Campo de esperanças
Virá o inverno novamente, tenho certeza. Assim é a natureza em seu cortejo cíclico. E trará-me, bondosa mãe, sempre atenta, a primavera. E virá a primavera com os bicos dos seios gotejando o maná que tanto anseio, uma revoada de cores, de esperanças, de promessas, de auto crenças. Mulheres se afunilarão em seus sabás e homens se deitarão em seus domingos de todos os santos. E a existência ainda perturbará meus sentidos. Principalmente quando eu procurar meus amigos e encontrar em suas têmporas um gosto de pão amanhecido nos fios práteos. Como teias de aranha. Nenhum mistério nisso. De mistério, o amor que quero ter. A aquecer-me as carnes, a insuflar-me vida, a fazer-me gravida novamente. De loas e gemidos. Longe todo o cinza. Longe toda a dor. Longe os sibilos. Apenas confiança. Riso. A mão do novo amado. Nas minhas, estremecidas. A força em minhas pernas, hoje de joelhos pela bocarra do século em que, casulo, me encerram e me encerro. Virá inverno em campos áureos. Filete de sol em reflexos de arco-íris. Em crisálidas minadas de esperanças. Certeiras. Pois assim tem que ser o ciclo. Da vida.
L.Lima
Escritora & Comentarista Literária
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