O TERRORISTA
O sujeito escrevia na página literária de um jornal. Quando estava trabalhando uma idéia, costumava sair para caminhar com papel e caneta no bolso. Surgindo de repente uma frase ou imagem brilhante, parava e escrevia imediatamente, assim não corria o risco de esquecer.
Dia desses, quando isso aconteceu, achava-se defronte uma mansão. Apoiou o papel no muro e começou a rabiscar. O segurança olhou-o com desconfiança. Disfarçadamente, ligou o celular. Daí a pouco, assustou-se com o berreiro de sirenes. Um pelotão de policiais cercou-o na calçada.
- Parado aí, moço! Queremos ver as anotações. - e um policial avantajado segurou-o, evitando que procurasse engolir o papel suspeito.
Não teve outro jeito senão mostrar as garatujas, letra de médico. Iniciava com a frase: "o coração da moça explodiu em pedaços". Verdade que não era um trecho muito original, mas falar ou escrever sobre explosão atualmente já é caso de polícia. Além disso, sua aparência não ajudava, tinha o rosto moreno pelo sol das caminhadas e um vasto bigode negro.
- Eu sabia! Participante de atentado terrorista. Segura esse Mohamed, enquanto deciframos o resto da mensagem.
Por via de dúvidas, examinaram com cuidado a esferográfica, podia esconder um micro-detonador de explosivos. Mais adiante, no papel, havia transcrito um verso: "o poeta é um fingidor".
- Esse tal de poeta deve ser o cabeça do bando. Vamos levar o homem para interrogatório.
Não adiantou dizer que aquilo eram idéias para um texto, foi algemado e conduzido para a delegacia. Ali, cercado de policiais, debaixo de uma luz forte, confessou o nome do tal poeta: Fernando Pessoa.
- Agora espirra o endereço desse cafageste!
- Não sei. Só conheço suas poesias. Ele morava em Portugal.
- Portugal, hein? O caso está se complicando. Mandem mensagem ao FBI que acabamos de descobrir um compló internacional.
|