Há mulheres que são bonitas de qualquer jeito. Não importam os acessórios. Ficam bonitas com qualquer coisa. Nem precisariam de roupas. E não vai aí nenhum tempero malicioso.
É assim com a Carla, que trabalha comigo. Ultimamente, ela anda cada vez mais bonita. Deve ser alguma paixão. Mulheres apaixonadas tornam-se mais belas até aos olhos de quem nada tem a ver com isso.
Hoje, por exemplo, ela está com as unhas das mãos pintadas. Ao passar por sua mesa, notei. Não resisti e elogiei. Ela falava ao telefone. Só póde sorrir como resposta. Depois, perguntou, mostrando as mãos: você acha que ficou bonito? E eu respondi: em você, tudo fica bonito.
Pode parecer galanteio, mas não é. Enalteci humildemente a beleza de uma mulher. Acostumados à rotina do trabalho, à s vezes esquecemos desses pequenos cumprimentos. Eles fazem bem para a pele, fazem bem para a alma. De quebra, colaboram com o ambiente. Porque a mulher bonita, quando elogiada, fica mais bonita e embeleza tudo o que está à sua volta. Até as paredes sorriem.
A graça do elogio é muito maior se a mulher for desse tipo de beleza espontànea, excluída dos manuais de elenco ou das agências de adolescentes. A Carla nem precisaria das unhas pintadas. Mas foi o colorido nas pontas dos dedos que chamou a minha atenção.
Com certas mulheres, esses recursos de embelezamento funcionam ao contrário. São elas que embelezam aquilo que deveria embelezá-las. É como a moldura que ressalta com determinados quadros. O sorriso discreto dela depois do elogio fez o esmalte parecer mais bonito.
Amanhã, no calor das coisas de trabalho, quem sabe eu esqueça desses detalhes. Seria injusto. Por isso, deixo aqui o meu registro. É quase uma reportagem. Mais do que uma crónica, é um depoimento, uma declaração de um aprendiz.
Homem preocupado em entender os mistérios do feminino, reafirmo minhas certezas. Mulheres bonitas, ficam bonitas de qualquer jeito. Se estão apaixonadas, ficam mais belas ainda. Quando elogiadas, então, tornam-se encantadoras. Nem precisariam de roupas. Seu olhos as vestem de luz.
Maurício Cintrão |
