Acordou, de manhã, já com aquele gosto de ontem na boca, como se não tivesse dormido. Olhou ao redor, levantou-se e enquanto se dirigia para o banheiro, arrumava as coisas. Cadeiras, colheres,
pratos. Já estava habituada à quela vida, e nem disso tinha mais medo.
Antes, quando a indignação ainda a fazia temer o habito à situação instalada, costumava preocupar-se. Agora, não mais. Sabia que Joaquim já havia ido trabalhar. Sabia que teria que acordar Ricardo, o filho, para levá-lo à creche e que, de lá, teria que ir trabalhar. À noite, arrumaria o resto da bagunça, antes que Joaquim chegasse. Se ele estivesse sóbrio, a arrumação continuaria.
Caso contrario, teria que rearrumar tudo novamente no dia seguinte.
As vezes, pensava, em beber algo também, para amenizar o peso dos sonhos mortos, dos quais já havia desistido, mas ainda conseguia resistir. Não sabia até quando. Talvez enquanto houvessem estrelas no céu. Elas eram tão lindas. Mesmo longe, pareciam tão reais,
como se realmente existissem de verdade.
L.Lima
Escritora & Comentarista Literária
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