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cronicas-->Memória Traiçoeira -- 05/12/2000 - 14:46 (Maurício Cintrão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não sei se por timidez, memória fraca ou idiotice, passado algum tempo, esqueço das pessoas, dos fatos e das coisas. É um traço de personalidade difícil de aceitar, eu sei. Lembro das personagens fundamentais de determinados momentos de minha vida. Dessas eu recordo os nomes, as feições e as situações vividas em conjunto. Mas do colega de três empregos atrás, do primo da ex-namorada ou do vizinho de praia eu não lembro. Não tem jeito.

Acho que é por isso que, ao sinal de algum rosto vagamente familiar, viro uma avestruz. Olho para o chão, bato em retirada, mudo de calçada ou finjo que não vejo. Morro de medo de ter que passar por aquela situação horrorosa do "oi, você, tudo bem?" com aquele sorriso de "ai, caramba, quem é você?". Mas, com isso, já perdi contato com muita gente boa. E lamento, porque a culpa foi minha.

Também não é para colocar nessa conta todas as vezes em que não cumprimentei alguém. Sou desligado e, muita vezes, não vejo as pessoas. Já vivi situações bem desagradáveis por causa disso. Outro dia, a Walkyria, secretária do presidente da empresa, tocou a buzina do carro, acenou, pulou, gritou e eu nem tchuns. Estávamos na mesma fila do trànsito e, segundo ela, durante um bom tempo, tentou chamar a minha atenção. Ainda bem que ela encarou o episódio, com bom humor e, depois, contou para mim. Por motivo semelhante, já houve quem tivesse ficado de mal para sempre, feito criança. Só fui descobrir depois.

Concordo que seja chato cumprimentar uma pessoa em local público e não ser reconhecido. Aconteceu comigo algumas vezes. Você fica se sentindo como se tivesse perdido a própria sombra. Aprendi a conviver com isso, entretanto. Como me conheço, sempre dou um desconto para as pessoas. Afinal, poderia ser eu a não responder o cumprimento e eu não posso ficar magoado comigo mesmo porque não me reconheci ou nem notei que passava ao meu lado. Assim, dou um bónus, um auto-bónus.

Duro é quando você insiste em cumprimentar uma pessoa que, sabe-se lá porque, não quer responder, mesmo. "Não, eu preciso vencer esse medo!", digo para mim mesmo e reafirmo o aceno ou o cumprimento, em alguns casos tornando a intenção mais evidente, até pelo nervosismo da situação. Às vezes, dá chabu.

Certa feita, cumprimentei uma ex-colega de trabalho em uma festa na casa de um amigo comum. Foi um clássico "oi, tudo bem?" e ela respondeu com um ruminante "estava até você chegar". Até hoje não sei o motivo, mas me senti um turista confundido com oficial nazista no aeroporto de Tel Aviv. Justo na fase em que eu mais me preocupava em superar a limitação de cumprimentar os outros! Eventos como esse são de demolir o cumprimentódromo.

O que salva o moral é a generosidade dos amigos e conhecidos que, conhecendo esse meu jeito idiota de ser, interceptam minha trajetória, me pegando pelo braço, fazendo escàndalos inomináveis para chamar minha atenção. Eles já vão dizendo lugar e nome logo de cara. Ah, benditos sejam aqueles que ainda respeitam a amnésia social de um pobre cronista que, de tanto lembrar coisas antigas, esqueceu de guardar as embalagens, colocando em seus potes de temperos apenas as sensações mais queridas das pessoas, das coisas e dos lugares.

Maurício Cintrão
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