Deveras chato ficar de ouvido colado em conversas alheias. Dentre os "maus modos" sociais, esse, de fato, é um mau modo. Porém, percebi que não era eu quem ouvia, elas que falavam alto ao meu lado:
- Ai Gisele, ele me ligou, quer voltar!
- Eu não sei de nada Beth, tu quem sabe né - disse a outra, como que exigindo isenção e se eximindo de culpa por alguma atitude que a amiga porventura tomasse após ouvi-la.
Bem bonitinha a tal Beth, um tanto abatida pelo fim do relacionamento (soube agora desse fato). Gisele nem comento, típica mulher cheia de veneno, amargurada, ou como diziam antigamente, mal comida mesmo.
Gisele destila na amiga o veneno que assumiu dos homens nesses seus vinte e poucos anos (sic) de vida. Talvez ela não tenha conhecido a felicidade em nenhum relacionamento, talvez não esteja contente com a sua genética, já que ela, embora ostente um rosto belo, configure o que se costuma chamar de "gordinha" - retém no abdomen e nas coxas quantia notável de tecido adiposo. Beth está insegura, procura na amiga uma opinião, um conselho, um ombro numa hora difícil:
- Eu sou muito orgulhosa Beth, não voltaria - sentencia a "gordinha" enquanto sintoniza no rádio Milton Nascimento. Prá piorar, Marisa Monte também.
Só podia.
Beth não voltou com o namorado. Não reconheceu em seu peito o amor que ainda sentia. Ainda sente. Espanta as horas de solidão ouvindo Djavan com a amiga. Amor fica tão bonito em letra de música...
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