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cronicas-->Comparando as Situações -- 26/04/2002 - 18:20 (Abilio Terra Junior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Comparando as Situações


Comparando as situações, até que não estava tão ruim assim. Já estivera pior. Perdera dinheiro em alguns negócios mal feitos, tivera um acidente com o carro, a namorada se fora... mas a vida continuava.
A sua inspiração nunca acabaria, pelo contrário. Sentia que a cada baque do destino, ressurgiam lá de dentro ondas e ondas que se transmutavam em letras, parágrafos, versos... Seria a sina poética?
Estivera no exterior, mais precisamente, em Nova York, e vira tanta gente diversa e dispersa, e se lembrara do filme "Blade Runner", de Ridley Scott, com aquela atmosfera de perda, a perda no caos, no infinito de prédios gigantescos, entre a gente de todas as raças e feitios, no andróide que busca a sua origem e mata o seu criador, e sucumbe ante a violência do homem, levando consigo os seus sentimentos e emoções, tão humanos.
Aquele andróide, uma criação perfeita, era uma metáfora do ser humano do nosso tempo, que já não se sente humano, perdeu sua essência, suas raízes, seus sentimentos, sente-se duro por dentro, um coração de pedra, uma alma amesquinhada. Em uma vida sem sentido, perdeu o contato com o seu Criador, e busca destruí-lo, substituindo-o por um outro deus, externo a si mesmo, construído em função das conveniências e dos apetites humanos, que responda ao anseio por riqueza, poder, glória, ambição. E não meça medidas para agradar e atender aos desejos dos seus filhos, tripudiando sobre outros, inclusive.
Gostava de cinema, daí essa sua lembrança. Woody Allen, o cineasta que construía todos os seus enredos girando em torno da grande metrópole, em um filme mais antigo, com Diane Keaton, se retrata como um desenxabido conquistador, que, ajudado por uma amiga, tenta sucessivas conquistas, que sempre resultam em fracassos. Em uma exposição, incentivado pela amiga, se aproxima de uma linda moça, que lhe faz uma descrição opressiva de um quadro que está a observar. Ele lhe pergunta o que vai fazer no sábado, ao que ela responde que vai se suicidar. Ao que ele retruca, em seguida: - E na sexta-feira? Acaba se envolvendo com a amiga, cujo marido é muito ocupado em seu trabalho. Depois se arrepende, ao pensar que provocaria uma separação. Mas, a essa altura, a própria amiga já está certa de que, na verdade, gosta mesmo é do seu marido. A cena final lembra "Casablanca", com a presença, inclusive de Humphrey Bogart em forma de uma figura espectral que é o seu conselheiro em assuntos amorosos, tendo em vista a sua vasta bagagem nessa área.
Sim, a sua situação estava bem melhor agora. Escrevia bem e bastante, e seus livros eram vendidos com facilidade. Participava, vez por outra, de noites de autógrafos, e iria à Bienal do livro, lançar o seu último romance, que já era procurado pelos seus leitores, que lhe enviavam cartas e e-mails, ansiosos. Tinha como tema preferido a sua cidade, os dramas e comédias do seu povo. Aquele povo sofrido, com quem tanto se identificava, e que não tinha como se expressar. Ele falava por aquela gente, com a sua incrível facilidade para assimilar as suas cenas de terror e de alegria, vertendo-as em descrições e comentários, que atraíam os seus sedentos leitores. Sentia-se bem no seu trabalho, que lhe trazia também prazer. Talvez aí estivesse o segredo do seu sucesso. Escrevia por prazer, não por obrigação. As palavras fluíam com facilidade e ele se empolgava com cada cena, com cada verso. Não possuía o poder de transformar em realidade o que escrevia, como já vira, certa vez, em um filme, mas sim, o de ser um intermediário eloquente e vivaz entre tudo o que via, sentia, assimilava, em suas caminhadas e leituras diárias, e os seus fiéis leitores. E assim se realizava, como escritor.


Abilio Terra Junior



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