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cronicas-->Gozo de felicidade -- 20/07/2003 - 20:48 (Luciene Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Gozo de felicidade

Sonhei em fazer amor com a vida. Até que pudesse sentir que a felicidade estivesse ali, satisfeita, gozada ao extremo. Até que ela não importasse mais.
E fiz amor com vida. Do momento em que a manhã desenhou nossas sombras nas paredes até a tarde em que o aroma do tesão ficou pintado nelas, como uma obra de Van Gogh. Desesperada. Máxima.
E quando a noite desceu suas asas negras, toda eu era a vida. Todo ela era eu. E minha própria felicidade não importava mais. Ela já foi exercitada. E a vejo esvaziando-me, como quem vaza de càntaro imprestável.

Minha felicidade nasceu comigo, dormiu comigo, bebeu do mesmo leite que eu. E dei-lhe passagem. Como uma pedra que rola a si mesma para o outro lado quando a chuva pede licença sem verbalizar desejo, antes que a tempestade pudesse invernar-me os ossos roubando-me uma calmaria que eu já não possuía mais.

Minha felicidade era assim como o calor do grande tacho na casa de farinha, cozendo miserências e infelicidades, servindo-se de si mesma, nutrida em si somente enquanto eu tragava os cados de fruta-pão que me eram colocados à mesa. Olhos grandes. À espreita.

Quando eu fui para o banco da escola, minha felicidade estava comigo, como um anjo guardador de nada. Preguiçoso, lépido, lábios ridentes, olhos molhados, orgulhoso de ser anjo de outro. E minha felicidade comungava todo dia santo com minhas traquinagens endiabradas, escutando os códigos humanos, querendo fugir num estampido de liberdade.

Era assim, minha felicidade, feita de um material bruto, sem consciência de si. Servia, minha felicidade, para apaziguar o frio. Servia para amar o calor. Servia para viver. E era como um camponês grosseiro, feito de juta, de gravetos, de lama para casas de taipa, de barro para palácios.
E ela tinha as mãos calosas de ver boniteza e fealdade fodendo juntas sem uma dar conta da outra, tanto se amavam.
Quando eu fiz quinze anos, ela olhou de soslaio, assim como quem não quer nada. E chamou mais um parceiro. A liberdade. E fizemos um ménage-au-troix.
E foi ela quem aprendeu a lamber os corpos dos homens desejando eternizar os momentos em que deles meu corpo fazia parte. Puro bacanal num salseiro de libertinagem.

E deus bateu à porta. Ah, deus....que fogo intenso subindo por minhas pernas. Os puritanos que se fechem e que coloquem os olhos espreitos nas frestas, enrubescendo do pecado que estão vendo. Ele me disse, deus, posso cear convosco? Nós três, eu-a felicidade-e a liberdade, rimo-nos. E dissemos, num jogral dourado como dourados eram os olhos do deus-sol àquela hora sem tempo, sim senhor, ceia conosco. E ele nos abraçou sem preocupar-se com nenhum judas atrás dos dogmas que ficam emaranhados pelas frestas das portas católicas sem conseguir sentir calor isso que seja. Era sábado de aleluia, todo o espetáculo já havia finado.
E deus nos abraçou quando tomou o ultimo gole de água pura. Ah, o abraço de deus. Tão rude quanto minha felicidade. Tão sedente e fedorento quanto o aroma de minha felicidade. E deus andou consigo e com nós três, comigo-com a felicidade-e com a liberdade. Por isso, os campos de minha terra eram os mais bonitos. Ainda que eu vivesse entre a linha da morte e a linha da vida, sim senhor. Pois deus andou comigo, meus amigos! E tanto andou que não sei mais quem veio primeiro ou se os três eram apenas um...eu-minha felicidade-e minha liberdade. Que agora são eternas nesses meus olhos de humanos que um dia a terra há de sorver, cheia de graça, bendita entre todas as terras, não precisando de sonhos mais.


L.Lima, em ode
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