Sou a pessoa que mais se lembra de você. Quantas e quantas vezes no meio de um jantar no restaurante, ou de um jogo de futebol, meu pensamento foge daquele momento e vai buscá-lo. Sei de cor o número de seu telefone e de seu celular. Quando você por algum motivo trocou os números de telefone, não descansei enquanto não consegui, com alguns subterfúgios, os novos números. Ligo para você pelo menos duas vezes por semana. Na maioria das vezes, atende a empregada e vai verificar se você está em casa. Nessas ocasiões, claro, você nunca está.
Sei os lugares onde você costuma passar as férias. Antigamente, ah, tempo bom, você costumava passar o natal em Nova Iorque. Às vezes, nas férias escolares, dava um pulo na Disneilàndia com os filhos. Hoje, certamente devido ao aumento do dólar, suas férias são mais modestas, uma ou duas semanas em Maceió ou em Salvador. Conheço os lugares que você frequenta. Pelo menos duas vezes por semana você curte o "happy hour", cercado de amigos, numa conhecida choperia. Como você é um bom contador de anedotas e de casos picantes, nunca falta alguém atento ao seu redor. Algumas vezes, dando um boa desculpa à esposa, você dá uma escapada numa danceteria frequentada por belas meninas e, não raro, sai dali bem acompanhado.
Sei as horas em que você está de bom ou de mau humor. Em geral, você é uma pessoa alegre, descompromissada, gosta de falar alto e puxar conversa. Mas tem horas em que algo não dá certo ou em que um seu subordinado comete alguma falha e você nunca perdoa: franze a cara e com o olhar sério e jeito desbocado aplica uma tremenda surra verbal no coitado, que parece perder o ànimo de se levantar moralmente.
Quando você está doente, rezo para que melhore logo. Ninguém reza mais fervorosamente do que eu nessas ocasiões. Faço votos que você viva ainda por muito tempo. Ou pelo menos até pagar o que me deve.
Cordialmente,
Seu credor
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