JANELAS DA ALMA
Maria José Limeira
Eu acho lindíssimas aquelas janelas abertas, onde
as pessoas estendem lençóis ou panos bordados.
Uns, são alvíssimos.
Outros, coloridos.
Mas, todos alegres, expressando o bom sentido da
vida comunitária.
Nas cidades grandes, em altos edifícios, as
pessoas estendem calcinhas e cuecas, nas janelas,
dando a impressão de que os apartamentos onde
vivem são exíguos demais para conter suas
intimidades.
É muito linda essa paisagem.
Janelas abertas dão encanto e tranquilidade à s
casas, como se anunciassem que ali a vida escorre
normalmente, em orçamentos apertados, contas a
pagar, dramas familiares e conflitos de gerações.
Gosto de ouvir os sons que as casas emitem.
Quando as janelas se fecham, as casas morrem.
Onde existe medo, vida não floresce.
Velhos que renunciam ao sexo, contam História.
Na cidade dos meus sonhos, memória dos vivos - e
não apenas dos mortos - será respeitada.
Monólogo é monotonia. Diálogo é drama.
Estou feliz até hoje por nunca ter colaborado com
as campanhas do Governo.
Quando eu quis abrir a boca para falar, o assunto
estava encerrado.
Milagre. Eu estava cega. Agora vejo.
O homem que não se deita em cima de mim,
certamente se deitará em baixo.
Meus inimigos não mudam. Eu também não.
Ficaremos, assim, eternamente insatisfeitos uns
com os outros.
Quando atendo telefone e uma voz pergunta por
mim, digo que não estou em casa.
Sentada à beira do rio, vi quando meu cadáver
passou boiando.
Paredes da casa são boas companhias. Não
contestam. Não ofendem. Não dizem malcriações.
O Homem só descobriu a luz quando abriu as
janelas da alma...
(Do livro "cronicas do amanhecer")
Maria José Limeira é escritora e doce jornalista
democrática de João Pessoa-PB
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