Usina de Letras
Usina de Letras
117 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62326 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22542)

Discursos (3239)

Ensaios - (10406)

Erótico (13576)

Frases (50707)

Humor (20051)

Infantil (5473)

Infanto Juvenil (4793)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140841)

Redação (3313)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6219)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->A cara de outubro -- 03/06/2003 - 02:07 (Luciene Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Amar é como pegar uma arma e declarar:
- Tome. Só você pode me machucar .
(Antonio Gala, escritor espanhol)

Abro as paginas de Koontz e sinto que já se prepara o inverno pelas bandas de cá. Ele sempre chega assim, impossibilitando o sol, atrasando recomeços, fazendo o vento cantar entre os ramos das arvores, misturando as cores nas caras das crianças, meio a ventanias ciclónicas.

Aqui o inverno sempre chega em Outubro.

Começa com o burburinho das pessoas que andam pelo aeroporto, em Janeiro. A essa época, ele ainda é verão e vem acomodado nas malas de Diogenes.

Ele, Diogenes, aporta. Eu o vejo do outro lado do vidro e aceno-lhe, nervosa. Ele anda em minha direção e toda a primavera se abre em seu sorriso. Ele me mostra o livro de Dean Koontz e eu lhe dou a caixa de chocolates. Então, jantamos juntos e todas as flores amadurecem nesse encontro.

Sinto-o presente. Sinto-me real. Então, de Janeiro a Junho, parece-me que todas as crianças sorriem, todas as mulheres dançam, todos os homens vestem capas marrons. As cores são vivas, cada qual única, como se as outras
não existissem.

Em Julho, vejo uma mancha nos olhos de Diogenes e quase não me dou conta do inverno batendo de leve na porta. É ele. Mas não me previno. Minha alma parece perceber alguma coisa. Mas é como se fugisse, temerosa. Se eu
conseguir aguçar meus sentidos, esquecendo que sou uma mulher apaixonada, posso até escutar um uivo de vento pelas frestas de minha felicidade. No entanto, não dou importància. E quando Setembro irrompe, já não percebo
tantos resquícios de Janeiro em minhas janelas.

É nesse momento que Outubro me abraça, sorvendo - daninho - o néctar que ainda restava, enfraquecendo-me ossos, pensamentos, razão, sugando-me sonhos, esperanças e ilusao.
Além das dores que se sucedem, numa fila de saudades, Outubro deixa-me apenas, e por graça, uma lembrança. A de Diogenes saindo por aquela porta, esmagando e confundindo todas as cores num funil de desgraças vindouras,
esmerilhando olhos em lágrimas que aquecem o solo frio de meu rosto sem risos.

E aqui tudo permanece gélido, insólito. Até que Janeiro comece de novo e eu perceba, pelo espelho em que miro-me afoita, que os traços de dor já fizeram covas na geografia deste corpo, impossibilitando-me de pensar novamente em alguma realidade com Diogenes.
Por isso o ano e até a vida, tem a cara de Outubro.


L.Lima
Para LC e sua ausência de prata)


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui