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cronicas-->Dos períodos -- 05/06/2003 - 02:21 (Luciene Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dos períodos

É dia. Parece que estamos existindo agora.
Estou aqui. Você está aí. E nos procuramos. Em meio a esse caótico cenário de idéias, de quereres, de preferências, de credos, de legislações públicas e pessoais, quedamo-nos. É muito ruído para que possamos sustentar essa relação ambígua.

Sim, somos dois. Paralelos, bipartidos, multifacetados e naturalmente ignorantes um do outro. Mas sonhamo-nos. E sentimo-nos meio à noite da floresta em que nos perdemos. A única corda que nos segura, além da fé, é a certeza de que podemos nos encontrar. E sermos felizes para sempre. E, muitas vezes, até disso duvidamos. Afinal, somos frágeis. Abstrato e concretude.

Temos nossos sonhos. E alguns, sabemos, foram incutidos. Temos nossos ideais. E eles passam pela mesma trilha dos sonhos.
Levantamo-nos de manhã. Lidamos nossa faina durante o dia. Digladiamo-nos, embatemo-nos. Numa grade suspensa entre o nada e o vazio, dançando com pensamentos e ilusões. Atentos às vozes de outros que vivem como nós, no mesmo desespero de ser quem são. Assim como somos.

E quando vamos dormir, mais lembramos. O cheiro de casa. A saudade do aconchego do amado. E mergulhamos no palco que deveria ser de gloria. Mas nem sempre o é. Muitas vezes, a preocupação com os boletos bancários nos tira o sono. Mas dormimos. Entre o inferno da vida real e o paraíso da vida de verdade. E como Jacó, desafiamos anjos. E, no dia seguinte, olhos abertos, sem brilho, escondem nossa trajetória.

Num Domingo, paramos em frente a um espelho. Dois minutos apenas. Nem isso. E a carcaça está lá. Alquebrada. Envelhecida. Sensível aos desvelos da vida.

A criança chora. O adolescente ri. O vizinho pede açúcar. As horas continuam passando. E viver bem começa a ser uma questão de escolha.

Lá no fundo, na nascente do coração, repousa o amor do qual nos distanciamos. A alma, fiel adjutória, o guarda seguro, como um objeto sagrado. Fora do alcance de nossas mãos. Já não temos condições de beijar os pés desse amor. Tampouco ele consegue acarinhar-nos sob o risco de macular-nos.
Já somos autómatos. Faz tempo. E não foram as maquinas desse século. Não foram as imagens da violência solta nas ruas. Não foi a falta de valores coesos. Fomos nós. Por sermos quem somos.

As quatro estações continuam esmurrando as portas. As semanas correm velozes, numa ciranda de dias atrozes. Os doze meses continuam se substituindo. Os anos continuam em sua maratona. Sem tochas. E o relógio já não tem um riso satisfatório. As historias se sucedem. Dor já não dói como antes. Alegria já não faz cócegas no espírito. Apenas a vontade de ir embora. Para onde, nem cogitamos. Pois morrer não provoca mais medo. Se é que algum dia teve algum efeito que não o de afastar-nos de nossa ilusão de eternidade.

Restarão as obras mortas. Restarão os livros. Que servem apenas para transformar outros caminhos. Como rotas. Velas soltas num vendaval de gotas salgadas. Maremotos.
Eterna, apenas a vaidade que permeia nossos registros nos anais. Da história.

E o sistema nervoso clama ainda, quando a fogueira teima em seu último suspiro. E o túnel de luz fantasia um gozo indizível. E tudo é silêncio à volta. Distraídos do burburinho e das necessidades não satisfeitas, dormimos.
Essa foi a noite de nossa vida. Parece que acabamos de existir agora.

L.Lima
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