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cronicas-->Diálogos - Parte I -- 29/01/2001 - 15:01 (Luís Augusto Marcelino) |
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- Gostou?
- São bonitas. Pagou quanto?
- Baratinho.
- Por que mesmo me mandou flores?
- Faz quinze anos, não lembra?
- Quinze?
- Talvez dezesseis...
- Quatorze, António.
- Sabe que não sou de gravar datas.
- Nem de mandar flores... O que houve?
- Nada em especial. Achei que ia gostar.
- Coloquei-as na água logo que as recebi. Estão na varanda.
- Essa varanda tem história...
- Como aquela em que você dormiu lá quando chegou bêbado no primeiro ano de casamento, lembra?
- Se lembro! De madrugada passei um frio danado.
- Podia ter ido pra cama.
- Não quis dar o braço a torcer.
- Até hoje você é assim... cabeça-dura.
- E você falastrona, desembestada.
- Por que não procurou outra mulher, então?
- Você sabe...
- Sei o quê?
- A gente briga, se ofende, discorda...
- Não vem que não tem. O Quinzinho vai colocar brinco sim, como os amigos da escola.
- De novo essa história de brinco... quer que o moleque fique parecendo uma dondoca?
- Tá vendo! Você sempre quer à sua maneira.
Silêncio.
- A gente discorda mas sempre acabo cedendo. Concorda?
- É... mas com alguma condição...
- Não é bem assim. No fundo, faço isso por outra coisa...
- O quê?
- É que... mesmo você sendo assim, ranzinza, implicante...
- O que é que tem?
- Acho que ainda gosto de você.
Bete não respondeu. Virou-se para o outro lado e apagou as luzes. Sorriu silenciosamente e sentiu o peito estufar de emoção. Silêncio.
- Querida?
- Fala!
- Amanhã os rapazes vão organizar um churrasco. Vai ter pelada e chope. Lá pelas cinco estou de volta.
- Ordinário...
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