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cronicas-->TOMEI 3 LATAS DE CERVEJA Á TALAGADAS -- 14/11/2009 - 12:38 (thiago schneider herrera) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tomei 3 latas de cerveja á talagadas, estávamos atrasados pro desfile. 21 em ponto, disse quem nos convidou. Às 21 em ponto estávamos estacionando o carro. Isso quer dizer que as 21 em ponto não estávamos devidamente sentados em nossas devidas cadeiras. O telefone tocava insistentemente: tamo estacionando, tamo saindo do carro, tamo andando, tamo andando, ainda tamo andando, chegamos, aqui ó aqui ó, acenamos com a mão. Beijos rápidos, elas elogiaram também rapidamente a roupa umas das outras e entramos, sentamos. Uma jornalista da revista Caras, especialista em moda nos disse educadamente que estávamos sentados no lugar dela. Tinha absoluta certeza que com uma caneta na mão e uma folha em branco eu nunca conseguiria fazer seu trabalho. _Desculpe, dissemos, ou não, sei lá. Sentamos na fileira de trás. Do outro lado da passarela estavam as celebridades que se esforçavam pra caralho pra não parecer que eles tinham certeza absoluta que todos do nosso lado estavam olhando, admirando, babando por elas. Uma velha louca que estava sentada do meu lado, aos gritos perguntava pra mim: _Quem é aquela ali de vermelho? _É a Mariana Ximenes, dona. _Mas ela não é morena? _É a Mariana Ximenes, com X, atriz, dona. _Quem é aquele cara com o dedo no nariz? _É o Zeca Camargo, dona, _Quem é aquela árvore de natal ali óh? _É a Elke Maravilha, dona. _Quem é aquela sentado do lado daquele cara de terno preto? _É a Luana Piovani, e o de terno preto é o Raí, dona. _Óia, aquela ali parece a Fafá de Belém. _Aquela ali É a Fafá de Belém, dona. Uma hora disse, _Minha senhora, quem trabalha na Caras é aquela mulher ali, ela deve ter todas as respostas de todas suas perguntas, de todos seus anseios, dona, apontei o dedo pra jornalista simpática que tem o trabalho mais difícil do planeta, mas mesmo assim ainda consegue ser feliz e sorrir as vezes. Bom, só por curiosidade alheia ainda estavam lá o Edgar da MTV que não está mais na MTV, Mariana Weickert, Sorín, Samuel Rosa, Andreas Kisser, e por ai vai, ou ia, bom, já foi. Não preciso nem comentar a diferença abissal entre Luana Piovani e Mariana Ximenes (com X, atriz), mas vou. Enquanto uma mastigava chiclete de boca aberta, falava alto, queria chamar atenção, coçava o sovaco, comentava fazendo cara de merda todas as roupas, a outra calma, tranquila, sorrindo quando queria sorrir, séria quando queria, introspectiva sempre, olhar, movimento, roupa, tudo, absolutamente tudo impecavelmente elegante. O azar da Luana Piovani foi estar do lado dela e por isso destacar tanto sua vulgaridade. Eu amo a Mariana Ximenes com X.
A passarela era de madeira escura com degraus e várias pombas brancas de plásticos penduradas por linha de pesca, projetada por um arquiteto que mais parecia um estilista desses afetados que pipocava no lugar. Falava no celular sem parar, ria alto pra caralho, acenava com a sobrancelha pra alguns, comia de boca aberta, bebia água mineral com gás. Relevei porque era seu auge, sua conquista pessoal, era o orgulho do papai. De repente, música, alta. Acho que era uma coisa tipo Gonzaguinha mas com uma batida meio Black Eyed Pies. Um completo desastre. De repente seres estranhos começaram a andar na passarela. Um desfile de ossos, panos ocres, marrom, preto e aquela típica cara de merda. Pensei, só pode ser fome. Lindas caveiras maquiadas com um arzinho de ce qui se passe ici? Uma quase tropeçou submersa em seu blasé nada autêntico. Acho que a diferença entre a Gisele Bundchen e essas modelos é que a Gi (sic) não parece que antes de entrar na passarela bateu na avó com um cabo de vassoura ou deu um certeiro pesco tapa no sobrinho recém nascido. Acabou o desfile, escutei a dona louca ao meu lado exclamar extasiada: um luxo. Sorri pra ela, acenando com a cabeça, e sai atrás de uma birita.
