Autor: Marcel Agarie
Data: 26/04/02
Crónica: "Um garçom diferente"
O garçom é a figura principal de um restaurante, de uma churrascaria, ou até mesmo de uma festa chique. São eles que nos servem, que fazem de tudo para não termos nenhum trabalho. Estão sempre preocupados em saber se queremos mais alguma coisa, um suco, um refrigerante ou uma cervejinha.
Infelizmente, não tenho ido muito aos restaurantes por causa da minha atual situação financeira, por isso não tenho visto muitos garçons. Mas na última sexta-feira, Deus me ajudou e eu consegui uns convites para uma churrascaria no portal do Morumbi (não é brinquedo não!). Como o convite era para duas pessoas, fui junto com minha namorada, a minha testemunha ocular do garçom exótico que vi por lá.
Como todo bom rodízio de carnes, os garçons passam nas mesas oferecendo as variedades da casa. Fraldinha na manteiga, picanha, filet mignon com bacon (esse aí era bom, repeti umas 4 vezes)... Dos garçons que nos atenderam, o primeiro era normal. Tinha o cabelo bem curto, quase careca, mas era totalmente atrapalhado. Trocava tudo. Colocou a soda diet para a mim e o suco de laranja para a minha namorada. Estava tudo errado, era ao contrário, mas tudo bem. Será que suco de laranja é só para as mulheres? Não sei, mas depois aconteceu de novo. Só que dessa vez minha namorada que pediu suco de laranja, mas ele serviu a mim. Vai entender? Além de todo atrapalhado, ele era do contra.
Os garçons iam nos servindo, quando apareceu um todo saltitante (este é o ator principal da minha história) que nos ofereceu arroz de carreteiro em um cumbuca do tamanho de uma panela de pressão. Minha namorada recusou o prato e eu fiz o mesmo. Ele então saiu saltitante. A princípio achei aquilo estranhíssimo e reparei que a minha namorada também achou. Além do caminhar do garçom, a cara dele também era engraçada, difícil para descrever com palavras. Como posso explicar? Ele tinha o rosto magro e comprido, os cabelos curtos e enrolados, falava pausadamente, com uns olhos arregalados e um sorriso bastante forçado, sorriso igual ao que fazemos quando não achamos graça de uma piada, mas fingimos para não perder o amigo. O mais legal era quando ele andava, parecia uma cerimónia de balé (que coisa de viado*!), pois ele vinha saltitando em uma mistura de ganso desengonçado correndo com um cisne engasgado, jogando primeiro a cabeça para frente, com o resto do corpo vindo no embalo. Será que deu para imaginar? Acho que não.
Não resisti e acabei comentando sobre o garçom saltitante com a minha namorada. Ela realmente havia observado a mesma coisa que eu. A cada hora que o garçom aparecia na saída da cozinha, já começávamos a dar risada. Não aguentávamos mais, estava ficando cómico. O pior era quando ele vinha servir a nossa mesa e precisávamos olhar para ele. Ele poderia até vir servir algo que queríamos, mas antes dele parar para perguntar se estávamos interessado, já fazíamos sinal de negativo para não termos que ficar muito tempo olhando para ele e cair na gargalhada. Mesmo assim, ele arrumava um jeito e aparecia por nossas costas, então tínhamos que segurar as gargalhadas e enfrentar aquela figura cara a cara. Quando ele ia embora não dava para aguentar, era risada na certa. Foi assim até a hora de irmos embora. No carro ainda ficamos imitando o seu andar, rindo até chegarmos em casa. Quem via, pensava que tínhamos acabado de voltar de um show de comédia.
Em casa, achei que ele tinha que ser imortalizado e transformado em formato texto, já que se tratava de um estilo ímpar de garçom. Espero apenas que o seu estilo não faça escola com os outros garçons de restaurantes da cidade, pois não conseguirei conter as risadas e comer ao mesmo tempo com uma legião de garçons saltitantes, oferecendo comida, andando como cisnes engasgados e oferecendo arroz de carreteiro na cumbuca.
- Garçom!! Garçom!! Por favor, traga-me a conta! Rápido!
* ve(i)ado - 1. mamífero cervídeo, muito veloz. 2. adjetivo utilizado para classificar pessoas... Bahh!! Vocês sabem!! Deixa eu parar por aqui, antes que acabem me processando.
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