Pechincha
Mal começou a função, ele já estava a postos, batendo fotos.
Era um mulato alto e musculoso, tipo cabo verde, com cara de índio, cabelos
desgrenhados.
Fiquei intimamente satisfeito, pois me pareceu fotógrafo de algum jornal,
cobrindo o acontecimento.
Afinal, depois de vários adiamentos, passados onze meses, estava lançando
meu livro de cronicas no vetusto ambiente da Associação Comercial da Bahia e
autografando exemplares para inúmeros amigos e ex-colegas que por lá apareceram.
Cedo, contudo, percebi-me de que o fotógrafo não trabalhava em jornal. Não
havia repórter no local. Ninguém me procurou para entrevista ou declarações.
Aquele sujeito, de alguma forma, tomara conhecimento do evento e fora tentar
a sorte.
Cada pessoa a quem eu abraçava, após a dedicatória, era devidamente
clicada por sua máquina.
Ele e eu, assoberbados pelo trabalho, ficamos ali, naquele imenso salão, por
quase três horas.
Dias depois, vários amigos que haviam adquirido fotografias, me disseram que
elas estavam excelentes. .
Ontem, afinal, o fotógrafo veio à minha casa oferecer-me cópias.
Escolhi umas doze, que comprei depois que ele concordou em reduzir o preço
de R$ 6,00 para R$ 5,00, ainda assim um tiro!
Enquanto discutíamos o negócio ele me perguntou se o livro que eu escrevera
era um romance.
Responda-lhe que não. Tratava-se de cronicas, reunidas sob o título de "De
coisas sérias e outras nem tanto", casos e lembranças de vida, tolices!
Ele então indagou por quanto o livro estava sendo vendido nas livrarias.
- Doze reais, disse-lhe.
Propós-me, então, uma pechincha: dar-me-ia três fotos, Ã minha escolha, que
valiam R$ 18,00, por um livro, autografado.
Eu que já tencionava oferecer-lhe um exemplar da obra, premiando seu
desvanecedor interesse, caprichei na dedicatória - ao "índio " , seu nome de guerra -
e terminei realizando uma vantajosa permuta!
05.02.96
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