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Contos-->Do canto da tua boca eu te vejo. -- 19/02/2004 - 15:04 (Gabriel Valmont) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Menina, agora que eu posso te ver de perto, eu quero te falar. Menina. Tu é tão nova, menina. Agora que estou saciado de sexo e amor, agora que não me resta nada além de puro êxtase e da solidão que me aborda após este gozo.

Quer fumar? Ha, claro que não, eu sei que você não fuma. Aliás, foi assim que nos conhecemos.

Você é uma dessas ratas de shoppings centers, que anda com as amigas pra lá e pra cá, procurando um novo namoradinho. Encontrando em todos os meninos um paquera, uma possível chance. Eu já não sou um rato. Sou um inseto qualquer que suga as energias das mais jovens, buscando sobrevivência.

Te encontrei lanchando com as amiguinhas, e vi uma delas fumando. Sim, a Catarina estava fumando, lembra? Eu cautelosamente me aproximei, medindo passo por passo, estrategicamente me sentando numa mesa ao teu lado. Quantas vezes olhei pra você? Em qual desses olhares você me percebeu? Não, não me lembro, menina. Mas me recordo intensamente de como você fixou teus olhos de criança nos meus. O inseto se levantou e pediu um isqueiro para a tua amiga fumante, mas era de você que eu estava atrás. O insteto pica a ratazana.

Mas foi bem depois que nos encontramos novamente, no cinema, assistindo o mesmo filme. Pois tu achas que foi pura coincidência, mas não foi. Assumo que te segui, comprei o mesmo ingresso do mesmo filme. Que filme foi? Encontros e Desencontros? Foi.

E foi você a primeira que demonstrou a pista. Você que colocou suavemente a tua mão em cima da minha, você que sorriu pra mim. E calculadamente fugiu das minhas tentativas de te abraçar. Você sempre foi mais esperta.

Sem que tuas amigas percebesse, você me entregou o telefone, e eu fiz mais, eu disse que te levaria pra casa, mas você teve medo. Teve medo que eu fosse um estuprador, um bandido, um sequestrador. Sempre mais esperta.

Te liguei no mesmo dia, foi você quem atendeu e me contou da tua vida. Dos planos de fazer uma faculdade que valesse à pena, teus antigos namorados, teus casos, tua família, enquanto tu desabafava eu sentia a vibração percorrer toda a linha telefônica e arrematar o meu peito. Você sempre foi tão esperta e eu tão bobo.

Marcamos o primeiro encontro numa sorveteria. O que os outros pensavam? Pai e filha? Rimos bastante naquele dia, menina. Você me olhava profundamente, depois sorria. Olhava. Sorria. Lambia teus lábios e olhava, sorria. Olhava, piscava, depois sorria. Eu, descontrolado.

Te levei até a minha casa onde concretizamos os nossos mais íntimos desejos. Te despi como um príncipe, tu era a minha princesa. Você deixou ser consumida, deitou na cama, se abrindo e sorrindo pra mim. Prendeu os cabelos, se enrolou entre os meus lençóis, e foi lá, ah, menina, foi lá que eu te tive pela primeira vez. Te puxava, você fugia como uma criança, te sugava, você deixava, se entregava, te beijava e você me beijava, sorrindo. Sempre sorrindo.

Este sorriso me mata.

Marcamos outros encontros. Você vinha pra minha casa. Falava pros teus pais que estava fazendo um trabalho de colégio, e era lá que trabalhávamos. Você corria por toda a casa, esperta, deixando o teu perfume em todos os cômodos. Foi difícil te tirar da cabeça. Abandonei parentes, amigos, trabalhos, livros, tudo. Abandonei tudo por você. Como deitar novamente naquela cama em que eu te tive nua, e não pensar em você. O perfume do teu shampoo no travesseiro, calcinhas tuas espalhadas pelo chão. Era a tua casa.

Para me provocar, às vezes levava uma amiga junto de ti, me apresentava como um professor particular de matemática, e nesses momentos eu não podia fazer nada, senão ficar quieto olhando pra ti. Como nos velhos tempos.

Como nos velhos tempos? Agora você não é mais minha, menina. Agora você quase não me liga, e quando sou eu que ligo você manda dizer que não está. Não sou tão bobo assim. Quase não aparece mais aqui em casa. Ando como um louco por todos os shoppings centers da cidade, encontro todas as tuas amigas mas nunca você. Assisto todas as seções de cinema procurando tua presença. E sempre volto pra casa cansado e desiludido. Não há velhos tempos.

E hoje você chega aqui, dessa vez não sorri mais. Me diz que chega, que não dá mais, que você arranjou outro. Um outro homem. Um outro pai pra te possuir, pra ter você grudada no corpo dele. Para cheirar teus cabelos, para derramar teus seios na cama, para te ver correndo por toda a casa, sentindo teu perfume, te chamando de minha, minha menina, minha garota, minha paixão.

Eu, um velho, ainda louco por ti, uma menina.

Digo tudo isso agora, porque sei que você nunca vai saber, que nunca vai ouvir. Ainda permanece dormindo ao meu lado, apenas nua, depois de horas de sexo. Fizemos sexo com pavor, com tremor, com loucura. Como se faz quando se sabe que é a última vez.

Oh, menina. Se tu fosses minha. Mas tu não é de ninguém. Corre pelo mundo, enlouquece velhos como eu, vive por aí, de shopping em shopping, de cinema em cinema, olhando intensamente pros outros, e sorrindo. Sempre.

Sempre sorrindo.
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