Película
Em sua rede, o homem se debate. Foi pêgo. Caçado. Abatido.
Vocês se lembram da primeira versão do filme "O planeta dos macacos"? Além
das variações interpretativas a que o filme nos dá o direito, ainda temos a
figura da rendição, da soberania elevada a seu equivalente. A merda humana a
que todos estamos reduzidos ao final das contas.
A vida, sim, ela é boa. Mas seu saldo, fora da discussão de ser bom ou ruim,
é a derrota. Abatidos. Caçados. Rendidos. Assim. Simples assim.
A vida te deu guarida, momentos de paixão, de êxtase, de vergonha e de
aprendizado. Depois te dá um ser para amar, com quem você pode sexuar
contribuindo para que ela, a vida, siga sua sina, a da continuidade. Sim, a
vida também tem um instinto de sobrevivência. E megalomaníaco.
E ela cumpre sua parte no acordo tácito. E direitinho. Não nos falha. É
fiel. Tira-nos das enrascadas. Coloca-nos um exercito de anjos e de
demónios para que deles façamos bom uso, ao bel prazer, quando nos aprouver.
Como u a mãe que amamenta de seu peito, com o leite quente, nos abriga e nos
conforta. Faz-nos sentir deuses quando necessário. Arrasta-nos para o
inferno ao mínimo disparate. Basta que magoemos algum outro a quem ela ama.
E o mesmo ela faz conosco, arrastando outros ao seol caso ele nos tiranize.
A vida é ciumenta. Caprichosa. Parcial, fecha os olhos para qualquer
melindre que a desagrade.
Ninguém deve nada a ninguém. Ela nos deu. Ela nos tira. E depois nos
acalenta em seu dorso de mãe desnaturada e esquecida de si mesma, embora
ciente de seus deveres. Concupisciencia conosco noite e dia.
Dizem que deus está por todos os lados. É ela. O fogo. Os lábios. A vida. E
a ela nos entregamos sem saber que é ela quem nos leva para a cama.
O tempo muda, se desdobra. A película agora é outra. Matrix? Sim, tudo está
se repetindo. O filme pode ser outro. O problema não é o filme. É o olho que
espreita do lado de cá.
Em sua rede, o homem se debate. Foi pêgo. Enganado. Caçado. Abatido.
Rendido.
L.Lima
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