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cronicas-->DE VOLTA AO COMEÇO -- 24/02/2005 - 11:40 (FAFÃO DE AZEVEDO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OBS: texto publicado na revista LEBLON 85 anos
Publicação da AMA-LEBLON - 2004



Zona Norte assumido, nascido num entroncamento que até hoje não sei se é Andaraí, Tijuca ou Vila Isabel, umas ruazinhas de apenas dois quarteirões com nomes que, na infància, me soavam por demais esquisitos - Ladislau Neto e Pontes Correia - só vinha ao Leblon vez por outra quando a família trazia para visitar meus tios e padrinhos Irene e Walter que moravam na Dias Ferreira.

Ao entrar no carro, já ficava feliz pois sabia que passaríamos pela ponte da estrada de ferro, onde o pai acelerava e a criançada sentia aquele friozinho na barriga, e também que a Nonna, avó paterna Maria Blois Lucci, uma italiana calada da qual só sei dizer que era enfermeira, estaria me esperando com um saco de bolas de gude das mais variadas cores.

Lembro que subia três lances de escada e que os primos, Roberto e Bárbara, sabiam contar uma porção de piadas de sacanagem, que era como a gente chamava qualquer anedota com palavrões.

Da praia não lembro quase. Só me lembro que, segundo os comentários, foi lá que o vírus da poliomielite me pegou uns anos antes da vacina ser descoberta pelo Sabin. Mas apesar de algumas sequelas, consegui sobreviver.

Em 1960 nossa turma toda foi parar em Brasília por força da transferência da Capital. Por lá eu fiquei a maior parte da minha vida... estudei, formei, casei, criei filhos, separei, trabalhei e aposentei.

Nas férias sempre vinha ao Rio mas ficava com a avó Rita numa casa de quintal lá da Zona Norte e quando vinha à praia saltava do ónibus na primeira parada de Copacabana. Eu não tinha mais ninguém no Leblon.

Tempo vai, tempo vem... meu pai, já viúvo e combalido pelo enfisema pulmonar veio passar o resto dos seus anos num espaçoso apartamento da Selva de Pedra.

Eu, sem compromissos e com os filhos criados, aparecia por aqui quando dava na telha e aproveitava para fazer minhas incursões pela vida boêmia do Rio de Janeiro.
Com o agravamento da doença em 1999, minha irmã e eu achamos que ele precisaria de uma pessoa que cuidasse da administração da casa, ele não podia mais morar sozinho.

De imediato lembrei de uma namorada que estava prestes a perder o emprego com a mudança do governo do Distrito Federal. Telefonei explicando a situação e ela topou.
Fui buscá-la e prometi que ficaria uns dias até a completa adaptação dos dois, depois viria visitá-los assiduamente.

Até hoje não sei bem o que me aconteceu, acho que foram os ventos do mar que sopram aqui pela nossa janela que me afetaram com um outro "vírus" causador de outro tipo de paralisia, dessa vez emocional... pois acabei me apaixonando e dei o adeus definitivo ao Planalto Central.

Dois anos depois nasceu nossa filhota, que ainda brincou com o vovó até aprender a andar e balbuciar algumas palavras.

Ele se foi nos deixando, além das saudades, a herança maravilhosa deste bairro.

Hoje, quando saio sozinho pelas ruas do nosso Leblon, ouço as pessoas perguntarem: "como vão as mulheres da sua vida?"

Respondo que vão bem. São elas Silvana e Cecília, esposa e filha caçula que habitam comigo o tal apartamento aqui da Selva de Pedra.
Com elas passeei pelo calçadão (Cecília ainda na barriga da mãe). Com elas conheci a criançada do Baixo Bebê. Com elas passei a frequentar festinhas de aniversários a convite de outras jovens mães. Com elas converso com as babás no parquinho e ouço as histórias das vovós da pracinha Milton Campos.

Os companheiros de boemia reclamam minha temporária ausência dos bares e das rodas de samba da Lapa e outros bairros. Eles que esperem mais um pouco. Um dia eu volto... por enquanto vou ficando aqui no Leblon, cantarolando os sábios versos de uma balada feita pelo meu amigo Ivan Sérgio de Almeida Santos, que diz o seguinte:

Mulheres, mães e namoradas,
Babás, titias, vovós...
No fundo somos apenas
O que elas fazem de nós.

Fafão de Azevedo
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