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cronicas-->A culpa é de Adam Smith -- 17/05/2002 - 13:23 (Lindolpho Cademartori) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A culpa é de Adam Smith

Por Lindolpho Cademartori


"Se não fosse toda essa balela de "laissez-fare, laissez passer, le monde va de lui-même.", talvez Laura fosse mais humana, consciente e se propusesse a conhecer mais a pessoa antes de procurar saber se foi a Mercedes-Benz ou a BMW quem fabricou o carro que ela dirige."


Conheci Laura há mais ou menos dois anos. É uma loirinha pra lá de bonitinha. Tem dezessete anos, é de classe média alta, vive em academias da moda e tem um corpo capaz de deixar qualquer homem com a respiração exaltada. Eu era apaixonado pela irmã dela. Conversa vai, conversa vem, ficamos amigos. E foi bom enquanto durou.
Foi Laura me conhecer e tudo desandou. Ela deve ter me achado feio, muito embora eu não acredite que o desastre tenha consumado-se só em virtude disso. Eu não tenho um BMW, um Mercedes ou um Jaguar. E isso conta muito. Nos conhecemos numa boate, e eu acho que o motivo pelo qual não acabamos ficando, por assim dizer, "mais amigos" ou até mesmo quem sabe...deixa pra lá, foi o fato de eu não ter uma chave tilintando no bolso da calça. É mesmo uma pena.
O tempo passou e não voltei a falar com Laura, mas não por desinteresse da minha parte. Eu bem que tentei. E muito. Mas, depois do dia fatídico na boate, Laura não quis mais conversa comigo. Telefonei para ela vezes a fio. Cheguei a ficar preocupado, pois, certa vez, liguei para ela às seis e meia da tarde e ela estava no banho. Tornei a ligar às nove e meia e ela continuava debaixo do chuveiro.
Eu não a esqueci. Tornei a vê-la esses dias no shopping e, num arroubo de autoconfiança, resolvi ir falar com ela. Me cumprimentou bem secamente, perguntou como eu estava e ficou nisso mesmo. Nem três beijinhos de despedida. Fiquei frustrado. Cheguei em casa e resolvi entrar na Internet. E não é que a loirinha estava lá?
Mandei pelo menos meia duzia de mensagens a ela, as quais ela nem se deu ao trabalho de responder. Fiquei com cara de bobo, é verdade. Mas tal fato suscitou-me uma idéia: por que Laura não quis mais conversa comigo? Ouvi falar que o namorado dela não é nenhum Brad Pitt e, bem, eu não sou nenhum Frankenstein. Resolvi perscrutar a gênese do problema e acabei descobrindo um culpado: Adam Smith.
É isso mesmo. A culpa é do pai do liberalismo económico. Lacónico que se julgava genial, Smith saiu a divulgar suas idéias liberais, pregando o Estado mínimo, a livre concorrência e o capitalismo selvagem sem intervenções. Deu, pois, vazão, espaço e propicialidade ao surgimento das sociedades de consumo que parecem não conhecer nenhum tipo de limite, tabu ou até mesmo ética. Munidas de tais prerrogativas inconscientes e veladas , surgem as Lauras da vida. Adolescentes cheias de hormónios que desconhecem as teorias de Adam Smith, mas que parecem seguirem-nas cega e determinadamente. Não estou mentindo. Acho que Laura não tem culpa. Ela é, como costuma conclamar a falange dos clichês, "só mais um `produto do meio´ ". Talvez o seja, talvez não. Falta espaço e propicialidade para tal análise.
Pobre Laura. Adam Smith fez mais uma vítima. Estou revoltado. A loirinha tem seu universo restrito ao shopping center, à escola de trezentos e cinquenta reais mensais e à academia onde turbina seus já generosos atributos físicos. É culpa dele sim. Dele, dos fisiocratas e dos outros babacas iluministas. Se não fosse toda essa balela de "laissez-fare, laissez passer, le monde va de lui-même.", talvez Laura fosse mais humana, consciente e se propusesse a conhecer mais a pessoa antes de procurar saber se foi a Mercedes-Benz ou a BMW quem fabricou o carro que ela dirige. E quem sabe também eu tivesse alguma chance com ela.
Mas, bem, eu sou - clichê de novo - uma agulha num palheiro. Não vou mudar nada sozinho. Entretanto, tal fato não priva-me do direito de me expressar. Às vezes, penso que talvez Keynes estivesse certo. Ou, para ser mais radical, chutar logo o balde de uma vez e hastear a bandeira marxista. Nao, eu não virei um comunista. Muito embora quisesse ter virado.
Penso em Laura e em Adam Smith. Creio que os dois dariam um belo casalzinho. Não sei, porém, se Laura iria gostar dele. Não pelo fato de ele não ser um cara bonito. É porque ainda não haviam inventado o automóvel.

Lindolpho Cademartori
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