Nunca havia pensado em me tornar um amestrador de cuchimbas. Mas estava desempregado e li numa revista que era uma profissão do futuro. A cuchimba é um animal originário da Oceania, tão arisco que alguém jamais o havia visto. Era contraparente do "ibiscus protozoarius", espécie extinta há milhões de anos. Um cientista inglês criou um projeto para multiplicar seu número a cada ano e espalhá-las pelo mundo todo. Questão de uns três ou quatro anos. Estimava-se - dizia a revista - que seriam necessários uns duzentos mil amestradores.
Tempos depois, soube que um organizador de cursinhos, aproveitando a onda, iria iniciar um curso de amestradores de cuchimbas. Nem me interessava saber pra que servia esse esquisito animal, queria é pegar o certificado do curso, garantir a empregabilidade.
A procura pelo curso foi grande. O professor se apresentou e iniciou com dinàmica de grupo. Falou que teríamos somente aulas teóricas, visto que não conseguira nenhum animal para os treinamentos. Em cada aula a gente simulava situações: numa delas, o pessoal se achava perdido numa ilha e tinha que se organizar, distribuir tarefas. Noutra, tinha de empreender uma discussão com os colegas, defendendo a importància de um fio de cabelo. Qual a utilidade dessas atividades? Preparar o aluno para enfrentar situações novas, diziam os professores.
Numa aula, perguntei ao professor se a cuchimba era animal de patas, de penas ou alguma coisa diferente. Respondeu que não me preocupasse com esses detalhes, que me ativesse à teoria geral das cuchimbas. Após o curso os alunos receberiam uma foto do bichinho.
Parece que a experiência do cientista não deu certo, as células do animal também eram ariscas, não queriam saber de multiplicação. Mas o curso valeu. Conheci duas alunas que nem lhes conto. E depois, um certificado sempre vale alguma coisa, não é mesmo?