada, se não fazem alguma coisa direito. O marido da Etel até já veio ver se ela estava aqui. Disse que teve medo dum grupo de marginais, mas a verdade é que estava com ciúmes, tanto que ela ficou três semanas sem aparecer. O meu marido, não. Ele sabe que o trabalho é sério. Eu não sei se vocês vão buscar os fluídos dele para o reforço dos trabalhos, mas, se não vão, pelo menos sabem que ele não está pensando mal de ninguém. Quando ele dorme na cozinha, eu acho que está desdobrado, viajando aí com vocês. Eu vou pedir que passem uma raspança nele, porque está chupando um pouco demais. Mas ele é trabalhador. Se não fosse aquela dor nas costas, eu acho que ele estava dando um duro danado, porque é pedreiro de mão cheia. No ofício, não é meia-colher.

Deodoro, que começou muito interessado em desvendar os pensamentos da mulher, começou a aborrecer-se.

Desse tipo, conheci muitas que vinham parar no confessionário. Queriam o perdão dos maridos. Sempre desconfiei de que estavam mentindo, que os sujeitos não tinham as virtudes apregoadas nem eram tão comedidos nos vícios. Se me diziam que estavam desempregados, logo achava que era um modo de ficarem gazeteando vida afora, às custas dos sacrifícios das mulheres e dos filhos.

Voltou-se para João:

— Meu caro, essa mulher trabalha como médium?

— Sim.

— E ela não sabe que o plano da espiritualidade pode espiar o que faz o marido, sabendo exatamente qual é o sentido de sua atitude?

— Desconfia, mas pensa que ele é sincero, tanto que não há muita malícia na solicitação dela. O que se passa em seu íntimo, como ela nos disse, é mais vergonha do que outra coisa. De qualquer jeito, faz o que pode nas sessões e desenvolve um bom ritmo mediúnico, dando passividade e exprimindo as idéias e sentimentos do irmão desencarnado com muita propriedade. Você vai ver.

Nesse momento, chegava outro encarnado, muito mais ativo, parecendo responsável pelos acontecimentos no interior da casa de assistência espiritual. Foi logo procurando o escritório em que estavam os livros da instituição, passando a conferir uns papéis em que se registravam diversos dados acompanhados de cifras. Pegou uma caixa cheia de fichas, perpassando uma a uma, acompanhando com as folhas, acrescentando números, como se registrasse pagamentos de associados.

Deodoro queria ouvir-lhe os pensamentos, mas João observou:

— Não vale a pena, porque está preocupado apenas com os aspectos materiais da entidade.

— Mas isso pode revelar se existe ambição, se deseja lucro, se está atento para as contribuições segundo o poder econômico dos associados.

— Você está querendo cotejar com a sua atitude ao conferir as espórtulas e contribuições do tempo em que era pároco. Pois bem, vamos penetrar-lhe na intimidade dos pensamentos, apenas no que corresponder aos anseios em prol da casa. Certo?

— Mas se estou interessado, como você mencionou, em comparar com os meus próprios desejos daquela época, será muito elucidativo conhecer se um espírita participante da administração do centro está contabilizando créditos para si mesmo.

— Você faz referência ao fato de ele estar fazendo retiradas em dinheiro, desfalcando o centro, ou está interessado em avaliar se ele está preocupado em exercer influência sobre os guias da entidade, demonstrando sua lisura e oferecendo o acréscimo de cuidados em função de futuro resguardo de seu espírito, quando regressar ao plano da espiritualidade?

— A bem da verdade, gostaria de examinar o nível de honestidade com que exerce a gerência.

— Não seria mais conveniente que me perguntasse?

— Se for mais conveniente, diga-me.

— Temo que você seja descoberto, porque o sujeito é perito em reconhecer quando está recebendo a vibração do etéreo.

— Quer dizer que ele poderá saber que alguém o está vigiando de perto?

