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cronicas-->O Filhote de Sabiá -- 08/12/2001 - 11:03 (Marcel Agarie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O FILHOTE DE SABIÁ


Sabia que eu sabia, que o sabiá sabia assobiar. Isso com certeza todo mundo deve saber, mas o que ninguém sabe, é que quando um filhote de sabiá cai de seu ninho e não consegue mais voar, aparecem vários pais e mães adotivos para cuidar da pobre ave, que em uma tentativa de vóo, desmantelou-se pelo chão.

Aconteceu isso na empresa onde eu trabalho. Lá existe um jardim todo descuidado, onde encontra-se uma árvore alta, grande, cheia de vigor e com vários ninhos de pombas e pardais, ainda mais agora na primavera, época em que ela fica mais viva do que nunca, cheia de folhas verdinhas, verdinhas. Mas não me perguntem a espécie da árvore, porque eu nem sei distinguir um cravo de uma rosa, muito menos o tipo de uma árvore.

Na manhã de ontem, um filhotinho de sabiá caiu de seu ninho e um pequeno tumulto começou se formar no jardim. Percebi todos olhando e comentando e eu sem saber de nada, continuei trabalhando, pensando ser mais uma daquelas lagartas, tipo taturana, de cor preta com umas listrinhas verdes, que frequentemente caem das árvores nesta época do ano, causando sempre alguma história curiosa.

Certa vez, caiu uma dessas na cabeça de uma funcionária aqui da empresa. É difícil acreditar tamanha a sorte que ela teve. Acho que é mais fácil acharem o Bin Laden jogando bola no deserto do Afeganistão, do que cair uma lagarta em sua cabeça. No final de tudo, hoje ela vive traumatizada e sempre passa correndo por baixo da árvore. Também, não é por menos.

Voltando à história do sabiá que caiu do ninho... Não aguentei de curiosidade e assim como muitos, acabei indo ver o que estava acontecendo. Era um filhotinho bem pequeno, suas penas ainda estavam escassas e em seu peito ainda nem tinha aquelas penas laranjas, uma das suas principais características. Quando eu o vi, a minha primeira impressão era de uma codorna, pois era gordinha, de cor escura e não voava, só ficava pulando que nem canguru, e assim como o meu conhecimento pelas árvores, sou péssimo para distinguir uma espécie de ave de outra, pois para mim tudo é igual, apenas existem araras e papagaios e o resto é tudo pomba e pardal.

E como é normal em toda roda de curiosos, sempre aparecem os entendidos, os palpiteiros, os lógicos, os maldosos, os integrantes do GreenPeace, etc, etc.. Era aquela bagunça!! O palpiteiro falava para deixar o bichinho na moitinha do jardim, porque assim ele ficava protegido, mas os lógicos diziam que não podia deixar o filhote na moita, pois sua mamãe precisava ver o filhote para vir buscá-lo. Os entendidos, por sua vez, falavam que a mãe não viria buscar o coitado do filhote, pelo fato de ter sido rejeitado por ela e propositadamente lançado do ninho ao chão.

E eu, como não entendo porcaria nenhuma, fiquei só ouvindo. Nem sei quem estava mais confuso, se era eu ou o filhote de "pardal". Pobre filhote. Cada hora estava na mão de alguém, passando de mão e mão. Todo mundo queria mexer e pegar o filhote. Sem contar que sempre apareciam os maldosos falando para matar o bichinho indefeso. Alguns mais trágicos, falavam que não podia ficar toda hora pegando o filhote na mão, que assim ele morreria. Se contarmos por quantas mãos ele passou, acho que ele deve ter pelo menos umas 7 vidas, mas aí não seria mais filhote de "arara", seria filhote de "gato". Nossa, que confusão!!!

No final das contas, acabaram deixando o filhote de "pombo" livre pelo jardim, onde ele ficava pulando de um lado para o outro, sem rumo, até a hora que um sabiá maior apareceu. Com um jeitão de mãe, começou a descer até o jardim com comida no bico e alimentá-lo. Todos ficaram em silêncio, paralisados, observando aquela cena, típica de abertura de programa sobre a vida animal, daqueles que passam na TV Cultura. Mas como aqui não é nenhum habitat natural de aves, o movimento das pessoas fez com que o "sabiázão" (ou "sabiazona", não sei identificar) se assustasse e não voltasse mais. Na falta de uma mãe para trazer comida, acabei virando um sabiá oriental e misturei um pouco de bolacha salgada com água para tentar alimentá-lo. Como eu não fui um bom sabiá (parecia mais uma galinha d´angola), a comida que preparei foi rejeitado pelo filhotinho, que com certeza estranhou um sabiá japonês e por isso acabou não colaborando.

A noite vinha chegando e como ninguém sabia o que fazer com o filhote, outras pessoas começaram a dar suas sugestões. Alguns se ofereceram para levar o filhote e tratá-los em gaiolas, porém apareceram pessoas idealizadas, tipos GreenPeace, que não gostaram da idéia do filhotinho viver em cativeiro coisa e tal. Resolveram então deixá-lo no jardim pela noite, mas lembraram que vive um gato preto pela região e se o filhotinho ficasse por aqui, iria virar banquete vivo do felino.

Quase no início da noite, ainda claro graças ao horário de verão, apareceu mais um filhote, ou seja, dois filhotes de "sabiás codornas". Comecei a achar que estava maluco e a desconfiar que não era nem sabiá, nem codorna e sim um coelho que fugiu de alguma cartola de mágico, fazendo todo mundo de bobo. E agora? O problema havia se multiplicado e a cada hora passada as soluções iam diminuindo.

Como não entendo nada de árvore, nada de lagarta, nem de passarinho, muito menos de coelho mágico, acabei tentando esquecer o acontecimento e fui para casa tranquilo, sem pensar como iriam sobreviver aqueles dois filhotinhos de "papagaio".

Na manhã seguinte, acordei com o canto de um bem-te-vi, que sempre ouço cantar, mas nunca o vi pessoalmente, provando que não sei nada mesmo sobre aves. Segui rumo ao trabalho e os filhotinhos já não faziam mais parte dos meus pensamentos. Porém, chegando na empresa, foi inevitável não pensar ou comentar. Soube que os filhotes estavam bem e mesmo sem ter me apegado à eles, me senti muito feliz. Os comentários eram que, um dos filhotes foi levado pelo motorista da empresa para ser cuidado em sua casa, enquanto o outro, com seu instinto animal, aprendeu a voar e se foi, deixando um vazio no pequeno jardim.

Escrevendo este texto, senti saudades dos pequenos filhotes pulando que nem canguru, que sem querer, encheram a tarde da empresa de solidariedade e afeto. Isso foi muito bom e porque não divertido? Inclusive, este acontecimento aumentou a minha cultura, pois hoje tenho certeza que não confundo mais pardal com pomba e muito menos codorna com sabiá.
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