E da-lhe vinho. Avistei uísque. Aposentei o vinho. Já de cara, disfarçadamente coloquei uma nota de 20 no bolso do garçom e disse: _Fique pela redondeza chefia!. E não é que pela primeira vez na minha vida o garçom cumpriu com o combinado. Petiscos passavam, e eu passava direto por eles. Só procurava meu amigo, meu camarada, meu enfermeiro, o famoso Baixinho (nome fictício, a pedido do mesmo temendo futuras represálias por parte do chefe). Exatamente na hora que eu estava cutucando a orelha com a chave de casa fui filmado. Eu era a elegància em pessoa. Umas meninas (chamo de meninas porque não deviam ter mais que 15 anos) desfilavam todas serelepes pelo salão, chamando atenção, sorrindo, gesticulando, possuíam na face aquele ar de quem não tem absolutamente nenhuma preocupação. Contas, crediário, IPVA, boletos bancários? Nem sabem o que isso significa. A única coisa que elas fazem é andar por ai todas serelepes pelos salões de qualquer lugar. Elas devem dormir em salões pra já ao acordar andar serelepe por eles. Seus nascimentos foram em salões. Seus cabelos, fio a fio devidamente tratado, hidratado e no devido lugar, maquiagem precisa, unhas impecáveis, pernas longas e finas, exalando um aroma inebriante, e nesse momento a càmera pela segunda vez me pegou desprevenido. Uma fanfarra de velhinhos entrou mandando brasa músicas de banda de fanfarra, mas essa nesse caso não tinha uma menina dando pirueta na frente. Tiveram que todos sentarem porque a idade avançada o impediram de ficarem andando pelo recinto. Tocaram sentados com a Fafá de Belém ao lado chorando de emoção. O porque de ela estar de bengala você só saberá se ler a coluna da jornalista simpática da Caras. Eu não faço a mínima idéia. Fui no banheiro umas 3 vezes e o que se ouvia era uma sinfonia de fungadas profundas provenientes de narizes abarrotados de cocaína. Passei ao lado dos caras e escutei: _Ai você com uísque na mão, já ta bem louco hein, vai um ai, vai te ajudar a ficar em pé. Respondi: _Ai você com essa merda na mão, já ta xarope hein, hoje não! E a fanfara fazendo as pessoas fanfarrear.
A sala VIP ficava a esquerda do salão. Pessoas entravam e saiam de lá pra mostrar pra quem estava de fora que elas podiam entrar e sair de lá quando bem entendesse. Acho que era mais divertido fazer isso e se sentir superior a nós do salão do que ficar la dentro. Pensei, vou tentar entrar nessa merda. Cheguei na porta. Os 2 seguranças que abriam e fechavam dependendo unicamente da sua cara, sua roupa, seu estilo, seu sobrenome, olharam pra mim com uma cara de pena que cheguei a ficar até com pena de mim mesmo. Não disseram nada e eu também não. Ficamos assim por longos 10 segundos, e não é que de repente, não mais que de repente as portas se abriram. Me senti na Porta da Esperança do Sílvio Santos, a porta se abrindo e mil possibilidades se construindo. Entrei. Paixão, glamour, sucesso, êxito, compreensão do universo, paz interior, amizade, honra, perspicácia, era tudo que não tinha ali. Talvez tenham sido barrados na Porta da Esperança. O que se via eram gargalhadas estridentes, olhares de medição, dedinho levantado ao beber um dry martini, perfume forte, doce, podre. Aquelas pessoas se amavam, se mereciam, se sentiam queridas e protegidas, satisfeitas e despreocupadas. Sai. Voltei ao meu simples salão fanfarreante.
Baixinho passou por mim mais umas 5 vezes. O uísque já descia como cascata em Foz do Iguaçu. Uma enxurrada de sensações, emoções e paz. Eu amava o mundo inteiro, eu queria ajudar os pobres, eu queria salvar o planeta, eu queria criar uma ONG para arrecadar fundos á proteção do Ornitorrinco albino, eu comecei a achar a Fafá de Belém muito gata. Fui até ela e disse que era seu fã numero um, beijei sua bochecha com amor e antes de sair sussurrei: _Te amo Fafá de Belém!
Entrei no primeiro táxi que estava a espera de alguém. Disse o nome da minha rua. No caminho o taxista não entendeu porque eu ria tanto. No fundo nem eu entendi. Talvez voltar ao meu mundo seria a coisa mais sensata a se fazer. Em casa, tomei uma lata de cerveja gelada que tinha na geladeira já que fazia um bom tempo que não degustava uma e dormi.
Quando acordei, de roupa e tudo meti a mão no meu bolso e pra meu espanto tinha um guardanapo escrito assim: ME LIGUE SEU PINGUÇO ROMÂNCITO, (11) 9867-xxxx, ASS: FAFÁ DE BELÉM. Fui tomar um banho, preparei um café bem forte e fui escrever. Sentia-me inspirado, mas não sabia bem o por que.

T.S.H.
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