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cronicas-->Cartas às estrelas -- 13/02/2001 - 12:01 (Maurício Cintrão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era menino e apaixonado por foguetes e estrelas. Tinha 12 anos quando Armstrong pisou na Lua. Portanto, durante toda a meninice, acompanhei o clima efervescente da corrida espacial. Daí, talvez, a paixão. Recortava tudo o que saía nas revistas da época sobre astronautas. Ia colando os recortes em um grande livro, daqueles usados antigamente para contabilidade das empresas. Herança de meu avó, eu acho. É dessa época, aliás, o sonho de virar piloto.

Um dia, cismei de escrever para os astronautas. Queria um adesivo, qualquer adesivo que fosse, desde que pudesse ostentar diante de meus amigos. Na maior ingenuidade, mandei uma carta em Português. Do lado de fora do envelope escrevi: "NASA, Cabo Kennedy, Flórida, EUA". Fui motivo de riso entre os irmãos. "Não vai chegar nunca", zombavam.

Meses se passaram e eu já havia esquecido da carta quando chegou em casa um envelopão amarelo, enorme, da Nasa. Responderam com um catálogo para compras por reembolso postal. Foi melhor do que se tivesse chegado o adesivo. Nunca comprei nada, mas exibi a correspondência a quem pudesse como um troféu. Era o único menino do Ipiranga com um catálogo enviado pela Nasa. Enviado exclusivamente para mim. Virei herói da turma.

Talvez por isso, mais tarde, tenha me transformado em um correspondente compulsivo. Participava de um conjunto musical composto pelos primos. Disputávamos festivais amadores de MPB pelo interior de São Paulo. A cada cidade nova, eu encontrava mais amigas para quem escrever. Adorava trocar cartas e achava o máximo que houvesse respostas.

Nessa época de músico, mais velho e menos ingênuo, eu olhava os céus com outros olhos. Não sonhava mais em ser um astronauta. Mas viajava pelas estrelas a bordo de outras paixões. O livro de recortes perdeu-se na cerimónia de passagem para a idade adulta. O catálogo nem sei onde foi parar. Mas lançava minhas cartas com precisão de Projeto Apollo e o mesmo amor que cultivei pelas coisas do espaço.

Com o tempo, porém, me afastei das cartas, dos foguetes e dos sonhos de piloto. Só não abandonei a Lua e as estrelas porque, com certas paixões, não se pode deixar de viajar pelo Universo. Mas o céu, então, estava mais longe. Entrei para o rol de seres humanos que olha para cima para lamentar da chuva que vem, do Sol que castiga inclemente ou do dia que amanhece quando a insónia comeu a noite.

Maurício Cintrão



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