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cronicas-->O CAPITAL - O FILME -- 27/05/2002 - 21:48 (Lindolpho Cademartori) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Interessado em levar adiante minha inescrupulosa sabatina de esculhambações, perguntei a Carlos a respeito da escolha do cast. Respondeu-me, de súbito e sem hesitação: Jim Carrey, Steve Martin e Eddie Murphy. Mais uma vez, dobrei-me em gargalhadas. São todos comediantes! Arqueou Carlos a argumentação de que nada poderia ser "mais plausível" - o que era a História da Humanidade senão uma infinita sucessão de eventos tragicómicos? Dei, pois, o braço a torcer."



Ainda contorço-me em gargalhadas quando lembro-me de um amigo que sugeriu que O Capital, obra-máxima do teórico alemão Karl Marx, fosse, veja você, filmada. Ainda mais estapafúrdia foi sua cómica argumentação.
Surpreender-lhes-á o fato de que Carlos é versado em marxismo. Leu O Capital quatro vezes e elaborou respeitadas críticas e resenhas acerca da obra. Não raro, consulta-o - é seu "livro" de cabeceira. Não obstante, Carlos não integra facções de esquerda, centro ou tampouco de direita. É, como ele mesmo costuma definir-se, um descrente. Sabe lá Deus com o que.
Não foi numa mesa de bar, numa festa ou tampouco numa comemoração regada a álcool. Aconteceu na sala de aula. Disse-me Carlos que, por sua estrondosa capacidade de apontar os problemas e seu abissal desdém para com o intuito prático de resolvê-los, a obra de Marx era de fato um romance. Toda a "balela" acerca da mais-valia, do modo de produção do capital, da mercadoria e do dinheiro e as supostas soluções apontadas por Marx para ceifar as desigualdades são, para Carlos, delírios intelectuais.
Insistente que sou, pedi a Carlos que me explicasse a respeito do suposto roteiro de O Capital - O filme. Disse-me ele que se trataria de uma trilogia, tal qual é a obra de Marx dividida em três volumes. O primeiro abordaria a temática de como se produz o capital, mas - vejam só! -, na transposição do livro para a tela, o capital tornar-se-ia o conhecimento humano!
Pois bem: o primeiro longa-metragem da trilogia iria tratar sobre como se produz o conhecimento humano. Entretanto, Carlos, cínico e sarcástico que é, temperaria a fita retratando os desarranjos humanos no que concerne às burradas e reconhecimentos forçados de erros óbvios. Revelou-me, ainda, que iria encarregar-se pessoalmente da não muito nobre incumbência de encontrar erros crassos até mesmo dos filósofos da Grécia Antiga, passando pelos dogmas da policia* romana e pelos delírios da Europa medieval teocêntrica.
Carlos não se delongou muito em descrever-me o roteiro de O Capital - O filme. Disse-me que iria poupar a Idade Contemporànea, dado que, segundo ele, esta mais consertou as asneiras das eras anteriores do que de fato produziu conhecimento inédito. Trata-se, porém, da argumentação de Carlos. De maneira alguma compartilho de sua opinião, partindo, por óbvio, da idéia absurda de se filmar uma obra de literatura política.
Interessado em levar adiante minha inescrupulosa sabatina de esculhambações, perguntei a Carlos a respeito da escolha do cast. Respondeu-me, de súbito e sem hesitação: Jim Carrey, Steve Martin e Eddie Murphy. Mais uma vez, dobrei-me em gargalhadas. São todos comediantes! Arqueou Carlos a argumentação de que nada poderia ser "mais plausível" - o que era a História da Humanidade senão uma infinita sucessão de eventos tragicómicos? Dei, pois, o braço a torcer.
Ciente do fato de que Carlos não dispunha de muito tempo, não me fiz de rogado em ater-me logo às questões mais profundas e subjetivas de sua controvertida idéia. Perguntei-lhe a respeito da natureza humana, ao que ele me respondeu que se tratava exatamente do cerne de inviabilidade de toda a teoria marxista. Carlos discorda muito pouco acerca da doutrina materialista histórica. Em suma, não difere muito daqueles que se enquadram nos moldes da sensatez e admitem o fato de que a magna-falha de Marx foi exatamente propor soluções fantasiosas para a resolução dos problemas sociais de toda sorte.
A pauta, como já ficou claro, é a problemática que emperra a viabilidade da teoria marxista como um todo: a natureza humana. Jamais se alcançará o estado - enquanto situação - do comunismo pleno, dado que, para tal, far-se-ia imperativa a cessão de todo e qualquer progresso. Suponha-se, pois, que o raciocínio, a capacidade e as forças produtivas humanas atinjam determinado grau de desenvolvimento. No comunismo, as mesmas haveriam de dinamizarem-se em sincronização exata, de modo que, numa hipótese contrária, desnivelar-se-ia a organização social, e, por conseguinte, extinguir-se-ia a igualdade.
Grosso modo, tal é a argumentação de que Carlos lança mão para classificar a obra de Karl Marx como um romance digno de ser filmado (!). Por óbvio, ele não levou em conta todos os fatores e minúcias da teoria do genial alemão. Pautou sua vaga sugestão na superficialidade das análises. Quando por mim perguntado sobre o fato de se a suposta "experiência marxista", que parte do mundo experimentou no decorrer do século XX, seria ou não laureada com alguma "ponta" no filme, respondeu-me ele que não. "Por que?". Segundo ele, ao transcender da teoria para a prática o ideário marxista, o meio político deturpou-o tanto que o fez impossível de ser filmado da maneira com que Carlos pretendia pautar o roteiro, adaptando-o ao seu maniqueísta e tendencioso bel-prazer.
Esgotou-se o tempo e Carlos não chegou a explicar-me o roteiro do segundo e do terceiro filme da trilogia. Suscitou-me a curiosidade. Aguardo ansiosamente por vê-lo novamente e arrancar dele alguns esboços dos episódios seguintes. Vejo-me, não obstante, na obrigação de concordar com Carlos em alguns aspectos: sob uma ótica de análise completamente desvinculada da ciência política, dir-se-á que o ideário marxista como um todo - ou, quem sabe, em parte - é de fato uma ficção, no que concerne ao àmbito prático. Entretanto, não me compete tal análise de uma obra tão complexa. Não sou versado em marxismo. Tampouco tenho demasiado interesse em desnudar as idéias subentendidas do nobre alemão. Que se encarreguem de tal fardo Carlos e outros malucos fanáticos e anacrónicos. Manter-me-ei absorto em minha ignorància
Torço para que Carlos consiga captar recursos junto ao MEC para que possa filmar O Capital - o filme. Que saia uma porcaria, mas duvido muito que, em matéria de ruindade, supere melações como O Guarani ou O Que É Isso, Companheiro?. Vale a pena tentar. Se na Terra Brazilis ninguém se propuser a patrocinar a empreitada, que Carlos arrume as malas e se mande para Hollywood. Eles adoram filmar porcarias por lá. O Capital - o filme seria melhor do que muitas delas. Mas são só hipóteses. Devo continuar por aqui, a concluir meu enfadonho curso de Direito e a discordar de Marx em algumas pautas e a concordar em outras tantas. Só espero que, se conseguir filmar O Capital, Carlos arranje-me um assento na pré-estréia.

Lindolpho Cademartori

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