— Quer dizer que ele sabe quando alguém deseja testá-lo, atormentá-lo ou obsidiá-lo. Sabe também quando existem perturbadores ou quando se encontra no âmbito de vibração dos espíritos benfeitores e protetores. Quando não consegue definir as sensações mediúnicas, vai logo perguntando, durante a sessão, o que se passou naquele momento, obrigando o pessoal a fornecer as informações, as quais, é óbvio, têm de ser verdadeiras.

— Se não forem, você vai me dizer que ele consegue descobrir o engodo. Não é isso mesmo?

— Mas não tire a conclusão de que todos os administradores dos centros espíritas têm as suas faculdades igualmente desenvolvidas. Contudo, todos, sem exceção, confiam nos seus benfeitores e trabalham em harmonia com os programas dos grupos de assistência espiritual.

— O fato de você não me permitir aproximar-me dele significa, então, que você está exercendo o seu trabalho de protetor?

— Exatamente. E, se você ainda não percebeu, não se trata da pessoa dele, mas do papel que irá desempenhar logo mais, durante a reunião. Se tivéssemos acompanhado o seu dia, teríamos verificado que hoje se absteve de todos os hábitos menos salutares, ao contrário do outro, evitando, inclusive, os pensamentos menos edificantes, pondo todas as pessoas de seu relacionamento na posição de seres em desenvolvimento, solicitando continuamente aos do etéreo que esclarecessem os desvios de conduta de cada personagem que lhe pareceu não totalmente moralizado, requerendo, ainda, que os possíveis obsessores fossem trazidos para a reunião, possibilitando, através de seu trabalho de doutrinador, o apaziguamento dos furores, vamos dizer assim, que avassalam os que cultivam o ódio e a malquerença. Se fosse para benefício do progresso dele, nós iríamos escolher um espírito com determinadas características, para lhe propiciar a oportunidade da reflexão e da atuação evangélica correspondente. Mas este nosso amigo já se encontra provado suficientemente. Se você conhecesse a história de seus sessenta e cinco anos de vida, iria verificar quantas desgraças físicas e morais precisou vencer para manter a postura equilibrada a serviço dos sofredores.

— Seria possível esclarecer-me se existem grupos de protetores igualmente preocupados com outras pessoas da mesma forma honestas e sofridas, fora do círculo da doutrina espírita? Por exemplo, o Papa, que deve produzir uma administração universal, estará resguardado contra as sugestões maldosas dos seres menos perfeitos?

— Não espere de mim todas as respostas. Se você quer que lhe diga em tese, irá obrigar-me a um exercício inútil, dado que você tem melhores condições do que eu para a transferência do que lhe disse para outras circunstâncias, como você mencionou, “da mesma forma honestas e sofridas”. Contudo, no caso do Papa, somente indo lá observar para inferir a respeito do que se passa no Vaticano. Você sabe o que é aquele mundo?

— Terá você deslindado em minha aura que trabalhei lá com a função de assessorar nos assuntos específicos relacionados com a América do Sul?

— Não me preocupei, porque não estou afeito a tratar com pessoas que chegaram a ter tanta influência na carne. Você está sendo um permanente aguilhão a me causar as mais agradáveis surpresas.

— Permita-me uma correção. Fui professor e tenho o costume do ensino. Você empregou o termo “aguilhão” de forma imprópria. Pelo sentido da oração, cabia melhor “estímulo, incentivo”. “Aguilhão” também possui esse significado quando em sentido figurado. No entanto...

— Vejo que o irmão não está se sentindo totalmente senhor de seus reflexos mentais. A palavra incorreta foi “surpresas” que deveria ser trocada por “pesquisas, indagações, investigações, buscas”. Sabe a razão de seu titubeio? Eu explico. É que está começando a se ver envolto pela necessidade de executar a tarefa de redação que lhe foi passada. Penso que as pessoas que chegaram em primeiro lugar representam o alfa e o ômega das possibilidades de comportamento dentro do espectro das personalidades com exercício mediúnico dentre os que vão reunir-se hoje. Recomendo-lhe, pois, Monsenhor, que se concentre na redação. Estarei vigiando para que não seja estorvado.

— Deus lhe pague, meu amigo!

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