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cronicas-->Charretes na Cidade -- 03/10/2000 - 15:43 (Maurício Cintrão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na cidade grande, as pessoas têm mais pressa, menos paciência e um mau humor proporcional ao tamanho da metrópole. Curioso notar isso. Sou paulista da Capital, criado no meio dessa cultura trituradora de gente. Mesmo assim, estranho. Não é natural esse jeito de viver. Faz mal.

Outro dia, o Kiko, que trabalha comigo, contou sobre sua irritação com uma charrete que atrapalhava o trànsito. Tinha compromissos e não podia se atrasar. Confessa que reclamou e buzinou injuriado. Depois, lembrou de sua infància, na velha e boa Queluz, e ficou meio sem graça.

Quando criança, lembra ele, pegar carona nos carros de boi pelas estradas de terra era uma grande diversão. Quanto mais lentos, melhores. E aquele barulho característico ainda é música em muitas das suas memórias. Quem experimentou esse prazer sabe disso.

Também lembro dos carros de boi. Lembro, ainda, dos passeios de charrete nos tempos da infància. Seu Carlos, que era caseiro do sítio de meu pai, levava a gente a circular a reboque do cavalo pelas ruas de Guarulhos. Era um prazer seguir pelo mundo no ritmo cadenciado do trotar. Tempos distantes e bem mais lentos aqueles.

Não há como esconder. Como o Kiko, eu também me irritaria com uma charrete atrapalhando o trànsito, hoje. Só não sei se teria a mesma humildade em reconhecer que a irritação é uma enorme bobagem. Acho que é porque, diferente dele, não trago no coração a vida do interior, apenas lembranças de férias.

Essa é a grande diferença entre estar em São Paulo e sempre ter estado nesta cidade. Pessoas como eu têm mais dificuldade para compreender essas pequenas idiotices dos cidadãos metropolitanos. Faltam referências externas que permitam comparação. O interior, para mim, é remoto. A cidade grande é o porto único para todas as chegadas e partidas.

Espero, um dia, poder sentir o cheiro da fumaça de eucalipto queimado como residente do interior. Talvez, aí sim, eu possa compreender o verdadeiro sentido de ficar sem graça com a irritação diante de uma charrete no meio do trànsito. Por enquanto, só me resta aprender com quem já sabe.

Maurício Cintrão
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