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cronicas-->Dona Miloca e o Governador -- 07/03/2001 - 11:00 (Maurício Cintrão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje, triste pela morte de Mário Covas e acompanhando de longe o noticiário para não chorar, lembrei de Dona Miloca. Nunca soube o nome dela. Só conheci esse apelido exótico, acompanhado do respeitoso tratamento. Era uma pessoa humilde que encantava pela simplicidade. E fazia um dos melhores temperos de feijão que já provei.

Dona Miloca cuidava do apartamento em que morei, na Rua Jaguaribe, junto com o Marquim, meu irmão adotivo. Era um zero à esquerda como faxineira, mas tinha tanta simpatia que convivíamos com as suas "arrumações" com resignação. E nos deliciávamos com seus quitutes mineiros.

Um capítulo curioso de nossa história com ela voltou como em cinema.

Era abril de 1985. Morrera Tancredo Neves, depois da longa jornada de sofrimento no mesmo Incor do martírio de Covas. As emissoras de TV mostravam as homenagens com toda a pompa e circunstància. Muita gente acompanhava o féretro pelas ruas e dizia seu último adeus ao presidente eleito que não assumira.

Naquela manhã, Dona Miloca chegara triste. Soubera da morte no ónibus. Durante todos aqueles dias, sofrera junto com Tancredo, na mesma emoção que envolvia toda a sociedade naqueles dias. Dizia que era como se alguém da família tivesse "passado".

Ela faxinava pela casa, aparentemente desligada, enquanto assistíamos às transmissões do acompanhamento do cortejo pela TV. Vez por outra exclamava "coitadinho!", e seguia suas tarefas acabrunhada. Em determinado momento, porém, Dona Miloca parou o que fazia para assistir a cobertura do evento.

Não falava nada, só via, emocionada. De repente, perfilou-se e bateu continência.

Lembrando disso agora, de longe, fico emocionado. Na hora, sorrimos sem jeito. Porque a sinceridade de Dona Miloca quebrava qualquer expectativa. Era assim, imprevisível. Mas com aquele gesto inesperado rendia seu respeito ao homem cuja morte milhares de nós chorávamos.

Tempos depois, Dona Miloca sumiu. Tentamos todos os contatos possíveis, através das outras casas onde ela trabalhava, mas não conseguimos saber o que aconteceu. Dois ou três meses depois, fomos informados que ela havia morrido sozinha, em seu quarto de fundos, dormindo. Choramos muito.

Hoje, triste pela morte de Covas, confesso que tive vontade de bater continência para a TV, em homenagem ao governador e com saudades da Dona Miloca. Mas eu sou covarde, então, escrevo.

Maurício Cintrão
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