(Inspirado num fato real)
Meu Jesus, Nossa Senhora
Dai-me agora inspiração
P’ra contar uma história
De amor, ciúme e traição,
Passada nas caatingas...
O lugar – não digo não.
Era uma noite bonita
De sorte e laço de fita:
No terreiro bem batido
Brilhava a luz da candeia
No céu a “estrela guia”
Pois não tinha lua cheia
E a dança dos galantes
Tocava fogo na areia.
Dançava dama e galante
De levantar a poeira
O aboio do “Mateus”
Quebrava na capoeira
E o povo ria animado
Gostando da brincadeira.
O povo ria animado
Naquele divertimento
Os enfeites dos galantes
Pareciam encantamento.
Havia moça bonita
Promessa de casamento...
Havia moça bonita
- galega de “ôio azu”.
Era a noiva de João Pedro
Conhecido por Dudu
Que dançava no brinquedo
Na parte do urubu.
Era dona Marcelina
Galega dos finos traços
Por ela todos os moços
Jogavam todos os laços,
Teciam todas as fitas
Só pra cair nos seus braços.
Era uma noite bonita
De amor e laço de fita
“Ó meu boi faça uma vênia
para a mocinha mais bela”
e o boi rodopiava
fazia vênia p’ra ela
e os olhos de Marcelina
brilhavam que nem estrelas.
Os “óio” dela brilhava
Co’aquela corte bonita
Pegava os chifres do boi
Botava laço de fita
e o boi rodopiava,
Parava e fazia fita...
Era uma noite esplendor
De fita e laço de amor...
Até que o boi morreu;
Birico teve prisão:
“Morreu o meu boi bonito
Morreu o boi do sertão...”
Urubu entrou em cena
P’ra fazer sua função.
Urubu entrou em cena
Fez tudo com experiência
Sapateou no terreiro
Saindo com reverência
“Levanta, meu boi bonito”
cantavam com insistência.
“Levanta, meu boi bonito”
Cantava o mestre Coelho
E de repente parou...
Parou o menino e o velho
Enquanto um fio de sangue
Pintava o chão de vermelho...
Ai! Meu Deus, um caso assim
No mundo nunca se viu!
João Pedro morto de ódio
Do amigo que o traiu
Na sua vez e do boi
Puxou da faca e o feriu
Catirina numa praga
Levantou a armação:
Agenor era finado
Ferido no coração,
Era uma dez polegadas
Que vingara a traição.