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cronicas-->Último adeus a uma irmãzinha amada -- 30/06/2002 - 18:45 (José Geraldo Barbosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era uma ave irrequieta. Alçava seus vóos, curtos ou longos, sempre com a finalidade de cumprir aquilo que julgava ser de sua obrigação. E era uma ave que possuía bico aguçado, garras afiadas e asas potentes, pois, tudo que lhe era determinado, fazia questão de realizar, nem que fosse à custa de muito sacrifício, muita luta.
Alçava vóos longos à cata de alimento e de conforto para sua ninhada, na busca do que fosse necessário para a sobrevivência de sua prole e de seus semelhantes e, às vezes, executava vóos rasantes, vertiginosos, atemorizantes, na defesa dos mesmos, ou em defesa de tudo aquilo cuja causa julgava de bom alvitre defender.
Há pouco tempo, realizou diversos vóos, ora longos, ora curtos, na defesa do que se constituiu em seu principal e mais recente ideal: a Escola Técnica Agrícola de Dracena.
Preparou as armas e organizou a linha defensiva que evitaria o fechamento de "sua" escola. Como sempre fazia ao se envolver na defesa de uma causa, usou determinação, firmeza, garra e agressividade, e não mediu esforços para conquistar a vitória. Que veio. Temporariamente, talvez, mas conquistou essa vitória que deveria ser saboreada por muito tempo, ou pelo menos até que o perigo de extinção fosse definitivamente debelado. Mas, o destino...
Foi convidada para ser madrinha de uma tia que, aos sessenta e quatro anos de idade, resolvera unir-se novamente em matrimónio. O acontecimento, no mínimo insólito, já que o noivo tinha oitenta anos de idade, dar-se-ia no sábado à noite, oito de julho próximo passado, numa cidade situada a aproximadamente quinhentos quilómetros de Dracena. Ao mesmo tempo, outro compromisso lhe era especial: teria que estar presente em "sua" escola no dia seguinte, domingo, nove de julho, por volta do meio-dia.
Não hesitou. Para aquela ave irrequieta e determinada, o que seria um simples vóo de mil quilómetros? Ainda mais sabendo que, na ida, atenderia ao convite da tia, que ficaria muito satisfeita com sua presença e, na volta, iniciada às quatro horas da manhã, poderia participar de um evento que "sua" escola estaria realizando e do qual ela jamais admitiria ficar ausente.
E foi. E tentou voltar. Tentou. Porque, quando faltavam vinte ou trinta minutos para chegar à sua querida Dracena, veio a batida violenta, com o carro indo de encontro à roda dianteira de um caminhão carregado de madeira.
E a avezinha irrequieta alçou seu último vóo. Tão violento quanto fatal, tão doloroso quanto sublime, tão longo quanto suave. E, em seu último vóo, a avezinha foi, aos poucos, tornando-se invisível aos olhos humanos, frustrados por não poderem vê-la aninhando-se nos braços de Deus que, com ciúmes de nós, a tomou só para Si.


Homenagem póstuma à minha irmã Carmelina Babrosa, a saudosa Nenê. Que Deus a tenha!
Dracena, 12 de julho de 1995
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